O PCP

O Partido Comunista está a ser obrigado a passar por um encontro complicado com a História, pois tem, pela primeira vez em 40 anos, a possibilidade de desempenhar um papel relevante na governação do país, para além do nível local ou da colocação de militantes seus em alguns lugares de destaque, em função de amizades e cumplicidades antigas.

Mas parece que, na ânsia de querer levar a coerência quase às últimas consequências e satisfazer os mais ortodoxos entre os ortodoxos das doutrinas leninistas, está a demorar demasiado tempo a compreender que há o essencial e o acessório.

E o essencial é não permitir uma solução de Direita ou Centro-Direita que aprofunde ainda mais as soluções que têm tornado o país quase defunto da cura para a doença que o tinha acometido, assim como em 2011 o essencial era terminar de vez com essa doença.

Sabendo-se que o Bloco de Esquerda está disponível para viabilizar o governo do PS mais inclinado para a canhota desde 1976, se o PCP não o fizer, estará objectivamente a impedir uma solução governativa inédita e pela qual afirma lutar desde esses tempos.

Se o PS no governo é de grande confiança? Nem por isso… demasiados compromissos de bastidores a cumprir, demasiados jogos de influência e de pressão, para não falar em medo e cobardia se lhes acenam com bichos-papões.

Pessoalmente, em matéria de Educação, tenho quase a certeza que o PS se prepara para fazer asneira da grossa, por falta de visão e coragem para inverter políticas erradas, que herda de um mandato que não sabe renegar. Mas isso não me faz esquecer que há coisas mais importantes neste momento, do que ficar agarrado a uma completa e intransigente pureza de ideias. Como em 2011.

Tal como derrubar Sócrates era o essencial há quatro anos, afastar Passos-Portas é agora o essencial, mesmo se temos sempre riscos associados a soluções de mal menor, que também não me agradam sobremaneira.

Mas manter o que está, com mais ou menos cosmética, mais ou menos encostanço à direita do PS, é falhar o tal encontro com a História, que servirá, mais que não seja, para fazer a prova decisiva sobre a bondade de uma solução governativa inédita entre nós.

Se no PCP ainda não se percebeu que a margem de crescimento está esgotada enquanto se apostar apenas na simpatia do camarada Jerónimo e na pretensa pureza ideológica (mas que admite alianças à direita como a de Loures em nome do pragmatismo) então é porque não entenderam as razões para a resistência do Bloco às dissidências e para o seu crescimento.

Se no PCP não souberem corresponder a este seu encontro com a História, ficarão nela como aqueles que não tiveram a coragem de ir além da sua zona de conforto local, da sua rede de clientelas autárquicas, receando elevar-se a um outro patamar de influência e colocar pelo menos parte da suas teses à prova.

Quanto aos medos expressos por gente como António Barreto em relação à entrada do PCP na área da decisão política nacional, são muito respeitáveis e eu próprio sei do que alguns dos seus homens de mão são capazes de fazer e da sujidade em que conseguem agir com o pretexto da fé, mas a verdade é que têm cara para levar uma boa bolachada como quaisquer outros. Politicamente, claro.

Quefazer

O Idiota

É aquele que está convencido que, por qualquer estranho e improvável acaso dos astros, tem um valor imenso e está predestinado para altos voos e acredita em todos aqueles que, aproveitando essa sua cega crença em si mesmo, lhe ecoa os anseios e tem capacidade para os multiplicar em canto de sereia.

O idiota, em ponto grande, é aquele que não aprende com o que fizeram a outros, dessa mesma forma, assegurando-lhe as primeiras páginas que já foram daqueles mesmos que ele acha estar em condições de substituir, por não terem cumprido cabalmente a missão que lhes estaria atribuída.

O idiota, em ponto muito grande, é um crítico que já foi conformista e que será conformista logo que lhe acendam a luz ou toquem a campainha para deixar de ser crítico ou lhe arranjem um lugarzinho ao sol quente.

O idiota, imenso, é aquele que não resiste a um convite que lhe garantem de prestígio e de serviço ao país, como se o país não resistisse sem a sua presença vácua em lugar de destaque.

O idiota de hoje chama-se assis mas já se chamou costa e talvez mesmo seguro. Até foi carrilho, vejam lá. Como no outro quadrante se foi chamando santana, mendes, menezes, até mesmo rio, o justiceiro adiado. Idiotas promovidos momento a momento, para depois serem defenestrados e compensados com prateleiras mediáticas, europeias ou misericordiosas, para ver se ficam aquietadinhos enquanto almejam a presidências virtuais.

O idiota de hoje teoriza em cima da cabeça de um alfinete feito com a erudição colhida em meia dúzia de livros comprados nas europas, com o estipendio dado a todos os que vão aforrar-se para Bruxelas e Estrasburgo, mas mantendo-se vereador no Porto, depois de rotunda derrota.

O idiota de hoje foi, anteontem, líder parlamentar quando o seu partido tinha “o líder que a Direita gostava de ter”, sendo que agora todos aqueles que detestavam o engenheiro adoram o idiota e ele nem percebe, naquela míope vaidade de quem ziguezagueia ao sabor dos empurrões, que não passa de uma utilidade passageira.

O idiota esteve em tantas ou mais fotos com o engenheiro quanto o costa. Apenas esteve foi mais tempo no retrato, para fazer pontes podres no Parlamento.

O idiota de hoje é “o líder que a Direita gostaria que o PS tivesse” e ele nem se importa, de tão ajuizado e responsável que é, enredado no seu labirinto de ambições e indo nos cantos dos que acusam costa de traidor, promovendo o idiota a traidor do momento, desculpem, a “crítico”, servindo de pau mandado para uma dissidência, desculpem, “alternativa, encomendada por Belém e servida no jornal de sábado para consumo das massas centrais.

O idiota é idiota, mas andará sempre à tona, porque tudo o que é balofo não submerge, mesmo quando é submarino.

O idiota tem muitos amigos enquanto se sentir bem no seu papel e servir os interesses dos que adoram idiotas.

Um idiota é um idiota e só conseguirá deixar de o ser quando o perceber. Uma quase completa impossibilidade, portanto.

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Inteligência

Já tinha percebido que a politologia e a futebologia têm muito em comum: imensa conversa fiada, muitas certezas e prognósticos sempre acertados depois dos acontecimentos. Para além de imensas figuras deprimentes como comentadores-analistas, como um assis ou um guerra.

Agora temos aquela comparação entre eleições e campeonatos ou jogos de futebol, para se dizer que dois ou três perdedores não fazem um vencedor.

Depende.

Porque isto de comparações da treta há para todos os gostos. Como comparar uma votação com jogos de uns contra outros.

Por exemplo, indo à Fórmula 1, em 1982 o campeão foi Keke Rosberg que só ganhou uma corrida, a antepenúltima, enquanto vários outros pilotos ganharam duas corridas (Pironi, mesmo sem correr várias devido a acidente, Prost, Lauda, Arnaux, Watson). E a Ferrari ganhou o campeonato de construtores com 3 vitórias, contra 4 da McLaren e da Renault (que fez 10 poles contra 3 dos meus vermelhos favoritos).

E é assim.

Podemos sempre escolher qualquer coisa para se parecer muito inteligente, mesmo que seja uma ideia de m ***@.

Calimero

Gramar Escolas

Depoimento completo para esta peça do JN sobre a tentativa de reintrodução das grammar schools em Inglaterra.

Discordo que uma escola pública – ou financiada com dinheiros públicos – faça esse tipo de selecção à entrada, em tal idade. Este tipo de prática poderá ser admissível em escolas privadas com projectos elitistas ou mesmo confessionais, mas não num sistema público que se pretenda universal e de acordo com os princípios da igualdade de oportunidades e da equidade de tratamento.

No caso português, se esses mecanismos se tornarem formais/legais, teremos o aumento da desigualdade de condições de funcionamento nas escolas públicas que já neste momento funcionam a 2 ou 3 velocidades, conforme foram intervencionadas pela Parque Escolar, receberam algumas obras de beneficiação ou foram esquecidas por completo, funcionando sem laboratórios ou mesmo um pavilhão para a prática da Educação Física.

No caso das escolas do 1º ciclo, a progressiva destruição de uma rede escolar com cobertura de proximidade criou situações de enorme discriminação entre os alunos que vivem junto da “sede” e aqueles que necessitam de fazer, em alguns casos, perto de uma hora para lá chegarem ou regressarem a casa. Sujeitar esse alunos ainda a uma espécie de despiste no 4º ano para decidir em que tipo de escola têm vaga é profundamente incorrecto e injusto.

Este tipo de estratagemas são geradores de situações de iniquidade que não são aceitáveis na rede pública de ensino e visam replicar os procedimentos de acesso reservado e elitista de algumas escolas privadas, porventura com o objectivo de serem “concorrenciais” no “mercado” dos rankings, mas a rede pública não se deve submeter, em nenhum caso, à lógica mercantil da iniciativa privada no sector. Deve elevar a qualidade do seu desempenho sem recorrer a esse tipo de estratégias que, em termos globais, apenas tornam o ensino público mais desigual, reduzindo a sua coesão.

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A Posse Efémera

Foram todos em lote de 50, que sai mais barato e é só para usar uma quinzena. Vai ser curioso ver como será compensado este sacrifício, em especial o dos neófitos que vão acrescentar uma linha ao currículo, mesmo que seja como investimento nas conexões e gratidão do pajem angélico. Porque isto nem vai chegar a um santanato.

efemera

Afasia?

Pode ser uma explicação – a par da miopia ou da falta de um vocabulário variado – para aquelas pessoas que escrevem frases inteiras com letras maiúsculas e muitos pontos de indignação e exclamação, para que percebamos bem, muito bem, que estão a falar a sério e que quando escrevem com minúsculas e pontuação singular estão apenas na brincadeira.

Obrigado, sem ajuda não seríamos capazes de vos perceber, nem às vossas ideias, nem vos levar a sério. Assim ficamos logo intimidados e nem somos capazes de levantar a crista – sorry, assunção – ao verbo e ficamo-nos pelas reticências.

Bayard

Coimbrão

A nova equipa do MEC parece – será por ser previsivelmente para 15 dias? – muito coimbrã e aparentemente com mais afinidades entre si do que média destas coisas cozinhadas entre lobbys..

O secretário para o Ensino Superior tem valor, desconhecendo eu no concreto os restantes.

No caso da administração escolar é óbvio que me arrepia um bocado o recrutamento no sector das consultorias e afins com ajustes directos e tal, apesar do passado de luta pela gestão democrática da Universidade. Este tipo de combinação – juventude toda progressista/meia idade convertida ao conforto liberal – não costuma trazer nada de bom para além de flouxartes e equesséis.

Já o coimbrão Fiolhais não aparenta convencimento.

torre univ coimbra

NEE

São os alunos mais frágeis, mais vulneráveis, os que merecem maior investimento nosso, em especial quando as famílias não têm os meios, financeiros ou de conhecimentos, para lhes proporcionar aquele apoio extra que implicam.

(claro que há aqueles a que as famílias não admitem problemas e ainda há os que ficam nas disputas legislativas sobre o estatuto)

Merecem que se olhe para eles com aquela especial dose de empatia que não se resume a testes ou formulários, a profissionalismos de papeleta, a preenchimentos sem alma.

Claro que este não é um trabalho para todos e isso nota-se muito quando ficam a cargo de gente com nee de necessidades emocionais especiais.

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