De acordo com uma série de criaturas falantes e teoricamente pensantes, há cerca de pelo menos 30-35% de eleitores que não interessam a ninguém, ou seja, todos aqueles que votaram Bloco, CDU e PS, na esperança que este partido trouxesse uma mudança ao governo do país e pudesse liderar uma solução política alternativa à existente.
Para eles, interessam mesmo é os 30-35% do núcleo duro da coligação governamental, que segue acriticamente a cartilha dos “credores”, dos “mercados” e do modelo único de governação que se pretende impor – qual “comunismo branco” de que falava um jovem Paulo Portas nas páginas do Independente – a partir de Berlim, Bruxelas e Estrasburgo.
Para alguns, a democracia só vale de acordo com as suas regras, que mudam a cada momento pré ou pós-eleitoral. E retorcem a representatividade democrática parlamentar à sua maneira. Os eleitores não elegem deputados mas primeiros-ministros. Querem, nos dias ímpares, círculos uninominais e proximidade entre eleitos e eleitores, mas nos dias pares dizem que em todos os círculos eleitorais se votou Costa ou Passos.
São intelectualmente desonestos e politicamente abjectos. Mesmo sendo pessoas muito importantes na nossa fogueira muito particular de vaidades, em que um marquesmendes faz de pitonisa generosamente avençada, sem que o confrontem com o seu desastroso passado como líder partidário ou o seu currículo de consistente aparelhismo desde o tempo em que quase ainda exibia cueiros.
Para esta camarilha, que rodeia a gamela com os cotovelos bem espetados, quem desalinha do seu “pensamento” é “radical” e “irresponsável”. Não sei mesmo se lá no fundo não pensarão que, estando fora do arco da governabilidade nas suas opções, a essa gente perigosa que faz escolhas “irresponsáveis” e representa um “perigo” para a “boa” sociedade não deveria ser recusado o direito de voto, pela sua notória inutilidade.

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