É a doença infantil do liberalismo.
Nos tempos actuais é a mimese do esquerdismo de há umas décadas, copiando-lhe a maioria dos tiques, menos a barba cerrada e o punho no ar, embora se aceite uma barbicha hipster, apesar dos laivos de 99%. Quanto ao punho, não é raro quererem-no nos queixos de quem escreva sobre eles numa perspectiva científica antropológica.
Como os esquerdistas de outrora – muitos dos quais seus ídolos actuais (hélas, espadas e afins) – têm muitas certezas, muita verborreia a tiracolo, muito dramatismo no verbo e são agressivos como todos os adolescentes em crescimento e desejosos por afirmar uma identidade forte, proporcional à superficialidade das convicções.
Lançam anátemas, adjectivam em profusão, atacam em matilha e só não se fraccionam sucessivamente enquanto os tempos são de feição. Acham-se muito rebeldes e anti-sistema, mesmo quando defendem um sistema. Até há os que se dizem libertários, claramente despercebendo o que isso quer dizer. Os mais cómicos reclamam-se “da escola austríaca”, o que nos deixa sempre aquele incómodo acerca de qual escola austríaca estão exactamente a falar, até porque adoptam uma simbologia que não desapontaria um certo nativo de Braunau am Inn.
Por cá, funcionam em regime endogâmico semi-aberto, predominantemente masculino e facilmente discernível pela permanência do arcaísmo no nom de plume, seja através da assinatura com três nomes, seja pela(s) copulativa(s), seja pela dupla consoante aqui e ali, seja ainda pela resistência dos das versões pré-acordo ortográfico do outro senhor.
Há os que são mais tradicionalistas, que mantêm alguma cortesia no trato com os adversários, que se vestem bem, com fato de bom corte e impecável camisa branca sob gravata sedosa, que fundamentam alguma coisa do que escrevem com mais do que sebentas lidas na faculdade e que, no geral, parecem conservadores à moda antiga, percebendo-se que já atingiram o estádio sapiens sapiens. Consegue conviver-se com eles com alguma facilidade, pois não desperdiçaram o essencial da esmerada educação que receberam. As fêmeas da sub-espécie sabem sentar-se em público como a ministra assunção.
E há os que são mais tropa de ataque – sturmtruppen em linguagem comum – que são mais miméticos dos esquerdistas, aos quais odeiam de forma figadal, mesmo se invejam com todas as gónadas as licenciosas fêmeas canhotas. Vestem-se de forma descontraída mas com griffe, rapam o cabelo, mas apenas porque querem parecer metro e sabem usar palavrões e linguagem forte para intimidar proletas sem pedigree genealógico como eu, apesar do meu patronímico ter sofrido uma lastimável e ancestral paragoge. Já passaram a fase erectus, mas ainda estão – mesmo que o não percebam – numa espécie de beco neandertal em termos de potencial craniano. Embora eu conheça pelo menos um caso de quase macrocefalia. Não gostam nada de ser tratados com o merecido desdém e agitam muito os membros quando provocados desta forma. As fêmeas da sub-espécie são muito parecidas com aquela senhora que não gosta de operários, o que explica aquilo que escrevi lá em cima sobre as gónadas.
Excelente!
Acrescento apenas que se nota um radicalismo no discurso da direita que, ele sim, se assemelha a quem sonha com um PREC em sentido inverso (o que não deixa de ter piada em muitos imberbes que de tal realidade apenas conhecem a caricatura ideológica que lhe impingiram).
De resto, não deixa de ser também curioso observar alguns comentadeiros sistémicos virem agora mostrar a sua preocupação pela bipolarização, pela erosão do centro e das suas “soluções”, quando, durante estes quatro anos estiveram calados ou incentivaram a efectiva radicalização política levada a cabo pelo governo, trucidando tudo o que se lhe opusesse (“ou a nossa política ou desastre”), só sendo detido nos casos mais extremos pelo TC (no limiar, portanto, da legalidade democrático-constitucional).
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🙂
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Deliciosamente caracterizado!
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Agora começaram a apelar para Deus. Não foi só em Albufeira…já apanhei a Cristas com o mesmo discurso. O pior é que a minha mãe já não vota, lol
mas não têm jeito para a coisa. Agora até os divorciados estão a ser chamados para regressar à santa missa. Até o Catolicismo evolui…eles é que ainda não se atualizaram!
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Pergunto-me o que será o canhotismo, vulgo esquerdismo, com mais deuses endeusados nunca sufragados. Aparecerá por aí um costa-concórdia narco-traficado com as pedrinhas da lei do bloco e pintado com as ordens-palavrentas daquela coisa detrás de muros?
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Não pedi opinião ao avô dos destrinhos.
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Nem eu me prestaria, só que vi um blogue aberto a opiniões diversas e nunca me passaria pela espinha que a causa não fosse o meu número de netos. Pelo que temo.
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Andas epidérmico. Pareces os teus críticos.
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Não pareço, parece-te.
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Este resolve já todos os problemas:
http://www.tsf.pt/sociedade/interior/nobody-fwith-jesus-4868799.html
AC
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