Patrioteirismo

Em todo este exacerbado debate em torno do governo que está e do que haverá ou não, há um argumento que me tira do sério e que é o chamado “argumento patriótico”. Aquele argumento de quem se afirma mais patriota do que os outros, porque gosta mais de Portugal e se preocupa mais com Portugal e que Portugal está melhor com eles e não com outros.

Vamos lá a ver uma coisa… dificilmente aceito lições de patriotismo a quem andou a destruir e vender as nossas maiores empresas a interesses estrangeiros, boa parte deles com origem em países com regimes que dizem abjurar com todas as fibras do corpo e da alma. Acho, no mínimo dos mínimos, patético que quem anda a impingir cervejas ou seguros por Angola, a vender a nossa rede eléctrica e tudo o mais a chineses – e a piscar olhinhos aos “investidores” com copos de champanhe como aquele mexia – ou a aceitar obiangues na comunidade de língua portuguesa depois apareça a rasgar as vestes porque o pêcê é comuna e tal, o bloco é esquerdista e Cuba e Angola e a Coreia e o camandro. E nem vale a pena falar nas relvices empresariais tropicais e tanto rabo preso nos livros de cheques.

Tende vergonha de vós mesmos. Olhai-vos ao espelho e não invoqueis o nome de Portugal em vão.

Mas, se tiverem o despudor de o fazer, ao menos não o façam à maneira do Portugal über alles! porque acima de tudo estão as pessoas, os portugueses, que vocês fizeram emigrar maciçamente sem nenhuma Guerra Colonial a justificá-lo, apenas porque o pedro e o miguel acharam que os conterrâneos estavam demasiado confortáveis e a viver acima das suas possibilidades.

Tende um poucochinho, só assim um ‘cadinho mínimo, de decência.

E, para finalizar esta conversa que vai mais ácida do que merece muita gente, não me venham dizer que eu posso aguentar, anos a fio, décadas seguidas, governantes que colaboraram ou aceitaram, por omissão e inacção, um regime ditatorial, anti-democrático, em que a maior parte da minha família nem votar podia porque defendiam a existência de sindicatos livres, e não se pode ter um governo com viabilização parlamentar de partidos em que poucos já são os que viveram os desvarios de menos de um ano de PREC, sendo que alguns dos mais sanguinários prequistas estão nas fileiras do PSD ou estão no PS contra acordos à esquerda? Mas os traumatizados de então parece que a esses não acham mal dar “responsabilidades”, aos espadas, às zitas, aos lamegos e a todos aqueles éme-éles que agora são “sociais-democratas”, popperianos e berlinenses, facção isaiah. E melhor ainda se marionetarem órgãos da comunicação social material ou virtual.

Vamos lá a ver se existe um mínimo de decoro neste tipo de debates e se o rai’sparta do argumento patriótico e democrático fica bem guardadinho onde o sol não aparece ou em outro poiso que vos aprouver.

Mas, de uma vez por todas, que não se arme em patriota quem andou a vender a dita Pátria aos pedaços em troca de comissões.

Porque isto parece uma regressão aos tempos da queda da Monarquia, quando tudo se esfumava em escândalos e o interesse nacional esbarrava em burnays e hintons e nas avenças pagas aos escritórios de advogados, monárquicos, republicanos ou dissidentes. Já nessa altura.

ZepovinhoSilvaCarvalho

Compromisso

Há gente desmemoriada, distraída ou apenas mal (in)formada. Por vezes, de forma bem voluntária.

Fez há pouco seis anos, no lançamento das eleições de 2009, existiu um apelo colectivo para uma solução governativa PS/PCP/BE, sem acordos apenas a dois, no sentido de encontrar uma solução governativa estável. Muitos são os que agora batem no peito, mas nem todos subscreveram a ideia há seis anos. Altura em que fui acusado de muita coisa, porque dava jeito a uns tipos (como o vargas de campolide) que andavam por aí, daqueles democratas ou revolucionários do dia 26.

Porque há sempre os pára-quedistas, com prognósticos depois dos 3-0.

paraq

Histórico

E se funcionar será verdadeiramente refundador de um regime que parecia ter proibido uma parte da população de ter representação governamental, em virtude da excessiva permanência de um arco imperfeito.

Aguardam-se chiliques nas senhoras mais sensíveis e tremuras nos senhores com traumas mais ou menos distantes que consideravam a governação do centro para lá um direito adquirido.

Sinistra