Escalas

Aqui fica o texto com a análise à sondagem do ComRegras desta semana:

SondaCRegrasEscala

Confesso que não sou fundamentalista de qualquer escala de avaliação dos alunos, em testes, fichas, trabalhos, finais de período ou ano lectivo. Sejam qualitativas ou quantitativas. Sejam das que reservam apenas um nível para a “negativa” (desempenho insatisfatório) e cinco ou seis para a “positiva” (desempenho satisfatório), sejam das que tentam distribuir os níveis de forma mais equitativa. Sejam com números ou letras.

Com toda a sinceridade, acho que são apenas ferramentas, instrumentos, que passam ao lado do essencial, sendo muitas vezes a expressão pública de concepções diversas acerca do que é classificar o desempenho de um aluno no cumprimento de uma dada tarefa.

Apesar de ser aquelas com que mais tenho lidado há cerca de 45 anos, como aluno ou professor (excepção feita a um período difuso na Faculdade em que nunca percebi, durante a parte curricular do mestrado, que raio de avaliações eram feitas, se é que eram feitas), acho que as escalas tradicionais, de final de período ou ano, de 1 a 5 ou 0 a 20 pecam por defeito ou por excesso para as minhas necessidades quotidianas. A escala mais em voga no Ensino Básico – agora com os cursos vocacionais já não é assim – parece-me bastante limitativa na forma como permite distinguir os diferentes níveis de desempenho dos alunos, enquanto a do Ensino Básico poderia ser mais curta, sem perda especial seja para quem for.

O que significa que gostaria de aplicar a escala menos desejada pelos que responderam a esta sondagem, de 1 a 10 ou de 0 a 10, na versão que contempla os absentistas ou relapsos totais. Como seria operacionalizada? Confesso que não me parece difícil com as classificações de 5 a 10 a corresponderem a níveis que normalmente se consideram “positivos” ou permitindo a transição/aprovação e os restantes a terem o significado inverso, insatisfatório, levando à não transição ou “chumbo” em português arcaico. Mas percebo que, com toda a clareza, os meus colegas têm um bem maior apego à boa e velha escala dos 0 a 20 valores. Nem níveis, nem por centos.

Eu conheço bastante bem as teses em defesa da anulação total, ou quase, deste tipo de escalas de classificação e há mesmo quem seja contra qualquer sinal exterior de diferenciação do desempenho dos alunos, ao ponto de criticarem a existência de quadros de mérito ou excelência. Permito-me discordar, em termos pessoais e admitindo a minha natureza menos perfeita, desse tipo de posição.

Até porque, mais do que os professores, as estratégias indiferenciadoras do desempenho são injustas principalmente para os alunos, sendo do nosso conhecimento até ponto se sentem magoados aqueles que trabalham e não vêem isso minimamente reconhecido ou equiparado a quem faz apenas o suficiente para ter a água benta necessária para passar. E não estou apenas a falar de “marrões” ou de “graxas”. Estou a falar de alunos perfeitamente ajustados em termos de comportamento e relação pedagógica que, para alguns, parecem cometer o erro de aceitar as regras escolares e as cumprir, bem como aos prazos e outras minudências assim com que a vida nos espera, agora à esquina dos 18 anos, mais coisa, menos coisa.

É verdade que tudo seria mais fácil se a escola fosse um enorme espaço e tempo de brincadeira, de aprendizagens que fossem escolhidas e feitas apenas com base no interesse dos alunos. Mas, infelizmente, a função da Escola já não é há muito (apenas) essa. Pode ser, mas não em exclusivo. O erro estará na falta de ofertas complementares de actividades extra-lectivas com verdadeiro grau de atracção. Não está propriamente em existirem disciplinas em que o desempenho deve ser avaliado e classificado, no sentido de perceber se os conhecimentos foram alcançados e desenvolvidas as competências.

Mais do que debater escalas de avaliação, a mim interessaria debater as unidades de tempo destinadas à aprendizagem e a sua adaptabilidade às necessidades. Porque a mim interessa que todos os alunos consigam, com mais ou menos tempo, ao seu ritmo. O que é um problema de escala temporal e não outra.

Mas, voltando ao início, eu gostaria de romper rotinas e avaliar de 0/1 a 10 e ver se não funcionava melhor do que agora. Para todos.

Nem um PDefezinho?

Há nove meses, o CNE promoveu o seminário “Processos de Descentralização em Educação”. Já na altura ia tarde tal iniciativa, com legislação aprovada. Fiz a última intervenção que, tal como a penúltima do então presidente do Conselho de Escolas, José Eduardo Lemos, foi extremamente crítica quanto à forma como tudo se estava a passar e ao modo pavoneante como alguns autarcas se apresentaram no evento.

Há seis meses, foi entregue a revisão da intervenção oral, que na altura foi feita com o estímulo da pressa.

A verdade é que as actas ou relatório ou lá o que seja, continua(m) sem ter qualquer divulgação, nem que seja virtual. Não sei se devido à necessidade de mobilizar umas dezenas de escribas para traduzirem em verbo intervenções gongóricas como a do presidente da Câmara de Cascais que trucidou qualquer limite de horário, levando ao aperto de todas as intervenções que se lhe seguiram.

Mas lá que seria interessante que as posições fossem conhecidas em tempo útil e não quando o defunto já arrefeceu, lá isso seria. Não falo por mim… pois o meu painel, talvez por ser chato, foi o que nem teve direito a responder a quaisquer questões, incluindo uma diatribe do confapiano presidente.

Eu sei que este quintal não é de acesso generalizado, mas se alguém puder ajudar a desbloquear a coisa… ‘tagradecido.

Coelhorelogio

Discordo

Profundamente, por todas as razões concretas e só uma ideológica.

“David Justino sublinhou que o atual sistema de Educação é “ineficiente” e que a escola deve ser encarada como um serviço local e não um serviço público do Estado.”

A ineficiência é um mito útil para justificar cortes, a maioria deles onde não estão as adiposidades. Aguardo, aliás, que o presidente do CNE promova qualquer coisa sobre os custos para o Estado e famílias da política de adopção de manuais escolares.

Quanto ao “serviço local”, em especial quando conjugado com a negação de um “serviço público do Estado” é daquelas coisas que fica imensamente bem dizer – e depois defender com as ideias de liberdade e tal – mas que transformaria um pequeno país numa manta de retalhos ainda mais desigual do que já é. E bastaria analisar o que se passa em Oeiras a nível de cobertura do pré-escolar para estas teorias caírem pela base numa zona que David Justino conhece muito bem. Mas… quando a realidade não se conforma com as teorias, ignoramo-la e declara-se que é necessário qualquer coisa e tal.

Avestruz

Contraditório

Já toda a gente – incluindo a Direita que quer refundar, alegadamente por via constitucional, o regime – assume um governo do PS, dos entusiasmados ministeriáveis aos solicitadíssimos analistas das mais diversas áreas, que já fazem contas a medidas e tiram a regra e esquadro as possíveis consequências orçamentais, por entre outras futurologias erradas de que nunca resulta avaliação de desempenho.

Assim seria, com o Cavaco da vírgula institucional, o rigoroso constitucionalista literal. Mas há que recordar que ele também já foi o espalha-brasas que se aliou à Nova Esperança para acabar com o Bloco Central e o político vingativo que fez tudo por pulverizar quem tentou estragar-lhes os tabus e os planos, de Fernando Nogueira (o delfim abandonado) a Santana Lopes (o da má moeda). Ou seja, nada nos diz que não lhe bate uma pós-andropáusica insurgência constitucional.

Cavaco