Do humor ou da falta dele nos debates e nos discursos dos candidatos. Não é que o país esteja em situação sorridente, mas há que ter um pouco mais do que ar de poucos amigos e de zanga com todo o mundo e arredores. Se exceptuarmos o Tino de Rans, que também se ri por tudo e nada, a maioria dos restantes candidatos parecem estar todos num enterro. Embora o país esteja, realmente, um bocado para o decrépito e a meia caminho de uma extrema-unção, também não deixa de ser verdade que precisamos que na presidência esteja alguém que não pareça um coveiro, porque para isso chegam os últimos dez anos. O Henrique Neto e o Paulo Morais parecem zangados com todo o mundo e arredores, sempre com um ar de quem acabou de lhes atirar com o mosquedo todo para a sopa e ainda lhes cobrou menu gourmet, com sugestão de não pedirem factura e deixarem gorjeta choruda. A Marisa Matias assusta-me um bocado com aquela voz de quem vai meter toda a gente na ordem se não nos portarmos bem, enquanto o Edgar Silva parece o homem de ferro com uma só expressão, quase como se fosse o Schwarzenegger em início de carreira (depois fez umas coisas em que já tinha uns esgares a simular sorrisos). Quanto à Maria de Belém, apesar de algum upgrade estético, fico de tal maneira fascinado com aquele globo capilar que nem percebo se sorri ou o que diz (acho que é um mecanismo inconsciente de auto-defesa).
Sobram apenas António Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa com capacidade para sorrir ou introduzir alguma empatia e simpatia no discurso, sabendo-se que o segundo é um verdadeiro artista nessa matéria de sorrir perante os maiores despautérios (como aconteceu no debate com Henrique Neto), enquanto o primeiro parece por vezes um pouco preso às amarras de uma pose pública que pretende transmitir principalmente seriedade, mas que só ganharia em transmitir mais o calor e humor que lhe é natural em ambientes mais restritos e descontraídos.
Os portugueses andam macambúzios, desanimados e irritáveis como nunca e por isso mesmo é que precisam que alguém lhes eleve o moral, os faça sentir bem, mas sem ser na base do artifício quimicamente induzido. Precisam de um presidente caloroso, com um sentido de humor adulto, que substitua a robotização da postura ou infantilização da graçola acagarrada. Precisam de um discurso natural, fundamentado mas não agarrado a papéis ou a clichés, erudito mas não exibicionista, bem-disposto q.b. com a vida, mas não idiotizado.
Por isso, penso que passarão à 2ª volta, os candidatos que conseguirem ter essa postura, menos feroz e mais empática, capaz de transmitir a uma humanidade honesta que tem faltado na nossa vida política.

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