Ideias Avulsas – 4

Esta é muito simples. Não coloquem a alimentação da miudagem a depender do tostão poupado. Não me venham com a conversa de que há alunos que desperdiçam a comida, não comem, dizem sempre mal de tudo. Sim, existem, existirão sempre como existirão sempre adultos a dizer mal de qualquer coisa e a desperdiçar recursos, a franzer a narigueta. Concentrem-se naqueles que, não sendo esquisitos com o que comem, têm padrões mínimos de qualidade (sabor, aspecto, temperatura) e preferem levar comida de casa e comê-la fria do que sujeitar-se ao que lhes é despejado no prato pelo mono ou oligopólio que a central de compras escolheu. A sopa ainda escapa, a fruta sempre é fruta, mas o resto é, em grande medida, apenas uma lista com as calorias adequadas, mas com pouco acima de zero em outros. Não é admissível a poupança neste aspecto e é demagógico dizer que os alunos subsidiados já tem sorte em comer sem pagar.

Confiem nas escolas, confiem em alunos, professores, órgãos de gestão. Se querem confiar nos encarregados de educação, coloquem-nos a fazer verificação de qualidade e a dar a sua opinião.

LANCHEIRA

 

 

 

Presidenciais – 5

Dos notáveis, falta deles ou da estratégia unipessoal. Os três candidatos presidenciais com melhores resultados nas sondagens adoptaram estratégias muito diferentes em relação a este aspecto.

Sampaio da Nóvoa optou por demonstrar publicamente todo o leque de apoios de personalidades públicas de que dispõe, Marcelo Rebelo de Sousa preferiu centrar toda a campanha em si, dispensando a partilha do palco seja com quem for, enquanto Maria de Belém ficou naquela terra de ninguém que resulta das circunstâncias… apoiam-na alguns dos tais que podemos chamar notáveis – quase em exclusivo na área do PS – mas são escassos e daqueles que não gostam de partilhar derrotas, pelo que nunca se chegam muito à frente. Não irei perder, por isso, prosa desnecessária com a chamada candidatura-empata, criada apenas para tentar impedir outrém de chegar mais longe.

Narcísico mas com a sua dose de intuição, Marcelo Rebelo de Sousa sabe que poucos serão os apoios que lhe acrescentarão alguma coisa, atendendo às décadas de exposição pública e mediática, pelo que concentrou tudo em si,a postando no seu fácil reconhecimento e num trajecto que, nos últimos anos, calculou quase todos os seus movimentos para um destino que lhe ficou depois de falhados muitos outros, intermédios. Politicamente, falhou quase todas as apostas políticas em nome próprio, enquanto viu terem sucesso muitos dos seus protegidos de outrora, seja os mais directos (Durão Barroso), seja os indirectos (Cavaco Silva). Fracassada a tentativa de ser autarca num município de primeira linha ou de chegar a primeiro-ministro, acabou por apostar tudo na lotaria presidencial interna e conseguiu condicionar todos os seus potenciais opositores, desde os que mais o afrontaram (Santana Lopes) aos de postura menos agressiva para com ele (Rui Rio). E fez um caminho progressivamente virado para o centro no último punhado de anos, conseguindo transmitir uma (quantas vezes apenas encenada) equidistância analítica que muitas vezes conseguiu, contudo, irritar muita gente da sua área política que percebeu que o seu plano pessoal não contemplava companheiros de estrada. A sua campanha é isso mesmo… um one man show bem oleado mas que tem as suas vulnerabilidades que nem sempre os adversários têm sabido explorar, por cortesia ou por se perderem no que eu já classifiquei como “pintelhices à catroga”. Há demasiadas coisas sumarentas no passado político de Marcelo Rebelo de Sousa, incoerências, inconsistências, erros, piruetas, para serem exploradas de forma séria para se andarem a desencantar cartas de 1973.

Já Sampaio da Nóvoa preferiu uma campanha que sublinha o seu papel de convergência de muitas personalidades da vida pública portuguesa, da política à cultura, da vida académica às artes. Por ser naturalmente essa a sua postura e/ou por ter consciência da sua menor notoriedade para o chamado eleitorado comum, Sampaio da Nóvoa decidiu partilhar o palco com muita gente e demonstrar que tem consigo apoios muito variados e que, de uma maneira ou outra, servem como uma espécie de referência para quem não o conhece muito bem. Se Soares e Sampaio serviram para apresentar credenciais perante o eleitorado do PS, já Eanes é alguém que congrega respeito e admiração num espectro político mais alargado e mais independente de fidelidades partidárias. A desvantagem desta estratégia é que, entre tanta gente, há sempre quem desperte animosidades aqui ou ali ou possa servir como exemplo para algumas sensibilidades apontarem e dizerem olha quem está com ele. Por isso, é importante que Sampaio da Nóvoa se comece a destacar mais por si mesmo, pelas suas evidentes qualidades, pela sua transparência, coerência e independência de grupos de interesses político-partidários. Que mostre a sua capacidade empática, a sua boa disposição, a sua lucidez e sensatez, tudo aquilo que o torna mais facilmente identificável com o tal eleitorado comum que deve vê-lo como individualidade em nome próprio e não como o candidato de. Aquilo que o torna um candidato natural à presidência, sem que isso resulte de um plano delineado a regra e esquadro ou de falhanços em outras encarnações políticas. Sampaio da Nóvoa tem um trajecto de sucesso pessoal e profissional, não precisando da caução de ninguém para merecer a confiança dos portugueses. As próximas semanas são essenciais para o demonstrar de forma cabal, no primeiro plano do combate político com Marcelo de Sousa, de igual para igual.

urna2

(Mais) Intolerância

Ao ruído. Em especial em relação ao que é produzido por outros seres humanos apenas porque sim, porque tanto se lhes faz e não percebem que entrar no espaço de outra pessoa também é obrigá-la a ouvir os seus disparates ou (in)confidências em voz alta, ao telefone ou ao vivo, os seus chocalhanços de chaves em filas de correios ou farmácias, a sua limpeza oral após o almoço (com ou sem palito), o precoce labreguismo da jubentude inconciente que acha o máximo falar sempre uma dezena de decibéis acima do limiar da inteligência, a estridência de quem não tolera que se lhe chame a atenção para a incivilidade militante, algo muito próprio de quem não percebe que a liberdade de cada um (com o velho se não está bem mude-se como grande tirada) pode acarretar que alguém também possa exercer a sua liberdade num sentido inverso e enfiar-lhe com um exercício libertário pela cachola abaixo. Com dranquilidade.

E é assim, à 4ª feira um tipo já intolera bastante.

baternacabeça

Intolerância

Preciso combater a minha tentação para comentar más ideias expressas com base em argumentações completamente disparatas e numa língua vagamente aparentada com o português. Tenho feito progressos, mas ainda me acontecem recaídas sempre que leio ou ouço gente a defender intensa e agressivamente uma Cultura que acabou de trucidar em poucas linhas.

baternacabeça

 

Linguagem, Compreensão, Transmissão

A base de tudo, a partir da oralidade, do discurso escrito, da simbologia gráfica. Quando falamos, entendem-nos? Quando se lê, compreende-se?

Ao contrário – ou em complemento – de outras teorias mais socio-económicas ou culturais, acho que boa parte do insucesso educativo se baseia numa quebra da comunicação entre emissores (professores, manuais, mas mais do que isso) e receptores. Seja por indiferença, seja por pura incompreensão do que se está a tentar transmitir. Falta de vocabulário básico, nem sequer de tipo específico de uma disciplina, implica a não compreensão do que é dito, solicitado, sugerido.

O silêncio que muitas vezes se gera é o resultado do pior dos ruídos, o ruído branco, que causa uma surdez que resulta da incapacidade para perceber o que estão a tentar comunicar-nos. A perda, ou não aquisição, de uma linguagem mais do que monossilábica e de conceitos um pouco além de uma pós-modernidade tecnológica conjuntural está na origem de muitos dos problemas de aprendizagem na sala de aula. Não adianta enormes sofisticações pedagógicas ou mesmo a aposta numa dose de afecto e empatia para despertar o interesse dos alunos se eles não entenderem pelo que estamos a tentar interessá-los.

Falar, ouvir, entender. Ler, compreender. Temos de reforçar muito o aspecto mais básico do ensino que é a comunicação. Não há transmissão possível, ou torna-se extremamente problemática, quando os códigos usados não são entendidos. Há que começar, recomeçar, reforçar a compreensão dos níveis mais nucleares da comunicação. E não se trata de descer a um dado nível, trata-se de elevar os interlocutores ao nível desejável, enriquecê-los para que também eles possam comunicar com riqueza o que sentem, o que sabem, o que pretendem, serem também eles transmissores para além de patamares muito limitados de comunicação.

Ensinar é elevar, dotar de mais recursos. O primeiro é o da comunicação, essencial para compreender, transmitir, partilhar.

Nada de novo.

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