Estive a ver e rever o único debate entre candidatos presidenciais que interessava, o de António Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa. O resto é cenário e percebeu-se bem isso pela postura crispada e nervosa do segundo que foi bem mais agressivo, mesmo a roçar a grosseira em algumas observações e certamente pisando fortemente a deselegância, pois sentiu estar perante quem mais o ameaça na sua desejada caminhada triunfal.
Rasgadinho, rasgadinho, com muita troca de acusações e MRSousa a não conseguir explicar porque teve tantas opiniões erradas e rodopiantes. O argumento de que teve opinião sobre tudo e mais alguma coisa é muito fraco, porque isso todos tivemos, mas só a ele têm pago para todas as semanas produzir opinião aos terabytes, em forma de entretenimento. Lá por isso, o Tino de Rans também pode dizer que sempre teve opinião, mas se calhar só passou no canal 2 da televisão da paróquia de Rebordosa do Reviralho de Cima.
Mas, mais a sério, nunca tinha visto MRSousa tão tenso, com uma linguagem corporal tão acossada, com o olhar baixo, expressões faciais de irritação, sorrisos claramente encenados e refugiando-se na moderadora em busca de um apoio adicional perante um ambiente friccionante que criou ,mas que o perturbou claramente, ao ponto de parecer um miúdo com àpartes sucessivos, desafios verbais do género diga-lá, diga-lá, ah-pois, ah-pois, que são pouco compatíveis com o que quis apresentar como um trajecto de grande experiência política (afinal, também ele não passou de autarca de 2ª linha e de ministro há mais de 30 anos). Tudo isto enquanto Sampaio da Nóvoa adoptava uma linguagem corporal muito mais positiva e distendida no próprio espaço do deabte.
Em termos de forma e substância, MRSousa pareceu-se um pouco com Bill Clinton quando optou por se refugiar na semântica do disse que era interessante e útil, mas não apoiei (propostas do governo PSD/CDS para a Saúde e Educação) ou apoiei, mas não participei (campanha presidencial gastadora de Cavaco Silva).
Mas aquele que acho o seu maior erro táctico terá sido o que ele pensou ser um trunfo… o de querer apresentar Sampaio da Nóvoa como presidente de uma parte do país… sendo que essa parte do país (anti-austeridade, anti-ressabiamento social, anti-liberalismo delirante, anti-destruição dos serviços públicos) é maioritária neste momento e Sampaio da Nóvoa só pode ficar a ganhar por ser apresentado de forma tão clara como seu representante e líder nesta eleição.
Para além de que a leitura que Sampaio da Nóvoa faz dos poderes e da função presidencial é muito mais rica do que a de MRSousa que a parece querer limitar a uma leitura académica da Constituição e, assim sendo, passível de ser desempenhada por qualquer professor razoável de Direito Constitucional.
Embora assuma as minhas simpatias de forma clara, talvez este tenha sido o momento em que MRSousa cometeu mais erros e em que Sampaio da Nóvoa se revelou com uma postura muito mais calma, ponderada e presidencial.