Um dos argumentos mais toscos, mas muito popular, contra a existência de “exames” é que se andaria a “treinar” os alunos para os fazer, opondo isso ao desenvolvimento de “aprendizagens” e “competências”.
Este tipo de raciocínio é um bocado redutor e choca-me especialmente quando usado por professores porque parece que dão razão a uma prática desse tipo, que reduziria um ciclo de aulas a treinos para um “jogo” final. Quando é usado por políticos, dou o desconto habitual e inerente ao desconhecimento do assunto sobre o qual palram.
Vamos lá ser mauzinhos um pouco… mas então eu não “treino” os meus alunos para lerem e escreverem bem? Para entenderem o que lêem? Não repetimos aulas de leitura e interpretação de textos? Ou não se realizam exercícios de produção escrita (hesito em usar termos como “redacções” ou “composições” porque me podem chamar nomes esquisitos)? Em Matemática, não se “treinam” exercícios para que os alunos saibam resolver os problemas? Ou para reconhecer as formas geométricas e as características dos sólidos? Não são “competências” a capacidade de leitura ou resolução de exercícios? “Aprendizagens” não são aquisições de conhecimentos pelos alunos que depois se concretizam pela sua demonstração prática? Há alturas em que me interrogo se as pessoas compreendem exactamente aquilo que estão a dizer ou se sou eu mesmo que fico com um problema de desvinculação cognitivo-linguística.
Ou “treinar” é só quando os meninos e meninas são artistas ou atletas e se esfalfam, fora da escola “regular”, em academias, ginásios, conservatórios ou pavilhões?