A Autonomia dos Contratos

Um outro detalhe curioso – tipo efeito colateral – da reforma da avaliação externa do Ensino Básico é deixar as metas contratualizadas entre as escolas/agrupamentos e o ME a patinar sobre o vazio. O que tem a sua parte positiva porque, no que era o núcleo da coisa (combate ao insucesso), deixa de existir a possibilidade de saber se foram cumpridos os objectivos definidos e fica tudo entregue à definição interna do sucesso. Verdade se diga que assim é que há mesmo autonomia :-).

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Oralidade?

Uma hora livre a meio da manhã permite ouvir o fórum da TSF e o secretário de Estado da Educação a exaltar os benefícios das provas de aferição em relação às provas finais/exames. Está tudo bem – sobrevoando o regresso à tal “pedagogia do processo” tão anos 90, tão perrenoud no que ele tinha de mais chato – até chocarmos com as inexactidões factuais.

Disse João Costa que as provas de aferição permitem avaliar “dimensões” (ou “competências”) que escapam nos “exames” e deu o exemplo da avaliação da oralidade (usando mesmo o caso da compreensão de um debate) que é possível na aferição e não nas outras provas más, as que distorcem e afunilam tudo. E que o que interessa é o “processo”.

[sic]

Ora bem… vamos lá devagarinho…

  • Desde que me lembre, as provas de aferição de Português/Língua Portuguesa NUNCA avaliaram a oralidade.
  • Já o PET – que foi eliminado (e bem) – avaliava a oralidade e foi ao beléléu. Go figure!
  • Se compararmos o tipo de questões das provas de aferição e das provas finais do 2º e 3º ciclo dos últimos 15 anos dificilmente encontramos especiais diferenças entre umas e outras, embora a estrutura das provas tenha sofrido alterações durante a vigência do mesmo tipo de avaliação.

Portanto… não é do instrumento em si que dependem as “dimensões” avaliadas, mas do que fazemos com ele. Exames/provas finais podem avaliar exactamente o mesmo que provas de aferição. Defendam a posição que acham melhor, mas afinem lá a argumentação, porque assim, por muito cordial que seja o discurso, torna-se demasiado fácil desmontá-lo, por muita “literatura” que se evoque.

Para finalizar, o secretário de Estado referiu as más práticas que iam tomando de assalto as escolas por causa dos “exames” (simulação de provas com “paragem das escolas”, “treino para o exame”). Ora… eu conheço práticas muito más – e bem nocivas – que nada têm a ver com a realização de exames e acho que ele sabe, enquanto encarregado de educação, como eu, do que estarei a falar 🙂 .

Bombista

Guterrismo Educacional

Para quem ainda se lembra, tinha os seus pontos bons (uma tendência para não entrar em conflito por tudo e nada com professores e não só), mas também os seus pontos francamente maus (a cultura do sucesso a todo o processo, sem grande verificação que não fosse a auto-avaliação e uns estudos do IIE a condizer). Como levámos com a MLR e o Crato em cima, até pode parecer um alívio e um enorme progresso. Mas como eu ainda me lembro do estado de irritação em que muitos de nós estavam (claro que havia e ainda há muitos crentes na versão edulcorante de tudo isto) há 12-15 anos com aquela “cultura” de muito “especialista em Educação”, muito relativizadora da indisciplina (tendência mais conhecida por “benaventismo”) que importava todas aquelas teorias que eu gostava de chamar a “pedagogia da salvação”, estou com curiosidade para ver como as coisas evoluem, até porque as vacas daquela altura tinham os seus úberes (não confundir com os táxis) ainda com algo para dar e agora está tudo virado para salvar os ulricos (que os salgados já se foram).

METiago