Assistimos a uma nova investida acerca do nível de retenções/chumbos de alunos no Ensino Básico em Portugal. Há mais estudos e opiniões a reclamar que assim não pode ser, somos dos países em que há mais chumbos e que os alunos não ganham nada com isso, pois continuam a ter maus resultados ao longo do seu trajecto escolar. Esta última constatação é aquela que me diverte sempre, pois dá a entender que a retenção deveria ter a capacidade de transformar um mau aluno, eventualmente com diversos problemas de contexto familiar e provavelmente pouco assíduo, num excelente aluno, com todos os problemas familiares resolvidos e todos os seus problemas de aprendizagem vaporizados. Ao que parece, acredita-se em milagres, o que me faz crer sempre no regresso da rainha Santa Isabel ao nosso convívio. Parece que ninguém consegue conceber a possibilidade de existirem alunos que são retidos (ou “chumbam”, naqueles vai-e-vem linguísticos para dar melhor efeito-choque, ficando eu por saber se tudo seria diferente se chamássemos “bronzes” às “não transições”) porque não fizeram o suficiente para – até respeitando os colegas – transitar de ano e que esse tipo de atitude se mantém ao longo do tempo se não forem mobilizadas mais valências para tentar alterar isso do que apenas mais aulas. Outra coisa que estes estudos parecem sempre esquecer é o tal enquadramento histórico e cultural do que se passa em Portugal, pois raramente nos comparam com a Itália, Espanha, França, Grécia e países com um contexto mais próximo do nosso, preferindo conparar-nos com a Escandinávia, a Europa Central ou o Extremo Oriente.
Façamos então assim – eu já estou por tudo e um bom almoço já me faz aceitar, como experiência assim meio destrutiva, todo o tipo de medidas que satisfaçam os especialistas e os estudiosos universitários, que muito estimo, mas a quem reconheço alguns limites nas suas abordagens boaventurianas à bourdieu – acabemos MESMO com os chumbos até ao 9º ano e em 2025 quem tiver coragem para o fazer que fique cá para varrer os cacos, não deixando – como é costume – esse trabalho para os outros. Por causa da coisa da accountability não fenecer virgenzinha da purificação.
Vamos nessa?
Concordando com tudo o que escreve neste post, deixo o meu desabafo face à inexistência de retenções no 1º ano do 1º ciclo.
É verdadeiramente aberrante termos crianças a realizarem aprendizagens de 1º ano, mesmo as mais iniciais, e frequentarem uma turma de 2º ano, obrigatoriamente…
E pensar que este ano irão ter à frente uma prova de aferição, da qual mal conseguirão decifrar o cabeçalho!
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É um retrocesso que me faz voltar ás minhas turmasd mistas de 1ª e 2ª classe no início dos anos 70 do século passado. Na 1ª classe tinha alunos da 2ª e 3ª e na 2ª classe tinha colegas da 1ª. Digamos que estas viagens no tempo não deixam de ser curiosas…
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Tal como os que dão tanta importância aos exames, deve dizer-se aos que estão tão preocupados com os “chumbos”, com as suas consequências (mormente para os alunos), que devem olhar, isso sim, para o que vem antes, para os processos e causas que estão por detrás deles.
Porque os chumbos devem ser compreendidos mais como um efeito do que com uma causa. Para que não se escamoteiem os problemas estruturais (incluindo os socioeconómicos) e as disfuncionalidades do sistema que eles a um tempo revelam e ocultam.
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Penso que poderíamos até, fazer uma experiência piloto: aplicar o sistema de chumbos numas escolas e abolir os chumbos noutras, a ver no que dava, ao fim de alguns anos.
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🙂
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Há uma série de escolas públicas com reprovações residuais até ao 9º ano (ver infoescolas). E nas privadas é a regra.
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E…?
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