Saudáveis à Força

Comentário para a sondagem semanal do ComRegras, de que se seguem os resultados:

SondaEF

O tema da sondagem desta semana é bastante polémico, em especial entre encarregados de educação. Confesso que a mim desperta alguma perplexidade e não sei se pelas razões mais populares entre alguns colegas.

Não vou ser muito demorado a explicar o que penso e que é muito simples: a média do 12º ano para efeitos de acesso ao Ensino Superior deve ser construída a partir de disciplinas relevantes para os cursos a que concorre o aluno. E, aliás, o meu de disciplinas de 12º ano deveria seguir essa mesma lógica, reservando eu apenas a obrigatoriedade para todos de terem Filosofia, por razões que acho desnecessário explicar de forma detalhada, pois é a única disciplina verdadeiramente transversal e essencial para a construção dos saberes, para conseguir ter um pensamento estruturado e argumentações coerentes (para além do sentido da vida e tudo isso).

A partir daí, o conjunto de disciplinas deveria corresponder a uma antecâmara da área de estudos que o aluno pretende frequentar. Ou seja, um candidato a História, Sociologia ou Antropologia não deveria ser obrigado a ter Geologia ou Química (mesmo se pode ter interesse do ponto de vista da Paleontologia), assim como um candidato a Engenharia Civil não deve ser obrigado a cursar Geografia ou Biologia. Da mesma forma, Educação Física deveria ser parte integrante das disciplinas a frequentar por alunos destinados a cursos ligados ao Desporto (e, no limite, a algumas áreas ligadas à Saúde), mas não a outros em qualquer relação com essa área do conhecimento, a menos que fosse escolhida como opção voluntária.

Que me desculpem os colegas de Educação Física, mas não acho razoável que a sua disciplina tenha direitos acrescidos em relação, repetindo o que já cima afirmei, à Filosofia. Não tenho declaração de interesses a fazer, pois sou de História e a minha petiza adora Educação Física, sendo um dos seus pontos fortes.

Mas, acho um contra-senso (poderia ser mais acutilante), perder-se um óptimo linguista ou um dotado economista (isto é que é um paradoxo), quiçá um hábil advogado, só porque é menos coordenado e a sua nota em Educação Física fica muito aquém do desejável. Por isso, que me desculpem os mais de 70% dos que querem alunos universitários fisicamente em plena forma, mas eu preferiria que eles fossem capazes de pensar em condições. Preconceito meu, admito.

 

28 opiniões sobre “Saudáveis à Força

      1. O historiador e o linguista podem dispensar a matemática? O matemático a língua estrangeira? O profissional de Educação Física as outras disciplinas? Poder, podem, mas serão certamente profissionais mais ‘pobres’, que terão dificuldades em entender diferentes perspetivas, diferentes formas de estar, diferentes culturas.
        O problema é a contagem da Educação Física para a média ou exclusivamente o acesso ao ensino superior? É importante perceber que há um equilíbrio quanto ao benefício/prejuízo da nota de Educação Física ser considerada.

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  1. “(…)pois sou de História e a minha petiza adora Educação Física, sendo um dos seus pontos fortes.(…)” 🙂 . Concordo com o post, mas, e sem querer provocar uma qualquer competição, a tua petiza sai mais à mãe?

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    1. Maravilhas do novo programa. Esses conteúdos tinham sido retirados no programa que vigorou até este ano e foram de novo reintroduzidos com o novo programa.

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  2. Subscrevo e digo mais: Educação Física não deveria ser avaliada como as restantes disciplinas. Como seria? Pode levar algum tempo a explicar!
    Sim, sou de Educação Física.

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    1. Olha que não leva muito tempo a explicar porque disciplinas com naturezas diferentes deveriam ter um processo de avaliação completamente distinto… leva é tempo a entenderem isso. E não é colocar nada “acima” ou “abaixo”. É diferente, apenas.

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      1. Se dei a entender muito, não foi propositado. Eu sou de EF, só sei correr e saltar. Jogar, nem sei lá grande coisa porque implica pensar um pouco.
        Só opino sobre o que sei e ponho sempre uma ressalva. Se alguém me demonstrar o contrário mudarei a minha opinião. É uma forma de estar. A minha opinião foi dada em 2012 na “Educação do meu ..” e agora como cada vez sou menos professor de EF, não tenho tempo para repetir.
        Relativamente ao que pouco disse e parecia muito, referia-me à frase com que terminou o comentário Saudáveis à Força. “Preconceito meu, admito” Entendi então que opinou com base no preconceito. E o que disse é senso comum. O preconceito e a ignorância andam de braços dados.

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  3. Eu gostava de desenvolver – até porque é raro discordar do Paulo – mas ando sem tempo para estas lides.

    Diria apenas duas coisas:

    – no actual contexto – matriz curricular com a disciplina de Educação Física a ser obrigatória, considero contraproducente, por um lado, que a disciplina não conte pois o simples facto de não contar produz efeitos pervesos, como o assistirmos à falta de empenho e ao desinteresse de cada vez mais alunos. Por outro lado, não faz sentido que se reduza a importância da Educação Física ao desenvolvimento de capacidades físicas e motoras ou a questões relacionadas com saúde e bem estar. Ao nível do desenvolvimento de tudo o que diga respeito à interação pessoal, como o espírito de grupo e o de entre ajuda, gestão de afectos, respeito pelo próximo, por exemplo, a disciplina de Educação Física assume um papel fundamental, principalmente nos dias que correm e devido à actual oferta educativa.

    – não vejo com maus olhos que a média de Educação Física deixe de contar ou mesmo que a própria avaliação dos alunos na disciplina seja feita de uma outra forma. Mas para isso seria fundamental, ao meu ver, uma mudança no que diz respeito ao acesso ao ensino superior: penso que nenhuma média de nenhuma disciplina deveria contar para a média de acesso. Todos os alunos deveriam ter um leque mais alargado de disciplinas à partir do 10º ano, não sendo necessária uma opção logo no final do 9º, pois julgo ser demasiado cedo para obrigar crianças a fazer essa escolha. Os alunos poderiam, ao longo do Secundário, ir seguindo determinada matriz curricular de acordo com as suas disciplinas de eleição, deixando de ser de frequência obrigatória determinadas disciplinas que nada têm a ver com uma opção que apenas deverá ser tomada, aí sim, no final do 11º ano. Terminado o Secundário, o aluno concorreria as Universidades/cursos que pretende, realizando provas que seriam realizadas pelas próprias Universidades.

    Resumindo, não encontro necessidade de qualquer disciplina contar para a média de acesso. As provas realizadas pelo aluno na/nas Faculdades ditariam que curso/Universidade o aluno iria frequentar.

    Não sei se conseguem atingir a quantidade de problemas/questões que ficariam resolvidas com esta lógica mas, como disse, o tempo é-me escasso para desenvolver mais.

    Abraços.

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    1. Bem vindo, Maurício… percebo as tuas razões, mas discordo que EF conte sem ser como opção para o acesso a cursos como… História… Direito, etc, etc… se Filosofia nem entra no menu. Grande abraço.

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  4. Compreendo perfeitamente a tua argumentação, Paulo, mas o problema é que esta medida acaba por criar um efeito nocivo: o desinteresse de muitos alunos.

    Julgo que, no actual contexto, faria mais sentido que fosse permitido ao aluno escolher uma das disciplinas de carácter geral para não contar – ou que a escolha fosse automática, ou seja, a disciplina com a média mais baixa.

    Porque, ao contrário do que podem imaginar, para a esmagadora maioria dos alunos a média da disciplina de Educação Física não prejudica a média final, pelo contrário.

    Mas não faço disto um campo de batalha, até porque sou dos que acha que a Educação Física deveria funcionar de uma forma diferente, assumindo-se, sem complexos, como uma disciplina efectivamente distinta das outras.

    Forte abraço e beijinhos para a Eulália e a princesa Marta.

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  5. Zeca Camarão… o seu problema é ser imune à ironia, excepto quando acha que está a produzi-la, não percebendo sequer o sentido do que escrevi nessa frase. Quando alguém admite um “preconceito” é porque o reconhece e sabe defender-se dele.
    Já a arrogância anda de braço dado com a pesporrência. Isto aqui é um “quintal”, mas tento não defender apenas as minhas “colheitas”. A “ignorância” de que me acusa nasce de uma certa peneiricesua que ressalta do sarcasmo do texto que usa um falso tom auto-depreciativo. Só que eu detecto isso, mesmo sem ser professor de EF.

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  6. Pois, realmente a ironia não foi perceptível para mim. “Colhendo”, se permitir que apanhe algumas laranjas, o que observo é que a sua ideia dos objectivos do ensino secundário são de alta especialização no intelecto, aliás tal como o ensino está estruturado, tal como a sociedade pensa da escola (tudo o que não serve para entrar no Ensino Superior não tem qualquer valor e por isso deve a escola afilar todo o ensino para que os alunos tenham a nota), etc. Será que as disciplinas no ensino secundário só servem para entrar nos cursos superiores? (…)
    Se sim, nesta lógica, a EF não serve para coisa alguma, só mesmo para correr e saltar. Nem mesmo para alguns cursos de Saúde, como refere. Aliás nesta lógica, no extremo, nem serve para os cursos de EF.
    Quando não se considera a EF, não se consideram as aprendizagens motoras, o corpo.
    De outra forma, tal como considera a Filosofia, a EF é uma disciplina transversal (a única, a par de Português, que está presente do 1º ao 12º ano nos programas de ensino, contrariando a lógica que descrevi e que na minha opinião está em voga). A EF é a única disciplina que aborda o corpo.
    Quando refere que “o conjunto de disciplinas deveria corresponder a uma antecâmara da área de estudos que o aluno pretende frequentar”, eu volto a perguntar, porquê que existe a Educação Física no Ensino Secundário e por ex., porque será que coloca a EF para os futuros Geógrafos como coloca a par da Química?
    E se for feita uma abordagem diferente, sem pensar que é também uma questão de cooperativismo dos profs de EF. Será que os profs de EF pensam nos alunos ou no seu “tacho”.
    Também não concordo consigo quando considera, e principalmente para alunos do secundário, quando põe como opção estar em forma ou pensar em condições. (Deste pensamento surge a minha auto-depreciação). A minha formação de base (lic. em EF) não me permite pensar dessa forma porque por mais que eu tente, tenho dificuldade em argumentar, sinto que estou noutro “quintal” a “colher” limões, e sem ironia talvez seja mesmo ignorância ou “deformação de base” minha.
    Entrei no seu “quintal”, vindo com um convite do espaço público e entendi que o portão estava aberto. A placa do portão dizia entre e veja estas laranjeiras, no entanto se soltar os cães, eu fujo porque correr é comigo.

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    1. Acho é que a sua visão está cheia de preconceitos. Os seus e aqueles que me imputa. O que torna a discussão um bocado complicada, porque eu nunca coloquei palavras na sua escrita e pensamento, mas no seu caso farta-se de deduzir o que eu penso ou não penso.

      Está errado em algumas coisas e alonga-se imenso nos erros e equívocos.
      Mas não lhe soltarei os “cães” porque gosto mais de gatos.

      Só lhe direi uma coisa, clara, explícita. Considero que o 12º ano deve ser, efectivamente, um ano de pré-especialização. E, nesse contexto, não considero que a EF deva ser disciplina obrigatória para acesso e todo e qualquer curso. Não se trata da questão do “pensar”, porque, infelizmente, tomara eu que o “pensar” fosse transversal a todas as áreas. Ainda infelizmente, há realmente quem pareça estar ainda preso a uma dicotomia corpo/intelecto mas não é o meu caso. Há é quem conceba as disciplinas em termos de “nucleares” e “opcionais”, de frequência voluntária e nesse caso a contar para a nota. O que discordo é de quem defenda a obrigatoriedade da SUA disciplina, mas não de outras.

      Por fim, parece-me que confunde o Ensino Secundário todo com o 12º ano e o acesso à Universidade. As competência motoras e o conhecimento do corpo, do 1º ao 11º ano não chega, quando outras disciplinas apenas têm 3 ou 5 anos para desenvolver as suas?

      Visão enviesada que, por exemplo, eu não defendo para a História, que também desenvolve muita coisa, embora exista quem ache que só serve para falar de mortos.

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  7. Eu não tive EF no 12 ano..eram apenas 3 disciplinas….assunto algo controverso e discutível..na minha opinião devia haver mas aí estou como diz o Mauricio.devia haver uma forma diferente de avaliação..fui…

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