Não é a regra aqui pelo quintal, mas decidi desta vez apresentar o testemunho, com as necessárias reservas de anonimato, de alguém que trabalha numa escola com contrato de associação, esse mundo de liberdade e qualidade.
No argumentário sobre os apoios às escolas com contratos de associação desconhece-se ou omite-se um facto importante: a diminuição drástica dos custos de funcionamento destas escolas, à custa da precarização dos professores e de alterações na estrutura curricular, tudo facilitado através de alterações legislativas do anterior governo e a hipócrita ratificação da FNE. No primeiro caso, ardilosamente, aumentou-se o tempo letivo de 45 para 55 ou 60 minutos, e o horário semanal letivo dos profs, de 22 para 24 horas (60′) e reduziu-se praticamente o serviço letivo às aulas. A nível curricular o ensino privado beneficiou do emagrecimento do currículo (fim estudo acompanhado, educação cívica, etc..). Acrescente ainda que, com o patrocínio ideológico do referido governo reduziu os tempos letivos semanais nas humanidades, artes e educação física (há disciplinas que, por exemplo, têm 150′ e não os 180′ do público). Agora é só fazer as contas, ou então saber o n° de despedimentos de professores realizados nos últimos 2-3 anos nestas escolas.
Mas para ficar com uma ideia do que é hoje o meu trabalho, eu tenho, no ensino secundário, 9 turmas, 7 destas com cerca de 28-30 alunos. Já imaginou o que é a avaliação sumativa nestas circunstâncias? Mas o problema não está só na sobrecarga de trabalho dos professores mas sobretudo na qualidade de trabalho que é possível realizar nestas condições. Só um super-professor, nestas condições, é capaz de realizar um trabalho de qualidade com os alunos. Sinceramente, continuo a tentar resistir, mas é muito difícil. E, como sabe, os rankings são são muito enganadores, relativamente ao processo de ensino e aprendizagem, quer nas privadas quer em muitas públicas.
E é assim o mundo da liberdade de escolha. nada contra os princípios, muito contra as práticas.