Sponsors of Policy: A Network Analysis of Wealthy Elites, their Affiliated Philanthropies, and Charter School Reform in Washington State
Dia: 5 de Março, 2016
Pelo Sol de Hoje – 2
E a modos que é assim, a parte final da versão integral do depoimento que surge hoje no Sol.
4. Desempenho do anterior governo
O anterior governo constituiu-se, no essencial, num continuador das políticas anteriores, de reforço do controlo burocrático das escolas e professores, na adopção de medidas destinadas pretensamente a tornar o sistema mais eficaz (leia-se mais barato), de redução brutal da rede do 1º ciclo, alimentando assimetrias graves no país, empobrecendo o currículo e precarizando a condição profissional dos docentes, enquanto proclamava uma retórica de autonomia das escolas e de aumento do “rigor”. Mo entanto, o grande traço distintivo entre as ultimas equipas do ME foi apenas a introdução de provas finais de ciclo no 4º e 6º ano, erradamente apresentados por muitos como “exames”. Nuno Crato foi uma enorme desilusão porque traiu na sua acção política muitos dos princípios que enunciara enquanto popular analista do fenómeno educativo.
5. Medidas do novo ministério
Ainda é difícil perceber-se se existe mesmo um novo rumo na educação. Por via parlamentar, talvez para evitar o embaraço de uma iniciativa governamental nessa matéria, foram eliminadas as provas finais de 4º e 6º ano, anunciando-se um sistema de provas de aferição que apresenta algumas ideias interessantes mas também falhas de concepção e, neste momento, claros atrasos no calendário da sua implementação, reforçando a ideia de que esta aferição de pouco vai interessar.
Há algumas boas medidas que passam pela eliminação de péssimas decisões herdadas dos últimos governos, como a polémica Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competências (PACC), a morosa Bolsa de Contratação de Escola (BCE) ou a via demasiado precoce do chamado “Ensino Vocacional”.
Mas há também o anúncio de medidas que revelam uma concepção de escola algo terceiro-mundista como a “escola a tempo inteiro” que não tem paralelo nas nações mais desenvolvidas em termos educacionais ou sociais e que mais não passa do que da transformação da escola numa instituição assistencial para remediar a incapacidade de regular o tempo disponível para as famílias estarem com as suas crianças e jovens.
E há ainda a enorme omissão sobre temas como a flexibilização do modelo de gestão escolar, o fim do processo de concentração da rede escolar em “unidades de gestão” cada vez menos humanizadas, a recuperação de tudo o que foi perdido em termos de carreira docente ou mesmo o exercício de verdadeira autonomia das escolas, agora ameaçada por um processo de municipalização de grande parte das suas competências.
6. Forma de avaliar os alunos
As principais mudanças passaram pela oscilação dos critérios de avaliação externa, com a extensão de provas finais a todos os ciclos do Ensino Básico pelo anterior governo e a sua eliminação no 4º e 6º ano, por via parlamentar, no fim de 2015. Quando ao resto, permanece sempre a imensa pressão para produzir “sucesso” a todo o custo, atribuindo sempre a responsabilidade do “insucesso” dos alunos aos professores, aos quais é exigida a legitimação de todo os actos menos conformes com os desejos da tutela. O discurso recente deste ministro faz-me pensar que, nessa matéria estamos de regresso ao passado e a uma concepção abusiva da “pedagogia do sucesso” dos anos 90 do século XX.
7. Reorganização escolar
Os últimos anos assistiram à consolidação de duas tendências que acho profundamente nocivas e que resultam da aplicação de teorias de gestão, importadas do mundo empresarial para as escolas, alegadamente para as tornar mais eficazes e reforçar a “responsabilização” dos agentes educativos.
Uma delas foi a imposição de um modelo único de administração escolar, que eliminou quase todos os vestígios de procedimentos democráticos nas escolas, substituindo-os pelos princípios da nomeação hierárquica, sem qualquer tipo de abertura a outras soluções, nomeadamente as colegiais e de partilha das decisões e responsabilidades.
A outra foi a reconfiguração da rede escolar, tornando-a concentracionária e macrocéfala, mesmo a nível local, apostando em “unidades de gestão” com milhares de alunos e centenas de professores e funcionários, o que desumaniza as escolas e contraria as teorias que consideram que as “escolas à escala humana” são as mais eficazes em termos educacionais, mesmo se eventualmente menos baratas no funcionamento.
Resumindo, apostou-se na transformação da organização escolar num simulacro de “empresa” em que os alunos perdem o seu rosto individual para se tornarem “clientes” de um “serviço” cujo “patrão” (Estado) deve assegurar com base no menor encargo possível.
PDI
Não é apenas isto ou aquilo, é mesmo a sucessão de descontrações que dão a entender que o magnésio já não se agarra tão bem quanto outrora. Ontem, ao chegar ao auditório do debate em que ia participar em Peniche, saquei da pen em que tinha preparado a parte visual da minha apresentação, feita horas antes de fresquinho, sobre o papel e importância da comunicação para a profissionalidade docente e… estava lá apenas a imagem inicial e mais nada. Tinha ficado tudo no zingarelho do computador no quarto do hotel e eu nem tinha atirado aquilo para nenhuma nuvem ou anexado ao meu mail. A idade não perdoa e depois de uma semana de aulas, fica-se assim, mais para lá do que para cá. Só que com 70-80 pessoas diante de nós, nada como testar na prática a capacidade de comunicação sem adereços. E lá se fez… rabiscando o essencial do que tinha sido feito e seguindo em frente, esperando que não em direcção ao desastre final. Pelo menos, na parte que me diz respeito, diverti-me mais do que o habitual, pois estas sessões, quando se vai lá pelo gosto e não apenas pelos trocos, correm muito bem.
Imoralidade Assumida
É interessante – só admira que não tenha sido o MarcoGelAntónioLacaCosta a prestar declarações nestas matérias que conhecerá bem – que um vice-presidente do PSD assuma que em democracia só interessa o cumprimento da lei (feita pelos próprios políticos com as lacunas bem distribuídas pelas alíneas dos articulados) e não a moralidade. Porque, a bem dizer, nunca esteve em causa que comessemos todos. Afinal,a pocilga não é assim tão grande e até há míopes que nem a conseguem distinguir.
Peniche, Ao Amanhecer
Pelo Sol de Hoje – 1
Parte inicial das declarações completas para o Sol de hoje sobre o balanço que faço do que se passou na Educação desde a manifestação de 8 de MArço de 2008.
1. Imagem pública da classe docente
Ao contrário de muitas opiniões impressionistas, acho que a imagem pública dos professores saiu reforçada daquele intenso e longo conflito com o poder político, algo que é confirmado por todos os estudos de opinião que abordam a credibilidade e grau de confiança nas profissões. Os professores surgem sempre nos primeiros lugares, sendo apenas ultrapassados por bombeiros ou outras profissões de elevado risco. Para além disso, contra um discurso que afirmava o seu conservadorismo e comodismo, os professores conseguiram a primeira grande mobilização de massas da era digital, antecipando outros fenómenos do mesmo tipo em Portugal e na Europa.
2. Autoridade do professor
Esse é um tema algo fluido, porque a questão da “autoridade” costuma confundir-se com quase só com o poder punitivo do professor perante os comportamentos dos alunos, o que pode tender para uma confusão com o autoritarismo e o uso arbitrário do poder disciplinar. Essa componente é importante, mas não esgota a questão, pois a “autoridade” do professor contempla ainda a sua imagem perante os encarregados de educação e a sociedade em geral, seja no aspecto da sua autoridade “académica”, seja da sua importância social, até como modelo para os seus alunos. Nesse aspecto, a autoridade do professor entrou em erosão nas últimas décadas do século XX principalmente com a divulgação, em termos simplistas, de teorias pedagógicas igualitaristas e com o uso errado da tese de que “o aluno está no centro de tudo”, como se o papel do professor fosse secundário. Ora o que está no centro de tudo é a necessidade de transmissão geracional de conhecimento, sem a qual não existiria a necessidade da relação professor/aluno. Nenhuma lei ou decreto de tipo disciplinar consegue, de forma rápida, reverter os efeitos nefastos de muitas dessas teorias que estão de novo em voga no ME.
3. Eficácia/influência dos sindicatos
Os sindicatos são um elemento essencial da vida democrática e o professorado é das classes profissionais mais sindicalizadas. Se isso acontece por questões instrumentais (apoio jurídico, esclarecimentos em tempos de concursos, etc) ou por crença nas qualidades do sindicalismo concreto que temos pode ser motivo de acesa polémica. O que acho é que, gradualmente, os sindicatos se tornaram organizações burocráticas como outras, que privilegiam a ordem, a hierarquia e a disciplina, ao que acresce o problema da sua politização no sentido partidário. A percepção que tenho é que o seu papel em termos de negociação é insubstituível, mas que o seu processo de tomada de decisões nem sempre é o mais democrático, assim como parte da sua elite directiva se reproduz nos cargos, perdendo ligação aos professores em exercício. Pelo que a sua influência real existe mais na esfera da coreografia política do que nas salas de professores. E a sua eficácia ressente-se disso mesmo.
(continua…)
Pelo Sol de Hoje
Ainda não vi tudo o que saiu das declarações que prestei ao Sol. De qualquer modo, fica aqui a minha introdução ao balanço de sete pontos dos últimos oito anos de políticas educativas.
O balanço sobre o que mudou no ensino em Portugal desde a manifestação de 8 de Março de 2008 é complexo e depende muito da perspectiva que adoptemos, não apenas no sentido “corporativo” (o ensino visto por um professor é diferente de visto por um aluno, um político, um opinion-maker, um investigador em matérias de Educação ou mesmo um encarregado de educação) mas também consoante o ponto de partida. Devemos considerar que em 2008 algo de novo começou ou estávamos apenas numa fase inicial ou intermédia de um processo ainda em curso? Eu considero que esta perspectiva é a mais correcta e considero que em 2016 estamos ainda a viver um processo iniciado há cerca de 15 anos destinado a aplicar à Educação uma lógica “de mercado”, ou seja, de mercantilização ou “comodização” (commodization, no termo original) do ensino, a par da imposição das regras de uma tendência das teorias de gestão de final do século XX (new public management), preocupadas essencialmente com a eficácia financeira dos processos e o controlo burocrático dos trabalhadores, neste caso da Educação.