Gostar da Escola (Ou Não) – 3

Ignoremos a tabloidização dos títulos do JN e concentremo-nos no que mais interessa: a evidência empírica do aumento das baixas médicas por parte dos professores e o seu não tratamento estatístico pelo ME, apesar de ter os dados todos disponíveis. Parecendo que não, tudo isto está estreitamente relacionado com os efeitos perversos do ideal low cost para a Educação, o mais com menos que conduz a situações de burnout e de profunda desafeição pelo espaço escolar de um corpo docente sucessivamente martirizado por medidas destinadas a poupar com miopia. Medidas tomadas por gente que não percebe que aumentando peso no lombo das pilecas as faz andar mais devagar e, a curto ou médio prazo, cair para o lado e implicar a sua substituição. Não se choquem com a auto-caracterização que faço como pileca ajoujada por um “patrão” mais preocupado em poupar tostões no imediato do que perceber que está apenas a produzir despesa desnecessária a médio prazo. Porque cada professor que vai para casa, mesmo não lhe pagando, ou reduzindo-lhe a remuneração, quando mais precisa de enfrentar despesas adicionais, implica a sua substituição por um professor contratado que aumenta a despesa. O mais com menos deu nisto. Assim como os entraves a uma saída digna da profissão a muita gente que se queria aposentar ou rescindir contrato. Bullying profissional é o que eu chamaria ao que se tem passado nos últimos dez anos e parece estar para durar. As faltas dos professores, contadas por atacado, sem qualquer explicação ou caracterização, ainda acabarão por aparecer – quiçá à moda de um Valter Lemos – para procurar denegrir publicamente a imagem dos professores, assim que se ache oportuno. Tenha o ME a coragem de fazer a dita contabilidade e tratar esses dados, analisando as diversas razões. Tem meios para o fazer. Lembrando sempre que esta mentalidade de tio patinhas, leva ao aumento de despesa pública a par da quebra do rendimento dos professores que faltam e ficam sem receber.

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Jornal de Notícias, 16 de Março de 2016

Gostar da Escola (Ou Não) – 2

Um estudo da OMS sobre hábitos de vida na área da saúde e do bem-estar não analisa o grau de satisfação dos alunos com as aulas. Mas há alturas em que parece que sim. A minha experiência é que os alunos gostam da escola, mesmo se acham as aulas chatas, algo que está longe de ser uma grande novidade. Que os alunos estão menos satisfeitos com as escolas nos últimos anos, não me admira. Não são computadores e quadros interactivos que tornam as escolas espaços mais agradáveis para consumo humano. Quem pensa assim, está profundamente errado. Assim como já me vão cansando as permanentes ladaínhas à volta da escola do futuro e os arautos da teoria da escola que não mudou. Mudou bastante, o problema é que em muitos casos foi para pior. As mega-escolas, a opção por um sistema de escolas públicas assente na lógica do low cost desagrada, necessariamente, aos seus utentes, mesmo que encarados como clientes. Mas os teorizadores e executores do grande pacto educativo oculto estão muito pouco preocupados com isso, apenas lhes interessando ampliar insatisfações para reforçar pressões.

batmannthink