BBC no seu melhor.
Dia: 20 de Março, 2016
Honestidade
Contra o que tem sido habitual nos últimos anos, tenho metade das turmas com 50% ou mais de negativas. Como acho que é feio exigir que os alunos não digam mentiras e fazer o contrário, a minha justificação foi-lhes transmitida em primeiro lugar nas aulas em que conversámos sobre a avaliação. E, que me desculpem, não é no terceiro período que vou reformular estratégias como se até agora tivesse andado aos papéis ou a zanzar. Faltam 9 semanas de aulas, o que significa que faltam dois meses para muitos deles se preocuparem minimamente com o que andam a fazer pela escola, fora dos intervalos e dos furos. O que significa que vai preto no branco que, do meu lado, já faço tudo e mais alguma coisa, falta agora a parte deles. E nem sequer me vou refugiar no acompanhamento das famílias, porque isso é esperar que o horizonte venha deitar-se aos meus pés. Acho que quem quer que os outros sejam honestos, deve dar o exemplo e não se refugiar em eufemismos ou naquele ondulante e adjectivado linguajar típico de actas e agora de pêtêtês. E ainda bem que escrevi a coisa antes do raio da dor de dentes desta tarde.
Pura e Simplesmente
E se uma escola, digo, um Conselho Pedagógico, digo, um director, justificar a não realização de provas de aferição este ano porque, pura e simplesmente, o seu corpo docente está farto de palermices do ministério (mas escrevendo isto com fraseado mais bonito, mas não necessariamente muito longo), assim como a professores e alunos não apetece fazer provas de aferição que, a bem dizer, de nada servirão num regime transitório, ainda para mais quando se diz que se confia na avaliação interna feita pelos professores? Se assim é, se esta aferição é feita ad hoc e ao sabor da clientela, porque se haverá de andar a fazer testamentos justificativos para uma decisão decorrente de uma situação bem simples de total cansaço com estas trapalhadas e esgotamento pessoal e profissional de muitos professores? A autonomia não dá parta tanto? Fica-se numa lista negra de mal comportados, é isso?
Uóte?
(…)
2. A alteração do referido Despacho decorre do previsto no n.º 3 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, na redação atual, tendo o procedimento por objeto concretizar ajustamentos ao calendário escolar para 2015-2016.
Sendo que o artigo e nº em causa apenas determinam que:
1 – O ano escolar corresponde ao período compreendido entre o dia 1 de setembro de cada ano e o dia 31 de agosto do ano seguinte.
2 – O ano letivo é entendido como o período contido dentro do ano escolar no qual são desenvolvidas as atividades escolares e corresponde a um mínimo de 180 dias efetivos.
3 – O calendário escolar é definido por despacho do membro do Governo responsável pela área da educação.
Tanta aferição assassinada.
Gestão de Conflitos – 2
Agora com os dados da dupla sondagem do ComRegras, o texto possível em tempo de algum cansaço em torno destas questões.
Gerir Conflitos: Entre a Teoria e o Empirismo
Aquilo que actualmente é designado como “gestão de conflitos”, nomeadamente na sala de aula, é algo que talvez faça agora parte de alguma disciplina na formação inicial de futuros professores mas que, durante os anos de formação ou profissionalização da generalidade dos professores dos actuais quadros, praticamente ninguém ouviu falar, nem mesmo sob a cobertura mais directa da questão da indisciplina na sala de aula. É verdade que eu só fiz uma daquelas profissionalizações marteladas para malta que já andava a dar aulas há bastante tempo, em que a Psicologia e Sociologia da Educação eram dadas por atacado, mas não me parece que tenha sido muito diferente ao longo dos anos 80 e 90 do século passado, atendendo ao que sei de muitos outros colegas e modelos de formação inicial ou profissionalização, o que os dados da primeira sondagem comprovam.
Quer-me igualmente parecer, mesmo desconhecendo eu o plano de estudos de muitos dos cursos actuais de formação de professores e como eles se desenrolam no concreto, que a abordagem actual deste tipo de questões se faz muito pela análise teórica, pelas teorias sobre as razões dos comportamentos de indisciplina e técnicas de gestão de conflitos, mas muito pouco pelo contacto directo com situações do quotidiano real, em carne e osso, quando é necessário aliar ao saber teórico um controle das emoções e reacções no tempo curto de segundos e não no tempo da reflexão escrita.
Esta falha tem sido colmatada de modo muito deficiente por acções de formação contínua, mesmo se o tema se tornou um pouco “moda” na última década. Se há formações nesta área que se revelam inovadoras e dinâmicas, com a simulação de situações reais e a apresentação de cenários de resolução para debate entre os participantes em modelo de workshop ou círculo de estudos e não de palestras, é difícil negar que a aprendizagem da maior parte dos professores em exercício se fez ao longo da sua prática docente, com tentativas e erros, com experiências mais ou menos conseguidas, conforme os contextos e culturas de escolas, assim como as características dos diferentes grupos-turma ou alunos individuais.
Como poderia ser isto de outra forma? Ao nível da formação inicial com uma interacção muito maior entre as abordagens teóricas e o quotidiano escolar, com os futuros professores a assistirem na 1ª pessoa a aulas com grupos problemáticos, sem receios por parte dos docentes envolvidos em partilhar as suas experiências e vivências, sem pretensões de magistério ou apresentação de fórmulas únicas numa matéria tão complicada. Do mesmo modo, as acções de formação contínua devem ser repensadas para não se limitarem a repetir o que já é sabido, replicando-se ano após ano, de acordo com sebentas cristalizadas há mais ou menos tempo. Devem ser organizadas numa perspectiva multidisciplinar e não fugindo ao conflito entre formas diferentes, antagónicas ou complementares, de encarar a origem, prevenção ou resolução dos fenómenos de indisciplina ou “conflito” na sala de aula ou no espaço escolar. Porque o assunto não é apenas do interesse de professores deve mobilizar outro tipo de profissionais da Educação e, muito importante, chamar ao diálogo os alunos e as suas famílias. Sem este leque amplo de olhares sobre estes fenómenos, quase tudo permanecerá sem grandes alterações, com queixas sobre falta de formação ou com insatisfações diversas acerca daquela que existe. E esse será um péssimo serviço prestado a todos aqueles que vivem o seu quotidiano nas escolas e nas salas de aula.