No fórum da TSF discute-se por esta hora a precarização do trabalho e como Portugal, depois da Espanha e Polónia, é o pais da União Europeia com mais trabalho precário e contratos de curta duração (25% a dois meses no último ano). Esta desregulação do mercado laboral sempre foi o sonho de muita “direita dos negócios”, a que se juntou alegremente muita gente empreendedora de outros quadrantes porque dá lucro. Contrariando as choradeiras dos liberais de aviário que temos, o nosso mercado laboral é dos mais desregulados da Europa. Embora muitos amantes dos valores da “família” os césaresdasneves, arrojas e insurgentes estão-se nas tintas para os efeitos dessa situação na vida das crianças e jovens que têm os pais fora de casa, a trabalhar em horários completamente incompatíveis com uma vida familiar estruturada (mas devem considerar-se felizes, diz aquele senhor Saraiva, porque pior seria estarem desempregados). A solução? Dizem os tradicionalistas dos bons costumes e valores que devem as crianças e jovens devem ter o apoio dos avós (só que, graças ao aumento da idade da reforma e dos cortes a quem se aposentar mais cedo, são muitos os que também têm de estar a trabalhar), as organizações de assistência social, quiçá mesmo a vizinhança num modelo à ilha ou pátio oitocentista, ou o negócio florescente dos atl (de preferência sem recibos ou facturas ou então é mais o iva porque a tabela ali não conta com ele).
Do lado da Esquerda, a maioria rendeu-se às evidências, desistiu de contrariar de forma activa este estado de coisas – mesmo se grita o contrário em debates televisivos ou parlamentares – até porque precisa dos favores dos empresários que financiam campanhas ou a comunicação social (quer dizer, antes de se perceber que não passam de salgados em desgraça). E achou uma solução mágica para remendar a situação: as escolas a tempo inteiro, abertas até às horas que calhar, para servir de rectaguarda e suporte a um regime laboral iníquo que mais iníquo fica porque quem assegurar essas escolas a tempo inteiro ou não pode ter a sua própria família ou terá de a levar consigo (e depois surgem as queixas de privilégios) ou tudo se torna uma espiral completamente doentia. Mas há quem ache, até no plano do sindicalismo, que a escola a tempo inteiro é um enorme progresso. ‘Tadinhos, que já se lhes varreram os os verdadeiros ideais de melhoria da vida do proletariado (já são mais os que não usam esse termo arcaico, eu sei, mas aqui trata-se mesmo da prole) ou já se limitam a colocar pensos rápidos na infecção, daqueles pensos com bonecos e cores giras para distrair a malta.
No fundo vivemos num tempo de estalinismo liberal economico com uns pozinhos de maoismo
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Espero que esta geração sem pais, quando for adulta, olhe para trás e remende o que a geração dos pais phodeu por completo.
Eis como, depois de cerca de 20 anos de sol que prometia ser radioso e infindável, estamos a regressar ao século XIX.
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