Não sei que tipo de preconceito me irrita mais a este respeito, se o preconceito-jonê, se o preconceito-remorso do~pequeno burguês de esquerda.
A propósito deste post no Ladrão de Bicicletas sobre o qual nada de especial tenho a dizer (apenas que a malta do mainstream chega, em regra, tarde ao conhecimento destes dados e gruta Eureka), o João Paulo escreveu no FBook o seguinte:
Quem tem sugerido exames poderia comentar por favor? Quem acha piada aos quadros de honra pode comentar, por favor?
Ó faxavor, é já a seguir… até porque me sinto visado, pois não assobio para o lado, mesmo se não acho piada aos quadros de honra ou mérito, achando-os apenas uma coisa normal, sem que dela arranque sintomas terríveis de um regresso ao fascismo ou de uma prática para favorecer os “ricos”, até porque esses não precisam de quadros de mérito para se distinguirem e separarem do resto da malta.
Eis o que me irrita nesta versão de esquerda do “tadinhos dos probrezinhos”:
- Este tipo de atitude é profundamente preconceituoso e estereotipado em relação à capacidade de desempenho dos alunos socialmente menos favorecidos, como se existisse um determinismo que é impossível combater sem eliminar obstáculos, em vez de promover acções positivas. Há uma tendência de que devemos estar conscientes no sentido de a contraria, mas outra coisa é querer apresentar tudo como sendo uma lei científica do pobrezinho=mau aluno, portanto vamos lá ver se escondemos isso.
- Os “exames” são péssimos, a menos que provem as nossas teorias. Nesse caso, os PISA já são bons e não servem para fazer o mal às crianças e jovens.
- Devemos, numa lógica proletária de lutas de classes, eliminar tudo o que “favoreça os ricos”, mesmo que por tabela também atinja todos os outros que, não o sendo, gostam de ver o seu trabalho reconhecido?
- Em escolas onde quase todos os alunos têm problemas sociais e económicos, ninguém tem direito a destacar-se e a ser reconhecido pelos pares em função do mérito? É que a mim parece que há pessoal que só vê a vida a preto e branco, com preto e brancos, ricos e pobres, bons e maus. No meu caso, tanto pela origem, como pelo meio onde trabalho, estou mais habituado a conviver com o lado “de baixo” da sociedade e a ver como esses alunos se sentem felizes quando lhes reconhecemos o mérito publicamente, sem ser apenas com palmadinhas nas costas e parlatices diversas.
Mas, como sou uma pessoa aberta a experiências, eis algumas propostas minhas para aperfeiçoar esta teoria que nos anos 90 teve efeitos devastadores no ambiente das escolas (um dia eu terei de recordar coisas que se passaram, mas que muita gente não viveu, estava distraído ou se esqueceu, por conveniência ou degenerescência) e no próprio clima de sala de aula:
- Como no estudo em que se recolheram os dados a relação estabelecida é entre as habilitações escolares das mães e o desempenho dos alunos, na lógica de eliminação do que diferencia “pobres e ricos” deveremos proibir as mães de estudar para dar maior igualdade de oportunidades aos alunos?
- Como os sinais de mérito promovem a competição e potenciam a desigualdade, vamos acabar com as medalha do Desporto Escolar e com classificações nos campeonatos da diversas modalidades?
- Vamos implodir a graduação das listas de professores para efeitos de concurso, pois o mais certo é os mais graduados serem filhos de mães com mais habilitações e até serem de estatuto socio-económico mais favorável, visto poderem ter mais tempo de serviço e, por isso mesmo, terem ganho mais dinheiro.
- Passamos a chamar “exames” a toda e qualquer prova feita no final de um ano, independentemente do peso que tenha na classificação final dos alunos?
Uma última dúvida que se me acometeu agora… daquelas que me acontecem quando esbarro em paradoxos: se é tão forte esta crença anti-sinais exteriores de mérito, porque criticaram o Crato quando deixou de passar o cheque de 500 euros aos melhores alunos do Secundário? De acordo com a lógica do determinismo socio-educativo que defendem, eles já não seriam “ricos”?
(dispenso críticas muito ácidas a estas minhas observações de pessoal que coloque muitos diplomas da sua descendência ou alunos nos seus murais das redes sociais, ok?)