Ao André Azevedo Alves. Quando se começa a citar João César das Neves já é mau sinal. Mas quando se pretende que regular o “mercado da Educação” é atacar a Igreja Católica então já se entrou em desvario total. Mas então a obra divina, para além de isenção fiscal, ainda carece de subsídio? E o que tem a URSS a ver com isto? Se querem que vos diga, entre o Vaticano a União Soviética existem bastantes afinidades, desde a ortodoxia da fé ao monopólio da alegada verdade. Só que uma tem sido mais durável e envergonhará mais o fundador que não confundia o que era de Deus com o que era de César.
Mês: Abril 2016
A FNEprof a uma Voz
Servindo os seus senhores (e ocasionalmente os professores), cada um em seu tempo, João e Mário parecem siameses separados à nascença, ambos apenas preocupados em estar à mesa das partilhas. As clientelas locais, do laranja ao vermelho, passando pelo rosa, aguardam com sofreguidão os poderes adicionais.
7 de Junho de 2014:
30 de Abril de 2016:
Agora relembremos que a questão da colocação de professores não se coloca há muito e que há quem acene agora com ela como se estivesse prevista, o que não é verdade:
Pois… se calhar ainda dá passos com o seu sucessor e a benção mal amanhada da FNEprof. Com todos os seus defeitos, pelo menos nisto Crato cumpriu o que prometeu… já o Mário…
(…)
O Vira-Casacas Profissional
Não é a primeira e muito menos será a última vez que os princípios e a coerência se subordinarão ao pragmatismo e à sofreguidão por uma qualquer outra coisa. Não comento de forma mais extensa, em especial porque ainda me lembro da intempestiva intervenção em Aveiro, por ocasião do seminário do CNE sobre este assunto e ainda me podiam sair alguns impropérios do teclado sobre a “municipalização boa”.
Diário de um Professor Conservador, Segregacionista, Racista e Entediante – Introdução
Há alturas em que a conjugação de diversos pequenos acontecimentos me produz assim como que uma bolha de bílis que se não for espremida ainda é capaz de me fazer mal. Por isso – e mesmo sabendo que não é nada “pessoal” – decidi fazer esta espécie de diário sobre a minha experiência enquanto parte dessa imensa malta (turba?) que tem voltado a ser apresentada à opinião pública como a necessitar de ser “educada” para perceber a diversidade étnica e cultural e de ser “formada” para não segregar ou aborrecer os alunos e entender as pedagogias avançadas do século passado.
Para começar, gostaria de vos dar uma visão breve, estatística em nome do rigor que seria “científico” não fosse eu apenas um básico quintaleiro, da realidade em que me movo e que me limita, certamente, o olhar e a perspectiva do tipo big picture a que só verdadeiros investigadores podem almejar.
Então é assim: tenho 6 turmas (um 6º ano de Português, quatro 7ºs de História e um vocacional equivalente ao 9º) mais dois pequenos grupos (agora com 6+3 alunos) de alunos com necessidades educativas especiais (para além dos que estão presentes nas turmas) a quem dou umas aulas (segregadas, claro) de Iniciação à Informática,
Globalmente, nas seis turmas tenho exactamente 50% de alunos branquelas e 50% com diversos outras tonalidades e pigmentações (entre os outros a divisão é de 55,5%/44,5%), se é que me permitem a linguagem xenófoba. Fazendo um cálculo rápido em relação a 5 das turmas (não consegui achar os dados para o vocacional aqui em casa), 64,8% dos meus alunos são beneficiários da ASE (43,5% no escalão A e 21,3% no escalão B). Desse total, 54,3% são caucasianos e 45,7% de outros “grupos étnicos e culturais” para usar a linguagem do politicamente correcto e da diversidade. Os dados da turma que falta não alterariam este panorama.
Em termos de sucesso, de acordo com os dados do 2º período, no 6º ano os 100% de sucesso dos alunos avaliados (phosga-se! sou mesmo bom, mas no 7º ano sou muito mau!) distribuem-se da seguinte forma: europeus de gema, 100%; afrodescendentes, 100%; ciganos, 100%. Sou hábil a esconder os preconceitos, incluindo aqui mesmo os alunos com PLNM (quem não sabe o que é que google). A turma tem 74% de alunos com apoios da Acção Social Escolar (20 em 27), sendo 8 dos azuis claros e 12 dos azuis escuros.
Nas turmas de 7º ano (e eu garanto que nunca fiz este tipo de cálculo, por sempre o achar irrelevante até ler certas coisas tipo-isczé contra o racismo nas escolas), reservando elementos mais específicos que não são para blogues, tenho a seguinte relação entre sucesso (por ordem descendente), grupo de pigmentação e apoios socio-económicos. A avaliação nos vocacionais não se presta a uma análise comparativa deste tipo.
Eu sei que conclusão evidente se pode extrair destes dados, mas como não gostaria de entrar em simplismos a partir de uma amostra tão localizada e à qual faltam elementos importantes, não contabilizáveis numa tabela desta, ficarei apenas por mostrar. Muito menos pretendo generalizar qualquer “cientificidade” a esta análise. Agora que, no seu empirismo muito “básico”, algumas coisas parecem fazer sentido e contribuem para a minha visão particular e limitada de todos estes fenómenos, lá isso é verdade. Mas também pode ser que eu seja um elitista que discrimina os mais desfavorecidos do ponto de vista económico. E necessite ser “educado” e “formado” para não me portar assim.
Mandem-me já para a “reeducação”, assegurada por especialistas tipo-isczé (no mandato anterior era mais tipo-católica). Não se esqueçam dos choques eléctricos, logo que eu diga que a turma com melhores resultados tem menos 5 alunos do que as que têm piores, porque isso não está “provado cientificamente”.
(agora vou ali… apesar da tarde soalheira ainda tenho a segunda parte de 27 testes de Português por classificar, sempre numa perspectiva conservadora de um modelo ultrapassado de avaliação das aprendizagens que eu ainda não consegui perder nestes tempo de aferição facultativa… ou não)
Ementa Completa
Tinha-me esquecido… os professores “conservadores” que não alinham na conversa fiada pretensamente muito “pedagógica” actualmente em desfilada, para além de segregarem alunos com necessidades educativas especiais e atribuírem classificações com base na cor da pele, ainda entediam os alunos ditos “regulares”. Isto tudo no espaço mediático, político e “científico” de uma ou duas semanas. Se não conhecesse já esta estratégia de outros tempos, até me sentiria incomodado. Assim apenas me sinto segregado profissionalmente, entediado intelectualmente e quiçá objecto de algum racismo “científico” por ser um gajo branco, professor de meia idade, hetero e apreciador de boa comida.
(mas gosto de gatos fofinhuscos…)
Educativo
O artigo na revista do Expresso sobre ghost writers para famosos (leia-se personalidades televisivas ou dos futebóis, porque se nota como foi evitada a abordagem de “autores políticos). Percebi que mais vale ser fantasma do que escrever em nome próprio aquilo que se pensa. E até se ganha mais e tudo. Falhei claramente a vocação.
Mais uma Rodada, Mais uma Voltinha
Eu já nem vou debater a bondade da iniciativa ou a sua (des)adequação nesta ou aquela área do currículo. Aquilo que gostava de destacar é a imensa instabilidade que tudo isto causa, a cada par de anos, porque muita das transformações nem chegam a durar o equivalente a um mandato, quanto mais a um ciclo de todo o Ensino Básico. Podemos ouvir e ler os maiores especialistas do mundo nestas matérias, enuncias as melhores das intenções, até – em casos extremos – abordar o problema com seriedade e sentido de serviço público (e não apenas prestar serviço a capelinhas), mas a verdade é que estamos quase sempre perante uma manta de retalhos, mal cosipada. E a muito repetida por estes dias “confiança nos professores” é tão só a confiança nos professores que pensam como eles. Na peça do Expresso desta semana, honra seja feita à representante da APH (História) que admite sem problemas que um programa de História será sempre longo, por muitas voltas que se lhe dê.
Expresso, 30 de Abril de 2016
Portugal Papers
Enquanto os do Panamá são servidos em modo folhetinesco em torno da família Salgado e amigos ou dos amigos de Sócrates, talvez andemos distraídos em relação a outros pântanos, controlados por gente que há décadas controla mais do que parece e já parece muito. Havia e há um programa da TSF que, a dado momento, juntava como se fossem senadores da República Luís Amado, Maria de Lurdes Rodrigues e Proença de Carvalho. Sempre achei o lote muito compostinho e um indicador brilhante do Estado da dita República.
Sol, 30 de Abril de 2016
A CMTV Estava Lá
E eu zappei na hora certa. Ao que se disse, umas 300 pessoas juntaram-se algures para fazer uma manifestação de pais (e mães) para confrontar a secretária de Estado da Educação com o seu desejo de continuar a frequentar indefinidamente colégios privados com subsídios do Estado. Entre o som histriónico de uma manifestante que evocou o nome de Mário Nogueira em vão e a resposta da secretária de Estado fiquei assim a modos que coiso para o resto do fim de semana.
(tudo isto é mau, muito mau, demasiado mau)
As Horas para DT
O que leio no nº 4 do artigo 10º do projecto de despacho (ProjectoDOAL2016) é que “para o exercício das funções de diretor de turma cada escola gere quatro horas semanais, a repartir entre as horas resultantes do crédito horário e a componente não letiva”. Não me parece mal, mas espero que tenham percebido que não aumenta a redução da componente lectiva. Em boa verdade, até pode ficar (quase) tudo na CNL.
Mais clara e positiva é a medida de separar o crédito horário das escolas da avaliação (interna ou externa) dos alunos.