Não É Verdade! – 2

Por razões que não interessa desenvolver muito, mas que em parte se devem à necessidade de aclarar publicamente a minha forma de analisar estas coisas, gostaria de voltar a este post. Uma espécie de defesa da honra, porque a tenho.

Cansado de tentar discutir racional e factualmente as coisas, talvez não me tenha detido na demonstração da minha exclamação. Vou fazê-lo agora de forma muito objectiva.

1. Lê-se a páginas 45 do estudo do CNE com o título Organização escolar: as turmas: “Consequentemente, e tendo por base o custo médio anual de um docente contratado e de um assistente operacional (27 000€ e 10 000€, respetivamente, de acordo com dados fornecidos pela DGEstE, 2015), o encargo financeiro direto resultante seria superior a 750 milhões de euros (Tabela 5.2.3.).

2. As tabelas dos vencimentos brutos dos professores em 2016 está aqui e acrescento-lhe uma nota explicativa do MEC de 2014 quanto ao índice salarial a aplicar aos docentes contratados, que deveria ser o 167 (podendo ser o 151 ou menos no caso de técnicos especiais ou especializados).

3. Vou assumir que todos os professores contratados o são de 1 de Setembro a 31 de Agosto, auferindo 14 meses de salário sem qualquer redução salarial.

4. Para comodidade das contas, vou usar o valor de 1500 euros mensais vezes 14 meses de salário, o que perfaz 21000 euros anuais, a 6000 euros do valor apresentado no estudo do CNE com base em dados da DGEstE.

5. Atendendo a que o estudo apresenta o número de 27 689 docentes adicionais para implementar a medida de reduzir para um máximo de 20 alunos por turma, esse diferencial significa que existe um desvio no cálculo final do CNE superior a 166 milhões de euros. Sem outros factores adicionais de contestação aos cálculos técnicos do CNE (aceitando o número de assistentes operacionais adicionais), isto baixaria o encargo da medida para menos de 590 milhões de euros, ou seja, uma diferença superior a 20%. do valor publicitado.

CNESAlarios

6. No post em causa, escrevi que “pessoalmente, acho que reduzir o número máximo de alunos no 1º ciclo para 22 e a partir do 2º ciclo para 26 seria já muito bom e, assim por alto, acho que a coisa se ficaria pelos 200 milhões de euros, dos 200 milhões de euros melhor aplicados em Portugal na última década”. Algo que mantenho.

7. De vez em quando gosto de deixar bem claro que, apesar de algum tom ligeiro na escrita e de algumas “picadelas” cirúrgicas, levo estas coisas mais a sério do que parece.

Muit’agradecido.

PG 4

Democracia, Talvez

Depende das longitudes e latitudes. Na Islândia, rapidamente se resolvem as coisas. Quanto à Rússia, ninguém está verdadeiramente à espera que o Putin se atemorize com coisas destas. Já por cá, andamos no jogo do gato e do rato da investigação e é interessante ler as letrinhas pequenas das notícias do Expresso (último parágrafo desta) para se perceber que mais do que proteger um exclusivo se anda a ver que damage control se poderá fazer caso as chamas atinjam gente séria e que merece um jornalismo responsável. O que a mim mais impressiona é que, se tudo é legal, porque existe tanto receio num conhecimento alargado destas situações que retiram muitos milhões de euros do país, beneficiando apenas uns quantos, que depois têm de ser compensados através do esbulho fiscal da larga maioria. em termos de cidadania é essencial saber quem prefere “optimizar” ou tonar “mais eficaz” a sua fiscalidade para comparar com as picaretas falantes que andam pela comunicação social a pregar a austeridade e a moral financeira aos outros. Porque eu tenho mesmo muita curiosidade em saber esse tipo de coisas, não por voyeurismo, mas para ter a certeza de que se passa muito daquilo de que se ouve falar e se certos sectores “de sucesso” da nossa economia não passam de gente que gosta demasiado de “flexibilizar” e “optimizar”, mas raramente de contribuir para o bem comum.

Confesso a minha admiração e confiança no Pedro Santos Guerreiro que considero (sem qualquer hipocrisia) um excelente jornalista que chegou com mérito à direcção do Expresso. Mas talvez por já o ter visto e ouvido falar de coisas delicadas, em ambiente restrito, com bastante à vontade, é-me impossível não notar o seu incómodo em alguns momentos desta aparição televisiva (cerca do 1’50” ou dos 4’15” em diante, com destaque para os 4’50”). Até porque não é credível que, após um ano de investigações, ainda seja necessária tanta investigação adicional para nos dar a conhecer o que temos direito de saber e não estarmos dependentes de critérios sobre o que é, ou não apenas “eficiência fiscal”. Ele usa alguma vezes o qualificativo “assustador(a)”. E eu acredito que sim e que ele esteja com uma bomba nas mãos.

claustrofobia

Currículo Participado?

Iniciativa interessante. Resta saber o que farão com os contributos não institucionais e para quando nos andarão a preparar novos programas, etc, etc. Ou se é para levar isto mais a sério e termos um “desenho curricular” novo. Desde que não seja demasiado transversal, voto sim. Ainda mais se não tiver o destino da iniciativa de há 10 anos, também com o PS no Governo (os contributos institucionais e individuais estão aqui e de muito pouco serviram). Ou ainda de outra iniciativa, mais restrita, de 2010.

Thumbs

Los Hay!

São 34 em Portugal. O Irish Times tem um mapa (outro aqui). O Expresso ainda investiga aquela coisa da eficiência fiscal. Se a coisa não for empurrada de fora para dentro não desencrava. O Sol diz que “são pessoas relevantes na sociedade portuguesa”, mas que só sabemos do Idalécio (vai-se a ver e é um colega meu da primária).

Fogo que arde sem se ver.

E nas ilhas Caimão, quantos serão?

Mentiras

Exactamente!

Do editorial do Público de hoje:

Sendo verdade que é possível colocar grandes somas de dinheiro em paraísos fiscais sem cometer uma única ilegalidade, naquilo a que os fiscalistas chamam simpaticamente “planeamento fiscal agressivo”, também é evidente que muitos dos casos que vieram a público não passam de esquemas para esconder os reais donos do dinheiro, ocultar a própria origem do dinheiro (muitas vezes criminosa) e fugir aos impostos.

Haddock

 

Novo Dicionário Educacional – Letra C

Criatividade – conceito interessante e multifacetado que podemos encontrar a vários níveis no sistema educativo, não se restringindo aos casos abaixo enunciados.

1. Capacidade da tutela política encontrar “soluções” mais ou menos arenosas para situações complicadas, combinando intervenções públicas cheias de floreados retóricos com diplomas legais com preâmbulos de uma excepcional vacuidade substantiva e um articulado que se emaranha em si mesmo e nos faz tombar em dois tempos, de riso ou apenas em virtude do seu efeito hipnótico sobre a mente. Em muitos casos, a criatividade expressa-se em meandros burocráticos que visam fazer desaparecer fenómenos incómodos em esquemas do tipo catch 22 (cf. verbete sobre abandono escolar na letra A). Se os decretos-lei são memoráveis pelos seus preâmbulos, os despachos e portarias esmeram-se na clarificação dos artigos dos decretos, traduzindo em três parágrafos o que antes estava em três linhas, conseguindo quase sempre uma profundidade inesperada na hermenêutica da alínea e uma excelente opacidade no aclaramento do número 3 do artigo 27º do decreto 1327/2017 de 29 de Fevereiro quando conjugado com a alínea j) do ponto 5 do despacho 340/ME/1991, atendendo ao que ficou estabelecido no decreto-lei 21/20oo na sua republicação pelo decreto-lei 1321/2045 de 25 de Dezembro ao cair da tarde, revogando-se toda a legislação em contrário, excepto a que fica em vigor ou aquela que ninguém sabe se ainda está ou não.

2. Conjunto de práticas tradicionais dos alunos para escaparem a tarefas incómodas, comunicar entre si em plena aula ou dela para fora, justificar atrasos ou faltas ou tentar auxiliar a memória em dia de testes. São práticas imemoriais que apenas mudaram de suporte em alguns casos (o papel substituído pelas mensagens ou cábulas electrónicas). mas que mantêm os seus traços identificativos fundamentais e transmitem aos professores (falo por mim) uma combinação de conforto perante o regresso anual a territórios desconhecidos e algum desânimo pela limitada capacidade de inovar em tempos tão inovadores (pelo menos de acordo com os especialistas em inovação – verbete já produzido na letra I).

3. Qualidade dos professores para criar sempre algo novo destinado a tornar mais asfixiante e insuportável uma qualquer directiva da hierarquia mais ou menos distante. Nos últimos anos, traduziu-se na capacitação (capacitar e seus derivados terão verbete na letra C) de um grupo crescente de professores para produzir grelhas, desde as que recuperam as velhas tabelas para planificação das actividades (a curto, médio ou longo prazo) até às folhas multicoloridas de excel, com imensas colunas para todos os aspectos relacionados com a avaliação dos alunos (mas também do desempenho dos professores) no sentido de obter uma objectividade tal no acto que os faça sentir (aos avaliadores) seguros contra qualquer recurso, intempérie natural ou queda de autocarro em ravina durante as férias no Laos. As mais criativas, esteticamente conseguidas e cromaticamente equilibradas, costumam ser produzidas por pessoas que defendem uma abordagem teórica libertária da avaliação e que são contra provas finais ou exames. O que só é um paradoxo (verbete na letra P) na aparência.

Diario

Vai-te Capacitar!

Há “verbas excessivas” da UE para a educação, em detrimento da formação

Paulo Nunes de Almeida, presidente da AEP, defende que os planos de formação e capacitação são um “mau exemplo” de uso de fundos europeus. E avança que ainda há pagamentos em falta do anterior quadro comunitário, da ordem dos cem milhões.

Lingua2