Isso Mesmo… Prioridades

“É sempre exequível [a redução de alunos por turma], é tudo uma questão de prioridades, e obviamente que o dimensionamento das turmas tem de ser pensado, tem de ser equacionado, e é isso que estamos a fazer”, respondeu Tiago Brandão Rodrigues, esta segunda-feira em Constância, quando questionado pelos jornalistas sobre as propostas da Conselho Nacional da Educação (CNE) e do Partido Ecologista Os Verdes.

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Eminências Pardas

Achando eu que estou incapacitado para discutir assuntos de índole estatístico-financeira relativos à Educação, acho que o melhor é remeter-me a outras áreas, porventura bem mais decisivas, como sejam as pessoas que não sendo bem DDT são MNT (mandam nisto tudo) no fresco sombrio dos corredores do poder, não sendo “anónimas” porque gostam de deixar o nome em imensos locais, só que não visíveis ao primeiro olhar.

As eminências pardas da governação, não apenas na Educação mas este é o sector que conheço menos mal (mas longe de bem), são quem verdadeiramente coloca as engrenagens a funcionar ou a empanar, em assim o querendo, independentemente de ministros ou outros políticos em trânsito. Aliás, até preferem bem mais as cordiais relações com chefes de gabinete ou mesmo com aqueles secretários de Estado colocados com base nas quotas internas dos grupos de apoio ao governo de passagem. Há quem se sinta muito importante com o facto de ter o “número d@ ministr@” ou mesmo (como eu já ouvi a alguém) de “os tratar a todos por tu”, mas a verdade é que só temos alguma importância quando essas eminências se preocupam em ter o nosso número, porque isso significa que lhes entrámos no radar.

A nossa importância não se mede por aquel@s a que conseguimos chegar às falas, mas sim por aquel@s que querem chegar às falas connosco. Seja porque pensam que poderemos ser um investimento para o futuro em termos de amizades fingidas, seja porque assim sempre terão uma via para tentarem exercer o seu controlo. São el@s que têm todos os contactos relevantes, a quem se recorre para facilitar desenrascanços. E el@s sabem o poder que têm e os créditos que acumularam após laboriosos anos de tecelagem delicada que detesta o ruído e as más maneiras de quem é recém-chegado ou de quem espreita e desgosta do que vê. Sentem-se imprescindíveis nos seus conhecimentos, condescendentes com os mandantes do momento, cortesãos que cultivam a sua corte porque são vassalos meramente nominais de suseranos frágeis.

As eminências pardas são aqueles que sempre encontram a solução para todo o embaraço que decidem resolver, pois sabem imensamente mais do que a generalidade dos governantes. São os nossos Humphreys Appleby sem o cavalheirismo do sir, mas igualmente inoxidáveis nos seus punhos de renda forjada.

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Low Cost

Devem os serviços públicos ser geridos de acordo com a lógica da marca branca, do mais baixo preço médio por “utente” (na Saúde, Educação, Segurança Pública, Justiça), quando quase ninguém (entre as elites decisoras) se preocupa com o preço médio per capita pago pelos desmandos dos salgados, banifes, bêpêpês, para não falar em tudo aquilo que ainda está debaixo d’água? Porque devem os alunos comer refeições contratualizadas ao tostão mais baixo quando há milhões para pagar a consultores internacionais para que estudem de que forma devemos perder dinheiro com suópes e coisas assim

CAixaReg

Ficção Pura

Cheguei à conclusão – de novo – que não é possível estabelecer qualquer tipo de análise ou debate racional sobre Educação entre nós com base em indicadores estatísticos ou valores oficiais fornecidos pelas autoridades que deveriam ser competentes, porque tudo se perde num emaranhado de simulacros da realidade.

Não, não é uma teoria da conspiração.

Parece que em termos de contabilidade pública, consideram-se encargos para o Estado os salários pagos aos seus funcionários e mais uns adicionais que o Estado paga a si mesmo, mas não se descontando à “despesa” os impostos recolhidos a esses mesmos funcionários. Ou seja, no caso que me tem vindo a ocupar, um professor que recebe anualmente 21000 euros brutos, dos quais recebe efectivamente à volta de 15000 euros (dependendo do estado civil e número de filhos), significa para o Estado nas suas contas um “encargo” oficial de 27000 euros. O que, em meu escasso e sincero entendimento, é uma enorme ficção e deturpa qualquer análise do que custa efectivamente um professor com horário completo a leccionar numa escola.

Não é a primeira vez que acho que tudo isto é uma enorme mistificação estatística. Não faço processos de intenção a ninguém quando usa dados destes a partir de fontes “oficiais”. Só que, como em outras áreas em que seria fundamental sabermos ao que andamos, nada disto passa de uma imagem desfocada da realidade. Como aquelas cascatas de números no Matrix. Sempre li com estima o Philip K. Dick. Agora sinto-me no meio de uma das suas novelas mais asfixiantes.