É uma dor de alma ler e ouvir coisas do género “Cacilhas é a nova Brooklyn” (aqui) ou “Lisboa é a nova Berlim” (Visão desta semana) ou “o Porto é a nova [preencher a gosto]”. Ou dar com o entusiasmo infrene com o facto de existir uma exposição sobre Amadeo de Souza Cardoso em Paris. Não me parece que Brooklin se tenha afirmado alguma vez como a nova qualquer coisa ou que os berlinenses se sintam orgulhosos se compararem a sua cidade a uma qualquer outra. Mas os pacóvios de cá pouco mudaram desde os tempos das prosas bárbaras de Eça.
Londres, Nova Iorque, Berlim, suam e trabalham, em espírito. Ela não tem que semear: por isso, ressona ao Sol.
Às vezes, porém, comete o mal, enterrando ideias. Aonde? Na escuridão, no silêncio, no desprezo. Lisboa é um pouco coveiro de almas!
Como Roma, ela tem as sete colinas, como Atenas, tem um céu tão transparente que poderia viver nela o povo dos deuses. Como Tiro, é aventureira do mar. Como Jerusalém, crucifica os que lhe querem dar uma alma. Todavia Lisboa o que faz? Come..
(…)
Deus não vê da sua varanda de sol, e então, para esta velha cidade, heróica e legendária, que nos seus velhos dias tomou o pecado da gula, o abdómen é uma realidade livre! Até ali, durante o dia, os seus cabelos caíam como ramos de salgueiros, as suas faces estavam amortalhadas, dos seus olhos chovia dor; ainda não tinha comido! Depois, à noite, quando sai do alimento como de uma vitória, os olhares são gritos de luz, os cabelos plumas gloriosas, o peito arca de ideias; comeu!
Lisboa nem cria, nem inicia; vai.
Lisboa era a capital de um império. Império de especiarias. Como não amar os prazeres da gula?
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Subscrevo.
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O deslumbramento pacóvio de elitezinhas pequeninas mas cheias de si…sobejam por todo o lado, no jornalismo, na política, na decisão, na economia,…. a triste pobreza da pequenez da essência.
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