Novo Dicionário Educacional – Letra M

Metas – é uma palavra que entrou no léxico educacional com maior ímpeto já neste milénio, seja na forma de “metas de aprendizagem” com Isabel Alçada (ainda estão online, incluindo para o pré-escolar), seja no modo “metas curriculares” com Nuno Crato. Por definição arcaica e conservadora, meta é algo que se pretende alcançar, sendo um termo muito usado no desporto. Não me choca a sua adaptação à terminologia da Educação; o que me baralha são as concepções “operativas” muito díspares que se tem de um termo aparentemente claro. Em tempos de Isabel Alçada, foram-se transformando em metas de sucesso, quantificadas, ainda me lembrando de reuniões feitas para se definirem intervalos de sucesso previsível até 2020 (era o essencial da Estratégia Europa 2020), com desdobramentos anuais, no que foi mais um dos trabalhos desnecessários que atiraram para cima das escolas ali por 2010. Já no caso de Nuno Crato transformaram-se em elencos de conteúdos programáticos a leccionar pelos professores e teoricamente a aprender pelos alunos, tornando-se comum a produção de documentos para registar com zelo o que se concretizava e o que ficava por concretizar, com a devida justificação. Mas eram coisas claramente a alcançar, como numa prova desportiva. A principal divergência, na dicotomia essencial Direita/Esquerda, é que para a ideologia canhota mais fofinha (a que pertence a actual equipa do ME) as metas para os alunos são uma coisa meio flutuante, a que todos devem chegar, mas sem que devamos fazer uma classificação ordenada que possa ferir susceptibilidades, enquanto para a Direita e Crato eram algo que obedecia a uma lógica rigidamente hierarquizante, dando-se medalhas aos vencedores e partindo as rótulas aos vencidos. Comum a ambas as perspectivas a responsabilização quase exclusiva (o quase é uma forma de expressão) dos professores por se alcançarem ou não as ditas metas, fossem todos ao molho ou cada um no seu lugar. Por estes dias, temos um debate acerca da adequação (ou não) das metas programáticas em vigor, sem que se perceba se é o conceito que está em causa se apenas a forma de o operacionalizar. Já sabemos que há metas para o “sucesso” e para a diminuição do abandono escolar, só faltando sabermos se isso será feito com base em políticas sociais pró-activas ou em truques administrativos relacionados com o seu registo (no caso do abandono) ou em imposições burocráticas quanto à avaliação dos alunos pelos professores (no caso do sucesso). Resta saber se em termos curriculares e de programas disciplinares vamos ter uma nova formulação de “metas” (a terceira, em alguns casos, ainda com a década a pouco mais de meio) e se continuamos a correr sobre o vazio e a produzir papelada que vai para o ecoponto quando ainda nem aqueceu nos dossiers.

Diario

Só me Falta Ganir

Há cerca de quinze dias escrevi que a FNEprof se iria satisfazer muito se no contexto actual lhe concedessem umas amesendações negociais. E não é que eu até estava coberto de razão? O que não é de espantar porque conheço – de longe – os actores desta farsa. Feita reunião ontem, qual o primeiro ponto do comunicado oficial? O seguinte:

Sem prejuízo da realização dos processos negociais a que se sujeitarão todas as matérias que a lei obriga, bem como da participação da FENPROF nos processos de consulta pública que forem desencadeados, trimestralmente haverá uma reunião entre o Ministério da Educação e a FENPROF para avaliação das políticas em curso e debate sobre medidas a tomar;

Os novos tempos são estes. Reuniões trimestrais, replicando as do Governo com o BE e o PCP, apenas com a diferença que neste caso não acredito que exista grande coisa para “avaliar” que a FNEprof não carimbe por baixo, ou alguém espera sinceramente que a “territorialização” (=municipalização) da Educação deixe de avançar porque um referendo sindical deu um resultado esmagadoramente contra? Quanto muito – tal como a FNE em tempos de Crato – ficarão satisfeitos com o papel de consultores do processo, para “avaliar” do “processo”. Dizem que não existirá transferência de competências sobre o pessoal docente, mas isso JÁ NÃO ESTAVA (basta lerem os documentos e não engravidarem pelos tímpanos) previsto nem foi colocado em prática nos casos já concretizados nos tempos do anterior senhor. Vamos ser completamente aldrabados nesta questão, assim como em outras como a da gestão escolar, que continuará na mesma, ou no das carreiras, em que descongelaremos quando entenderem que sim, dizendo-se que é em 2017, o que eu acho que não é verdade e que a FNEprof bem o sabe. E o resto é treta, poeira nos olhos da malta que nada ganha com estas “rondas negociais” para enganar os fiéis, os pategos e os operacionais profissionais.

Mandem vir as pizzas, que os professores já estão demasiado chamuscados neste churrasco, mesmo se vão ser comidos na mesma, até ao tutano e de volta.

Pizza

Estou Marreta de Dizer…

… que há mais rabos de palha do que nos querem fazer acreditar. Não há honoris causa de borla, nem notícias fofinhas sem almoços por conta. O conta-gotas das revelações não se explica apenas pela massa de informação disponível, mas pelo enorme incómodo que pode causar em certos círculos de gente que gosta de passar por séria. Noticiadores ou opinadores. Há publicações que não poderiam suportar tanto articulista remunerado sem um oleoduto financeiro bem dirigido.

E nem falo das inocentes viagens patrocinadas. Não apenas pelo espírito santo, mas por muitas outras “entidades”, com ou sem offchoras. Há novaiorquinos, parisienses, bruxelenses e/ou londrinos  de adopção de tanto passearem à pala de mecenas. Houve alturas em que eu olhava (olho?) para os escaparates matinais e até via as caixas registadoras a tilintar. Há jornais que não admira fecharem, admira é porque ainda continuam abertos sem que se conheçam os patrocínios de forma nítida. Como é possível que empresas falidas compr(ass)em tanto espaço publicitários ou dezenas/centenas de exemplares para distribuir?

Luvas para jornalistas: Sindicato pede “clarificação” ao Expresso

O Sindicato dos Jornalistas pediu ao jornal Expresso para divulgar os nomes dos jornalistas que diz estarem envolvidos numa investigação judicial relacionada com o designado “saco azul do BES”.

Pig

Nada Disso, Apenas Marketing Peneiroso

Os velhos novos (e os novos velhos) da Direita portuguesa têm desenvolvido uma estratégia de marketing muito interessante para se apresentarem ao público com uns pobres discriminados na sociedade e na vida política nacional, uma espécie de coitadinhos, cercados em terra de canibais esquerdistas façanhudos e  ferozes. Agora até há um curso e tudo com o patrocínio (óbvio) do Observador.

Mas talvez fosse interessante recordar a cronologia e um pouco de História, sem ser nas versões hiper-revisionistas do Ramos ou do Raposo, por vezes ainsa mais facciosas que a do seu simétrico e modelo Rosas.

Após 48 anos de um regime ditatorial de Direita, o 25 de Abril instituiu a Democracia entre nós (e reparem como eu não escrevo reinstituiu), através de uma Revolução que alguns gostam (dependendo dos momentos) de dizer dominada rapidamente por Comunistas e a Esquerda a galope. Pois… mas a verdade é que em 1976, o primeiro PR eleito o foi com o apoio de toda a Direita parlamentar. Em 1978, já o CDS estava no governo em coligação com o PS e seguiram-se dois governos da AD com uma aliança PSD/CDS. A essa coligação sucedeu-se o Bloco Central com o PS e o PSD e depois 10 anos de governo do PSD, com dois mandatos em maioria absoluta. O que significa que entre 1974 e 2000, a “Direita” (ou o “Centro-Direita” para quem desgosta da social democracia laranja) esteve no poder com ou sem coligações durante 17 anos ininterruptamente (1978-1995). Já neste século, tivemos mais 3 governos de coligação PSD/CDS que duraram cerca de 7 anos e um PR (Cavaco Silva) com duplo mandato, a que agora se segue Marcelo Rebelo de Sousa. Em 5 PR eleitos em Democracia, 3 foram-no com o apoio de toda a Direita Parlamentar. E em 40 anos de governos constitucionais, 24 tiveram governos com a presença do CDS ou do PSD. Não somemos os outros 48 em Ditadura  ou os 10 da Monarquia Constitucional ou mesmo o consulado de Sidónio Pais, para não parecer mal.

Portanto… apesar de todo o brilhantismo sofista de alguns dos pensadores e teóricos da Direita em Portugal (as excepções honrosas serão António Araújo ou Pedro Mexia), a menos que estejamos a falar de “outra coisa”, de uma “Direita” extra-parlamentar, que não se revê sequer no CDS e que deseja um outro tipo de regime em que a Esquerda seja ela ostracizada da esfera do poder, este tipo de conversas não passa de tretas para animar tertúlias de aspirantes a colunistas do Observador, em estágio pelo Insurgente, 31 de Armada ou Blasfémias e a suspirar por mais uma Universidade de Verão em Castelo de Vide.

bullshit-detector