Os velhos novos (e os novos velhos) da Direita portuguesa têm desenvolvido uma estratégia de marketing muito interessante para se apresentarem ao público com uns pobres discriminados na sociedade e na vida política nacional, uma espécie de coitadinhos, cercados em terra de canibais esquerdistas façanhudos e ferozes. Agora até há um curso e tudo com o patrocínio (óbvio) do Observador.
Mas talvez fosse interessante recordar a cronologia e um pouco de História, sem ser nas versões hiper-revisionistas do Ramos ou do Raposo, por vezes ainsa mais facciosas que a do seu simétrico e modelo Rosas.
Após 48 anos de um regime ditatorial de Direita, o 25 de Abril instituiu a Democracia entre nós (e reparem como eu não escrevo reinstituiu), através de uma Revolução que alguns gostam (dependendo dos momentos) de dizer dominada rapidamente por Comunistas e a Esquerda a galope. Pois… mas a verdade é que em 1976, o primeiro PR eleito o foi com o apoio de toda a Direita parlamentar. Em 1978, já o CDS estava no governo em coligação com o PS e seguiram-se dois governos da AD com uma aliança PSD/CDS. A essa coligação sucedeu-se o Bloco Central com o PS e o PSD e depois 10 anos de governo do PSD, com dois mandatos em maioria absoluta. O que significa que entre 1974 e 2000, a “Direita” (ou o “Centro-Direita” para quem desgosta da social democracia laranja) esteve no poder com ou sem coligações durante 17 anos ininterruptamente (1978-1995). Já neste século, tivemos mais 3 governos de coligação PSD/CDS que duraram cerca de 7 anos e um PR (Cavaco Silva) com duplo mandato, a que agora se segue Marcelo Rebelo de Sousa. Em 5 PR eleitos em Democracia, 3 foram-no com o apoio de toda a Direita Parlamentar. E em 40 anos de governos constitucionais, 24 tiveram governos com a presença do CDS ou do PSD. Não somemos os outros 48 em Ditadura ou os 10 da Monarquia Constitucional ou mesmo o consulado de Sidónio Pais, para não parecer mal.
Portanto… apesar de todo o brilhantismo sofista de alguns dos pensadores e teóricos da Direita em Portugal (as excepções honrosas serão António Araújo ou Pedro Mexia), a menos que estejamos a falar de “outra coisa”, de uma “Direita” extra-parlamentar, que não se revê sequer no CDS e que deseja um outro tipo de regime em que a Esquerda seja ela ostracizada da esfera do poder, este tipo de conversas não passa de tretas para animar tertúlias de aspirantes a colunistas do Observador, em estágio pelo Insurgente, 31 de Armada ou Blasfémias e a suspirar por mais uma Universidade de Verão em Castelo de Vide.