As Horas para DT

O que leio no nº 4 do artigo 10º do projecto de despacho (ProjectoDOAL2016) é que “para o exercício das funções de diretor de turma cada escola gere quatro horas semanais, a repartir entre as horas resultantes do crédito horário e a componente não letiva”. Não me parece mal, mas espero que tenham percebido que não aumenta a redução da componente lectiva. Em boa verdade, até pode ficar (quase) tudo na CNL.

Mais clara e positiva é a medida de separar o crédito horário das escolas da avaliação (interna ou externa) dos alunos.

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Alfa e Ómega

A minha escassa experiência nos meios académicos de investigação em “ciência social” (a História é, em meu entender e ainda bem, uma “Humanidade” e levei muitos anos a dar o devido valor a Paul Veyne e ao seu Como se Escreve a História) fez-me constatar a evidência de que raramente um investigador gosta de ver a sua pesquisa ir dar a um beco sem saída ou não provar nada em especial (em particular a tese de partida). Não é um fenómeno novo, mas torna-se mais grave quando nos querem fazer tomar por “ciência” o que é, em diversos casos, apenas uma boa demonstração de um dado ponto de vista. A publicação de estudos que se podem considerar “inconclusivos” (mas que são importantes como quaisquer outros e não necessariamente inúteis) é algo raro, bem como os viés/preconceitos analíticos são mais comuns do que querem dar a entender as introduções metodológicas de muitos estudos. Ou como muita “Ciência Social” é produzida na base da sua utilidade política e muita outra nem chega a arrancar porque incomoda os napoleões académicos. Até porque a actual competição feroz pela produção de estudos em catadupa para ganhar posição académica é pouco compatível com a “perda de tempo” que acarreta reavaliação de hipóteses não confirmadas e o recomeço da pesquisa em busca de explicações alternativas que não se limitem a mudar um pouco a fórmula aplicada nas tabelas, como acontece com as ciências naturais. Aliás, penso mesmo que seria boa ideia “educar os cientistas sociais para a diversidade”, se atendermos às constatações de meta-estudos sobre a forma como o enviesamento conceptual empobrece importantes áreas das Ciências Sociais. Infelizmente – e mesmo que isso não me faça ganhar grandes amigos na academia 🙂 – é muito raro, após ler o tema, o nome do(s) autor(es) do(s) estudos e a sua instituição de origem para eu conseguir adivinhar as conclusões alcançadas.

É tudo relativo, pós-moderno, subjectivo, inútil? Não, mas como em certos estudos na área da Saúde patrocinados por farmacêuticas, seria sempre bom que os autores fizessem uma declaração de interesses sobre quem os apoiou de forma directa ou indirecta ou que simpatias ideológicas têm antes de nos fazerem acreditar que são cientistas “puros”. Para sabermos ao que andamos.

profpardal

Piloto Automático

Crónicas como esta, por muito que eu respeite os senadores da opinião católica assustada com o mário-papão, são idiotas porque se baseiam em textos automatizados, escritos ano após ano, sem qualquer atenção ao contexto e que se limitam ao disparate (claro que uma central sindical de professores se deve preocupar em primeiro lugar com a defesa dos seus direitos e eu só a critico porque em muitos casos os não defendem como deveriam) que fica bem à audiência fixa da coluna. Escapa a Sarsfield Cabral o conhecimento concreto das coisas, como, por exemplo, a afinidade de concepções pedagógicas 🙂 entre a actual equipa do ME e a liderança da FNEprof (neste caso unindo ortodoxos e críticos, todos eles fofinhos). Assim como lhe escapa o timing relacionado com o congresso da organização e a necessidade de apresentarem qualquer coisa, fazerem prova de vida, ensaiarem divergências, para não parecer que apenas aceitaram telefonar trimestralmente para aquela empresa que também levou pizzas ao prédio do Sócrates (e não é giro que o CM estivesse lá a filmar e seja o jornal onde o MN escreve?).

Ao contrário do que pensa e escreve Sarsfield Cabral, em tempos de geringonça, a FNEprof é um dragão de papel maché.

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Há um Ano

Escrevi o que se segue no fbook (já tinha fechado o Umbigo). Infelizmente, não mudou grande coisa. A parvoíce em Educação é algo duradouro e agora está num período de crescendo.

Eu sei que vou escrever algo desagradável para muitas pessoas sapientes, mas lá terá de ser.

Ouço e leio muito boa e estimável gente dizer que devemos adaptar e modernizar a estrutura curricular aos “interesses dos alunos” como se isso fosse a fórmula mágica para combater o insucesso e o abandono.

Tal solução levanta-me muitas dúvidas por razões que me parecem óbvias, mas talvez seja defeito meu, miopia incurável.

Vejamos de forma breve:

Desde quando é que uma escola básica de massas obedece a uma lógica de “interesse dos alunos” e não ao “interesse da sociedade” ou dos “grupos sociais” responsáveis pelo ensino na fase pré-contemporânea? E não será que é mesmo assim que tudo funciona ou melhor que precisa de funcionar?
Desde quando a Matemática foi “do interesse dos alunos” ou da sua larga maioria? Ou mesmo a História que produz menos alergias e insucesso? Ou mesmo outras disciplinas tidas por mais benignas? Em que parte do mundo é que a escola atingiu patamares de grande qualidade na base dessa lógica tão fofinha, pois em todas as épocas os alunos tiveram interesses bem discordantes da “oferta curricular” dos seus tempos?

A escola contemporânea – apesar dos seus defeitos e distorções que urge corrigir – não se baseia exactamente num princípio de contradição em relação ao imediatismo dos interesses?

Será que não estamos a tomar a escola do Sócrates e do Platão – elitista até mais não – como um “paradigma” de algo exactamente oposto do que ela foi em seu tempo?

Não estaremos a confundir a necessidade de interessar os alunos pela aprendizagem com o querer ensinar-lhes apenas o que lhes interessa?

Se queremos mesmo ir ao encontro do “interesse dos alunos”, estaremos mesmo dispostos a trocar metade das horas de Ciências Português ou Geografia por “Redes Sociais – Parte 1” ou “introdução ao PES 2015 em PS4” ou mesmo “GTA em Smartphones”?

Caricatura? Não me parece.

Não deverão essas áreas de “interesse” ficar nas áreas não-curriculares ou opcionais?

Será que as pessoas que tão bem pensam estão mesmo dispostas a levar o seu “pensamento” até às suas naturais consequências?

E olhem que isto é escrito por um gajo muito criticado anos a fio por levar as suas turmas um tempo por semana para a sala de computadores e os deixar divertir-se um pouco até ao momento em que os censores e os filtros “isto é só para trabalhar em coisas sérias” entraram em acção.

Asteroids