O (Falso) Caminho Fácil

É mascarar problemas desde pequenino com medicações prescritas a esmo (para quem tem problemas em seguir os links da notícia eu deixo aqui o relatório que está na sua origem: SaudeMental 2015), com um esforço diminuto para perceber as causas dos problemas e a forma de os resolver de um modo mais sustentado. Para quem não tem dinheiro para pagar fortunas num acompanhamento de proximidade, restam consultas nos hospitais públicos com meses de intervalo, sendo mais fácil levar umas caixinhas de ritalinas e afins para acalmar e ocultar situações muito graves e que acabarão por explodir, em muitos casos, de forma dramática em outras idades. Muitos pais não têm tempo ou paciência para se negarem a soluções de efeito rápido nem que os miúdos apareçam quase zombies na escola (uma espécie de walking dead privado), muitos profissionais da saúde acabaram por decalcar em crianças e jovens terapias para adultos que, por deverem ser temporárias, acabam em habituações precoces que é difícil inverter mais tarde. E quantas destas problemáticas não são causadas pela completa falta de regras no tempo e espaço da família, quando ela própria não está completamente atomizada ou esmagada pelo seu quotidiano, ou por acção/omissão de adultos que nem as suas perturbações conseguem enfrentar?

Sim, há casos que necessitam deste tipo de intervenção, mas o recurso às máscaras é cada vez mais generalizado, porque a pressa é má conselheira e os outros meios implicam uma disponibilidade que não está ao alcance nem dentro da capacidade de quem, em muitos casos, também precisa de apoio.

Sim, há casos dramáticos que nem sempre podem ser tratados, na sua urgência, de outra forma, mas há muito mais que se poderia fazer, não andássemos num sistema de low cost em matéria de serviços públicos (na Saúde como na Educação).

E os professores no meio disto tudo? Com 150 ou 200 alunos para se (pre)ocuparem e com uma responsabilidade limitada, nem sempre conseguem ter a devida atenção e despistar precocemente sinais de distúrbios que poderiam ser solucionados muito mais cedo e de outra forma, se existissem os meios humanos especializados para o efeito. Parece que é caro. Certamente mais caro, no curto prazo das miopias orçamentais, do que caixinhas de smarties coloridos nas mãos de muitas crianças.

pills

Como na Drogaria

Os pacotes com manuais escolares para adopção parecem um sortido rico de materiais. Se por um lado, dá jeito ter tanta papinha feita, por outro, não se percebe se a ideia é não se fazer nada e apenas copiar o que se recebe. Um dos que recebi hoje tem: a) manual do professor; b) caderno de atividades (com soluções); c) caderno de gramática; d) caderno de educação literária; e) caderno de leitura/escrita/portefólio; f) materiais de apoio ao professor; g) cd áudio; i) manual digital. Um dos que recebi há coisa de uma semana tem quatro conjuntos de materiais, de “documentos orientadores” (incluindo programa e metas distribuídas por unidade do manual, mais quadros-síntese e etc) a “materiais de apoio” (fichas de trabalho por domínio, fichas de verificação de leitura, um guião de leitura de uma obra da mesma editora), passando por planificações e planos de aula e materiais de avaliação (testes, incluindo “adaptados”, grelhas de avaliação e etc). Só uma editora se armou em fominha e apenas mandou uma grande mala para o grupo disciplinar e não dossiers ou pastas individuais para cada professor. Está já na minha lista negra 🙂 .

O investimento em tudo isto é brutal e apesar do reaproveitamento de materiais ou de “sinergias” dentro dos (poucos) grupos editoriais o trabalho dos autores é imenso e não o invejo nem um pouquinho. Nos tempos em que passei pela experiência fazia-se manual e caderno de actividades e já custava. Claro que se pretende ter um retorno económico para tudo isto

Só que continuo a achar que isto é uma imensa distorção em relação ao essencial. e que muito dinheiro poderia ser poupado com uma outra concepção dos materiais de trabalho com os alunos, não estando em causa apenas os bancos de manuais para a sua reutilização. Talvez isso fosse uma verdadeira “mudança de paradigma”. Só que essas não se fazem. Ficamo-nos quase sempre pelas flores em cima do defunto, umas benzeduras e já está.

Bigorna

A Baixa Natalidade é a Salvação das Nossas Finanças

Já imaginaram se ainda fosse necessário pagar mais abonos de famílias e subsídios de desemprego? Porque isto de dizer que é a falta de crianças é que desequilibra a Segurança Social, porque há menos jovens a trabalhar, é uma falácia porque para ser verdade era preciso que a malta nova tivesse emprego e que, tendo-o, não fosse precário e em grande parte pago assim a modos que por debaixo da mesa, sem declarações às entidades competentes.

alegria

 

Ó pra Eles!

Ao menos estes (FAF e AHC) dão a cara (no Observador, claro). Nem queiram saber o que vai pelos bastidores. Até ferve, agora que alguns laços muito foram descontinuados em alguns gabinetes (no ME e fora dele, embora alguns apenas estejam adormecidos).A ambos apenas diria que a liberdade não tem preço (ou subsídios) e que o melhor serviço está por demonstrar, caso a caso, com todas as variáveis sobre a mesa.

Demagogia

Diário de um Professor Conservador, Segregacionista, Racista e Entediante – Dia 1

Acabei de sair de uma aula “segregada” pelos padrões de alguns dos nossos governantes. É uma aula com seis alunos (de três etnias, pelo que deve ser mais diversificada do que o meu racismo inconsciente deve aguentar), mas que normalmente chega a ter uma dezena. Porquê? Porque como é uma aula em que os alunos podem seguir o que mais lhes interessa em termos de exploração da net e do software e a avaliação é pouco formal – tenho os meus lampejos de modernidade, é verdade – há quem, não tendo aula, peça para entrar, sentar-se e divertir-se um pouco. Ou seja, é uma espécie de segregação ás avessas, os alunos não-segregados pedem para ir para a aula segregada porque lhes parece mais atractiva do que andarem pelos corredores sem rumo ou pelo pátio a jogar à bola ou a conversar com os colegas.

Há quem diga quem os alunos aparecem e procuram esta aula porque fazem o que querem e exploram o que mais lhes apetece – dentro dos parâmetros restritivos que o ME impôs à net escolar, pois estes ainda não são hackers em potência – e há o ME a dizer que esta é uma aula segregada, em que os alunos são afastados dos seus pares e ostracizados. No meu caso, tento não ligar a qualquer tipo de bocas da reacção, porque é a única forma de manter a sanidade e harmonia.

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