Que o RQM divulgue publicamente a lista das moções para que se percebam melhor os contornos da teia de influências. Até porque ajudará a fazer uma espécie de roteiro dos perigos da municipalização da Educação. E podem sempre dar um bom exemplo como na Mealhada, até porque sempre ouvi dizer que no ensino público é que havia gente desordeira mas, apesar de manifestações com 100.000 pessoas ninguém se magoou. É nestas alturas que se percebe a excelente educação de algumas pessoas.
Dia: 3 de Maio, 2016
A Verdadeira Reprodução das Desigualdades
Acontece quando um ministério subordina a oferta de cursos profissionais a estudos feitos (ou a fazer) sobre a empregabilidade local e impede que seja proporcionada uma oferta mais ampla que permita aos alunos voar para além das limitações do seu contexto. De que adianta andarem com conversas fofinhas e quererem sucesso a todo o preço se depois, na prática, a lógica é a da subordinação ao mercado laboral já existente? Se não faz sentido abrir cursos de técnicos de naves espaciais em todo o lado ou de secretárias de administradores de bancos para falir? Depende… Agora uma coisa é certa, se a oferta for apenas mais do mesmo (em especial da área dos serviços pouco diferenciados) não se consegue formar qualquer tipo de mão de obra qualificada que possa funcionar como um apoio para a retoma económica em zonas já de si deprimidas. Desta forma é que se perpetuam situações de subdesenvolvimento local e se agravam assimetrias regionais, porque o princípio de “só abre se há mercado” é de uma miopia extrema; apostar num futuro diferente nem sempre é desperdício de dinheiro. Eu sei que de Portugal só se espera que organize eventos e sirva boa comida aos turistas, mas esperava um pouco mais de visão a quem se acha tão moderno.
Diário de um Professor Conservador, Segregacionista, Racista e Entediante – Dia 2
Fui professor da aluna X no 5º e 6º ano. Era uma aluna com necessidades educativas especiais mas sem CEI. Com muito apoio individualizado, muita atenção ao seu perfil de aprendizagens, ela fez o segundo ciclo de forma bastante pacífica. Chegada ao 7º ano, as dificuldades acentuaram-se e, combinadas com algumas companhias menos apropriadas, acabou por ficar retida e voltei agora a tê-la em História no 7º ano. Depois de muito debate no Conselho de Turma (os pormenores são poupados porque são de ordem privada) e com a equipa de Educação Especial a aluna passou a ter um CEI, “perdendo” algumas disciplinas tradicionais em favor de outras áreas ou de algumas horas de apoio individualizado no plano da E. Especial. Manteve História por vontade própria e porque sempre nos entendemos bem. A sua avaliação, que já era adaptada, passou a depender exclusivamente de trabalhos temáticos, feitos de forma autónoma a partir dos conteúdos programáticos leccionados nas aulas a toda a turma. Hoje pediu-me se podia ir terminar o trabalho fora da sala de aula “regular”, na sala da E. E. porque aí tem acesso a computador. E eu deixei, mas não sei se a deixei ir para um espaço “segregado”. Se a “inclusão” que alguns defendem é a todo e qualquer custo. Para mim é uma adaptação às melhores condições para os alunos, que podem não ser sempre as das aulas dias regulares; mas também é verdade que eu terei uma visão “conservadora” destas coisas, porque é assim que agora são classificados todos aqueles que não têm a mesma opinião que agora fica bem nos discursos oficiais.
Just a Pretty Face?
É sempre interessante, mesmo na discordância, seguir as prestações públicas do secretário de Estado da Educação (hoje, de novo, na TSF, a adiar a autonomia curricular das escolas para um dia destes), notável na forma como transforma um ziguezague numa linha recta, enquanto o ministro está sempre em trânsito para algum lugar.
Há Sempre uma FLAD
De Braços Dados
Há que ache que eu estou demasiado preocupado com a questão da municipalização da Educação. Há agora um “grande arco” da governação que – com pretextos diversos e tonalidades aparentemente distintas em torno da “descentralização” – vai aparecer a defender a coisa. Eu mantenho a minha opinião e a recente posição da C. M. Famalicão – uma das primeiras a querer a transferência de competências no contextto do programa Aproximar Educação – deixa-me bastante elucidado quanto à forma como a rede escolar será gerida por alguns líderes locais, que devem muito (gratidão simbólica, é claro) a quem ajudou a elevá-los ao cadeirão. No momento da verdade, há eleitores de primeira (os que suportam) e de segunda (os que votam).
Tédio
Não é de agora. Um tipo escreve e o pessoal lê – numa de apropriação pós-moderna do texto, pois todos leram o Lector in Fabula do Eco – o que lhe interessa ou, mais importante, o que já está preparado para ler de acordo com as suas convicções pela positiva ou negativa. Um tipo coloca links para o material usado, para a origem dos dados, e são poucos os que se preocupam em ir verificar (dá para ver no que o pessoal clica a partir das estatísticas internas no blogue), mas isso não impede críticas. É pena. Não chega a chatear, apenas entedia, como certas aulas.