Contaminação

O debate político e público acerca de alguns assuntos tornou-se perfeitamente insuportável e impossível de desenvolver de uma forma razoável, racional e rigorosa, restando quase só ruído e ideologia jogada às pedradas, com a (falsa) cobertura de alguns números truncados e de factos relatadospela rama. Este texto é um exemplo disso, pois apresenta como sendo dados adquiridos e verdadeiros o que não passa de uma espécie de receita para o alarido. Não é verdade que esteja em causa a continuidade dos contratos em vigor entre o Estado e as empresas privadas a operar no mercado da Educação e é profundamente falso que tenha existido no mandato anterior um corte de 30% no financiamento do sector (basta consultar os orçamentos do ME sem ser com um olho fechado). Esses são números seleccionados a gosto e que apagam parte da realidade numa estratégia conhecida de repetição de falsidades para que elas ganhem o cunho de verdades. Repare-se na evolução dos cortes nas redes pública e privada de 2014 para 2015, seguindo-se a execução real no caso dos apoios a privados e a previsão para 2016

OME2015OEEDucProp16Mas, como já escrevi em texto também para publicação, eu entendo que estas escolas privadas se sintam algo maltratadas por terem de suportar um pouco daquilo que as escolas públicas sofrem todos os anos, com decisões sobre as turmas autorizadas a ser tomadas com o próprio ano lectivo em decurso, como foi regra com cursos profissionais e vocacionais ainda neste ano de 2015-16. Entendo que as empresas que contratualizaram PPP na área da Educação na expectativa de lucros interessantes (também eu tinha expectativas numa “carreira docente” e veja-se no que deu) não estejam para ser submetidas a essa tal “instabilidade” com que as escolas públicas vivem todos os anos, regras a mudar, contratos rasgados a meio do percurso, direitos que são tratados como tábua rasa. Não deixa, por outro lado, de ser curioso que quem apoiou um governo que nem sequer a caducidade dos contratos dos professores queria pagar, agora eleve a voz contra o anúncio da necessidade de avaliar cada renovação de contratos trienais. A verdade é que houve quem prosperasse à custa da miséria alheia e agora desgoste de provar uma pequena colher do remédio que obrigou outros a engolir em nome de princípios – não duplicação da despesa, racionalização dos custos, disciplina orçamental – a que se adere conforme as circunstâncias.

Se isto é ideológico? E capaz de ser, pois baseia-se em ideias sobre o que deve ser a equidade e a justiça social a sério, até porque me repugna um bocado aquela coisa de dizer que tudo é decidido de forma objectiva com base nas colunas de deve/haver que andam a aplicar às escolas públicas desde o início do período em que a Educação passou a ser calculada com o lápis atrás da orelha.

janus

Diário de um Professor Conservador, Segregacionista, Racista e Entediante – Dia 5

Apanhei o Queiroz e Melo no Opinião Pública pela manhã na SICN e enquanto almoçava nos noticiários e o dia todo (a semana toda) nos jornais a queixar-se de forma muito legítima acerca da injustiça que é quererem cortar subsídios a uma parte dos seus empregadores. Falta-lhe o bigode, que não faz escola em certos quadrantes aprumados, mas pela intensidade da luta e pela forma como repete sempre os mesmos estribilhos está um verdadeiro márionogueira. Senti-o tão injustiçado e segregado que até tive pena dos meus alunos. O pior foi mesmo o tédio que me desceu pelo tutano a partir do neurónio sobrevivente.

RQM

Poizé!

Mas não é o que se faz todos os anos nas reuniões de rede escolar por todo o país? Ou os princípios vareiam conforme as circunstâncias e o responsável por um colégio jesuíta de Coimbra que presta declarações ao Público de hoje esqueceu-se disso? Tanta coisa que a mim não parece lógica. Desde logo a forma como são interpretados muitos belos ensinamentos de Cristo.

Pub6Mai16

Confusões

Mesmo entre as minhas amizades sociais parece existir a crença de que algumas posições que tomo se devem ao meu interesse particular nelas. Sim, é verdade que tenho interesse em defender aquilo em que acredito e não necessariamente o que poderá ser conveniente em termos de carreira(s), esta ou alternativas. Acredito que a ideia seja estranha e a prática ainda mais. Até porque quando estiver mesmo farto disto, sei dar com o caminho de saída e sou rapaz para, apesar do diâmetro e densidade, virar hamburgueres e tirar bicas (que são as opções com maior empregabilidade em zonas socialmente deprimidas mas com muitas esplanadas per capita) mais depressa do que muitos jovens oportunidades e nem se fala quanto à rapidez em fazer trocos. Não é uma questão de maior ou menor pureza de princípios, é mesmo uma questão de escasssez de pachorra com o preconceito ao espelho.

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