Passos Coelho Representa Que Interesses?

Nem de perto, nem de longe, tenho qualquer relação o actual ME ou procuração para o defender, até porque discordo dele em muito. Só que assistir ao deplorável espectáculo que é Passos Coelho a acusar – seja quem for – de estar ao serviço de interesses que não os da comunidade e cego pela ideologia é absolutamente patético, atendendo ao que foi a sua governação, feita contra a maioria da população com base numa fé ideológica colada com cuspo e, no caso da Educação, vergada aos interesses de que ele agora se tornou mero eco. Ouvi-lo a defender “os mais carenciados” depois do que foi feito em matéria de Educação enquanto foi PM revolta o estômago mais coriáceo. Não fosse o aparente estado de avançada confusão mental que demonstrou com a forma como se esqueceu das inaugurações a que foi e até se poderia pensar que é apenas desonestidade intelectual. Até porque, em matéria de Educação ele é um completo ignorante e essa ignorância não a ouvi confessar em segunda mão. Mas valia estar calado nestas matérias e não dar numa sensação tão evidente de ser o moço de recados de quem mexe os cordelinhos.puppet

 

Proposta Ingénua

E se os nossos empreendedores liberais que tanto apoiam coisas como o “cheque-ensino” fizessem como alguns empreendedores liberais lá de fora e criassem bolsas de mérito para alunos carenciados (de escolas públicas ou privadas) que se destaquem pelo seu desempenho escolar, criando incentivos e recompensas – dedutíveis em sede fiscal, claro, nem eu pensaria outra coisa – para quem contraria alguns determinismos sociais?

Em vez de andarem sempre a pedir para o Estado subsidiar o ensino privado, se aplicassem nem que fosse apenas 1% dos seus lucros declarados (repito, podendo deduzir isso nos impostos) a ajudar quem verdadeiramente mais necessita?

Bah

Abril Revertido

Não vou fazer muitos comentários adicionais. A tabela que se segue corresponde à evolução do meu rendimento líquido mensal, tal como registado no recibo da minha remuneração desde 2008 no mês de Abril (os recibos anteriores andarão numa conta de mail a que já não tenho acesso e arquivados num disco rígido que se finou), a par dos descontos realizados. Não coloquei a remuneração nominal porque se tornou uma piedosa ficção. Não me dei ao trabalho de assinalar os meses em que me terá sido deduzido um subsídio de refeição. Acresce apenas o facto de, de 2009 para 2010, naquele micro-período de descongelamento pré-eleitoral, eu ter “progredido” do antigo 7º escalão para o actual 5º (do índice 218 para o 235).

O resumo é simples, ganho menos agora no índice 235 do que antes no 218 (quase menos 100 euros líquidos) e desconto mais 266 euros. Apesar da ligeira recuperação dos dois últimos anos, a remuneração mensal (as perdas relativas anuais são maiores) diminuiu 7%, enquanto a carga fiscal aumentou 48,5%. 2010 e 2012 foram os únicos anos em que existiu alguma moderação na cavalgada sobre o meu rendimento, sendo que em 2010 foi por causa da tal progressão.

No mesmo período de tempo, em virtude das alterações no ECD, passei a ter 24 tempos de aulas com alunos, quando antes tinha apenas 20.

No mesmo período, tive de suportar uma carga imensa de qualificativos por parte de gente que nem com um par de estalos à joãosoares iria ao lugar pois tanto acusam os professores de ganhar muito como gozam com o nosso rendimento por ser escasso para as habilitações. Nas semanas que têm passado, fui acrescentando mais alguns epítetos para a conta, a um ritmo próximo do auge da equipa da senadora MLR, que agora já toda a gente voltou a ouvir como sendo uma enorme doutora em tudo isto.

Se apetece continuar a discutir alguma coisa com esta tropa fandanga que por aí anda, todos os dias, a moer-nos o juízo mais do que a pior das turmas no pior dos dias? O que é que acham?

SalariosAbril

Reversões

O Arlindo fala em Maquiavel, mas ao desgraçado que tão má fama tem nunca ocorreu esbulhar as populações desta forma, exaurindo-as em termos materiais enquanto se anuncia que passarão a ter mais dinheiro no bolso. A habilideza tem pouco de novo e entronca numa bela tradição política nacional, e não só, equivalente ao daquelas promoções que anunciam um desconto de 30% sobre o preço de um produto que antes se aumentara 35%.

É simples… anuncia-se o fim ou redução das sobretaxas, mas alteram-se os escalões do IRS por forma a que a maior parte (ou mesmo mais) do que se “ganharia” (o que é mentira, apenas se recuperaria) seja absorvido pela máquina fiscal e retorne ao ponto de partida. Os palermas – ou, mais grave, os operacionais mediáticos – lançam foguetes e parecem não saber fazer contas. A verdade é que se recebe menos na realidade, mesmo quando em termos nominais se diz que passámos a receber mais e lemos primeiras páginas a proclamar algo como “professores recebem mais 25%”. Tudo mentira, tudo bem pensado para divulgação mediática, tudo com a colaboração dos amesendados sindicalistas rendidos à Situação.

A mim pouco admira, pois já há umas semanas que me debati – levando na cabeça por não saber de contabilidade pública à europeia – com aquele problema de um professor que recebe nominalmente 21.000 euros anuais (15.000 reais) significar para o Estado um encargo de 27.000.

Como há muito leio “estudos” e análises sobre a disparidade salarial entre a base e o topo da carreira docente e como o valor médios dos salários dos professores portugueses é muito alto, porque se considera real o valor atribuído a um escalão inventado nos tempos do engenheiro e no qual ninguém está.

Vivemos em tempos de mistificação estatística, praticada sem qualquer pudor por quem manipula os números oficiais e, não se satisfazendo com isso, ainda usa estratagemas para distorcer ainda mais a realidade. Nesse aspecto, Esquerda e Direita distinguem-se apenas na tonalidade da coisa. Praticam a mesma desonestidade e fazem-no, quase sempre, com os mesmos sacrificados. É assim há, pelo menos, uma década e parece que veio para ficar. Há bancos para salvar, nomeadamente aqueles que ficaram com parte dos negócios da CGD e mesmo assim faliram ou estão em fila para falir, recebendo injecções de capital público à conta de um duplo esbulho aos cidadãos (através das astronómicas taxas que cobram pelo mais pequeno serviço e dos impostos que servem para os resgates). E havendo bancos para salvar, há administrações boas e más para alimentar, negócios ruinosos por encobrir (alguém já houve falar dos devedores ao BPN?) e os mesmos sempre para tudo suportar. Só que agora com “paz social”, garantida pela almofadinha sindical prisioneira da ameaça do “risco do regresso da Direita ao poder”. Uma coisa é não querer a tal Direita trauliteira e amnésica no poder, outra coisa fazer uma política semelhante, anunciando falsas reversões.

sinal