Na argumentação dos defensores dos contratos de associação há um (só?) detalhe que me deixa baralhado e que é o de referirem que a questão afecta “apenas” uns 80 “colégios” num universo de mais de 2500 estabelecimentos de ensino privados. Afirma-se que são apenas 3% do total. O que parece irrelevante. Mas depois afirma-se que, afinal, podem vir a ser afectados mais de 17.000 alunos por uma decisão de rever os contratos de associação com esses colégios, o que é um número muito elevado num sector que tem pouco mais de 120.000 alunos no Ensino Básico e um pouco mais de 70.000 no Secundário de acordo com as estatísticas oficiais mais recentes. Seriam quase 10%. Como é possível se a coisa atinge apenas metade de 3%?
A questão é ir ver com atenção os números. Como sou da velha guarda não vou apenas à Pordata, muito útil para quem não gosta de fontes primárias o que equivale a dizer 90% dos inteligentes que fazem artigos de opinião em blogues e jornais.
Eis os números para os estabelecimentos de ensino em 2013-14:
Realmente o número de estabelecimentos é muito baixo, quer no contexto geral do número total de escolas, quer no universo dos privados.
Mas agora tomemos atenção ao número de alunos:
No contexto do ensino privado, os que dependem do Estado são 38,7%… o que significa que são muito mais de um terço do total, um peso desproporcionado em relação ao “número de estabelecimentos”. Em Portugal, quase 40% do Ensino Básico “Privado” é subsidiodependente.
E no caso do Ensino Secundário, ainda em 2013-14?
Temos que 22,8% dos alunos do ensino privado têm apoio do Estado.
No total (Básico mais Secundário) em 2013-14 eram 63651 alunos em 193694, o que dá 32,9%, quase um terço do total.
Percebem agora o problema de um sector “privado” que depende em quase um terço do Estado, mesmo se oculta isso atrás de uns alegados “3% de estabelecimentos”?
E ainda há quem fale em manipulação? E fazem muito bem. Em Portugal pratica-se a utilização truncada e selectiva da informação. Não é caso único. Mas a mim irrita a postura de quem se diz regido por “princípios”. Princípios?