Quanto ao modelo de chantagem. Um dia dizem que aceitam matrículas à revelia para turmas não aprovadas, no outro já não querem manter as turmas de continuidade. É bom aprender com os bons exemplos de luta das pessoas de bem que tanto criticaram a instabilidade alegadamente causada nas escolas públicas pelas manifestações e protestos de professores feitos ao sábado. E nem é bom falar nas crianças ajoelhadas nas manifs das “famílias”, a escrever cartas ditadas nas salas de aula ou a ser instrumentalizadas em nome dos interesses de outros. O Senhor os perdoe pelas figuras que fazem.
Dia: 21 de Maio, 2016
Hoje, no Sol
Mesmo ao lado de um texto da Rosário Gama.
Haverá um rumo na Educação?
Os primeiros seis meses de Tiago Brandão Rodrigues no ministério da Educação têm revelado alguma pressa em fazer coisas, mas nem sempre com a devida preparação das medidas ou a necessária ponderação das suas consequências. Começando por afirmar que pretendia reforçar uma tendência que considera que “o aluno deve ser o centro das decisões”, o novo ministro tomou algumas boas decisões iniciais, eliminando desnecessários focos de tensão no sector, como o fim da prova de acesso à carreira docente, a suspensão da prova de Inglês feita em parceria com Cambridge, a não continuidade do ensino vocacional no Ensino Básico ou anunciando a substituição da ineficaz Bolsa de Contratação de Escola.
O que se seguiu, em matérias de carácter mais estrutural, revelou, se não alguma impreparação técnica e desabilidade política, no mínimo alguma pressa em fazer depressa coisas novas, destinadas a sublinhar a ruptura com o mandato anterior, nem sempre com uma planificação cuidadosa dos seus efeitos ou com uma estratégia eficaz de comunicação com a opinião pública. O exemplo maior foi o ziguezaguear em torno do modelo de avaliação externa dos alunos do Ensino Básico, a reboque da eliminação parlamentar das provas finais de 4º ano, que deixou quase todos entre o estupefacto e o indignado. Seguiu-se um processo de consulta pública para reformulação dos programas e metas curriculares do Ensino Básico que se limitou a facultar o preenchimento de um questionário fortemente enviesado na sua concepção e o convite a um especialista internacional que nos veio dizer coisas mais do que evidentes. Mais recentemente, a polémica em torno da eventual não renovação dos contratos de associação com escolas privadas no final de cada ciclo de estudos em desenvolvimento foi o culminar de uma acção desastrada e que se expõe, sem necessidade, a fortes ataques, mesmo quando a decisão é em si mesma válida e racional.
A inabilidade política estendeu-se à forma como se deixou (ou foi obrigado a) envolver pela agenda política da Fenprof, aceitando que passasse para a opinião pública a sensação que aceitava uma espécie de parceria para a avaliação das suas políticas. Isso deu munições a toda a oposição de Direita quando a verdade é que a influência da Fenprof é, neste momento, bastante diminuta na área que a devia ocupar de forma prioritária: as condições laborais dos docentes que continuam sem qualquer alteração relevante.
Por fim… o ministro parece pouco à vontade sempre que necessita de apresentar publicamente as suas políticas, notando-se como são muito mais eficazes os seus secretários de Estado, em especial o secretário de Estado da Educação. E ainda não se percebeu se em situação de debate consegue fazer-nos acreditar que as políticas são suas ou se apenas é o porta-voz de um aparelho do PS desejoso de fazer avançar, entre outras medidas, a terceiro-mundista “escola a tempo inteiro” ou a transferência de competências na Educação para as autarquias, esvaziando por completo a autonomia das escolas e tornando as suas direcções uma espécie de gabinetes externos dos presidentes de Câmara ou vereadores com o pelouro da Educação.
Respondendo à pergunta inicial… existir um rumo parece que sim, o de um PS que combina as pedagogias de final do século XX com as medidas economicistas partilhadas em muito com a Direita, só que duvido que seja Tiago Brandão Rodrigues que o determina, limitando-se a segurar um leme que nem sequer é mesmo seu. Avaliação claramente negativa na prova oral, não se percebendo até que ponto a prova escrita não é apenas a replicação de uma sebenta alheia.
Conseguiram
Afundar a CGD. Primeiro, retirando-lhe uma posição especial, de estabilidade do sistema, para que outros bancos nascessem à custa de algumas áreas de negócio que lhe eram exclusivas, alegando que eram privilégios (tática muito usada sempre que querem destruir algo). Depois, usando-a como prateleira dourada de aparelhistas de todas as cores do arco da governação, gente sem qualificação para cargos de responsabilidade, de cardonas a varas, a quem se recompensaram serviços ou se colocaram em posições para conceder os créditos certos às pessoas certas. Em seguida, servindo-se dos seus fundos para salvar bancos falidos pela brilhante gestão dos nossos empreendedores de génio, os jardins, os salgados, os rendeiros, os ulricos, enquanto se faziam danças de cadeiras entre as administrações das caixas, dos milénios e afins (com toques de capital da ditadura africana mais necessitada de uma escápula europeia para as suas manobras financeiras). Uma completa vergonha, transversal aos governos e à classe política, conduzindo à progressiva degradação da única instituição credível do nosso sistema bancário. Mas ninguém será responsabilizado seja pelo que for, dirão todos que fizerem o que podiam, que a crise foi internacional, que o banco de portugal isto e a comissão europeia aquilo. Voltaremos todos a pagar os desmandos alheios. E quem deveria informar aquilo que era visível de uma aldeia da província por um qualquer caramelo sem baias nos olhos estava mais preocupado em fazer viagens à conta e a almoçar de borla em troca de silêncios, por causa dos riscos sistémicos. Um pântano vergonhoso de cumplicidades, mesmo se servidas por gente com camisas de bom corte, gravatas de seda e dandismos serôdios como os de certos senadores do nosso jornalismo, óptimos a produzir sentenças máximas em epístolas mínimas de substância, encantadas com a sua própria fluência vácua. Gente sempre disponível para (não) informar, Na primeira ou última página. Em prime time telejornalístico ou em espaço assinado em late night.
Panamagate
Já repararam como o que prometia ser um escândalo enorme – apesar do Panamá ser apenas um entre muitos paraísos fiscais – acabou em praticamente nada através de uma hábil estratégia de descobrir o já descoberto. Indo em busca dos Espírito Santo e Salgado e de periferias do caso Sócrates captava-se a atenção do pessoal e nada se revelava de essencial ou problemático. Entretanto, enquanto se expurgava a base de dados do que é incómodo, anunciava-se a sua abertura ao público no que é (mais) uma enorme mistificação jornalística entre nós. Deplorável, sendo de lamentar que se deixou amarrar desta forma na sua liberdade de informar. Mesmo que fosse incómodo, até porque consta que lá estariam dados muito interessantes para se perceber quem informa(va) o quê a mando de quem. Porque o caso-banif na tvi (que tanto parece incomodar alguns como as escutas do caso Marquês divulgadas pelo CM que tanto encrespam gente que ficaria melhor calada) é apenas uma migalha em relação aos anos e anos de contaminação da opinião pública com falsidades à la carte.