O Éder continua a falhar golos a meio metro da baliza.
Dia: 29 de Maio, 2016
Dito Isto…
… que foi ficando abaixo, acho de uma enorme falta de senso a realização de uma manifestação sindical em defesa do actual ministro. Ainda se fosse em defesa do descongelamento da carreira docente, do regresso a alguma democracia nas escolas ou de combate à anunciada transferência de competências das escolas para os gabinetes autárquicos, ainda entendia. Assim, fica uma medição pública de pilinhas, sendo que o dia pode estar frio e…
Recomeçou
A boa e velha demagogia. Aquela que diz que quem paga escolas privadas paga duas vezes impostos. Não é verdade. Todos (bem… nem todos, há os que offchoram) pagamos impostos para que existam serviços públicos universais que deveriam chegar a todo o país. Por acaso, o desgoverno do PSD e do CDS foi muito competente a fechar muitos desses serviços, a começar pela Educação. Mas isso agora não interessa nada, muito menos à coerência. O que interessa é que dizem que não querem pagar a Educação Pública porque a querem Privada. Ou então que lhes paguem para não frequentar a rede pública de ensino.
Ora bem… eu também não quero pagar, com os meus impostos, a Educação deles, a dos que não querem misturar-se com os outros, connosco. Aqueles que agora não querem andar mais 10 minutos de caminho quando apoiaram que os outros andassem mais meia hora ou mesmo uma hora para conseguirem frequentar o 1º ano de escolaridade porque o governo do Passos e da Cristas lhes fecharam as escolas, mas mesmo fechadas?
Sim, eu sei… de acordo com os liberais, eu e outros, como funcionários públicos, não pagamos impostos, somos apenas uma despesa, um encargo, pois prestamos um serviço de má qualidade (caótico, dirá aquela nova luminária lá do Porto), dispensável, desde que as obras (lembremo-nos sempre que existe uma santa aliança nas PPP da Educação entre interesses laicos e eclesiásticos, porque o capital não tem credo único e tanto aceita a cruz como o maço e o cinzel) possam receber subsídios para nos substituir. Bem… menos onde existam muitos alunos amarelos escuros porque aí podem continuar a existir escolas públicas.
Mas… se o princípio solidário destes humanistas é o de pagar apenas o que se usa, se o contribuinte não deve pagar serviços de que não beneficia, porque raios devo eu pagar impostos para pontes em Coimbra, metros no Porto, hospitais em Viseu ou estradas em Fátima?
(não vou a urgências há coisa de 25-30 anos, poderei descontar nos meus impostos o custo médio anual de um utente nesses serviços?)
Queremos fazer imperar a lógica do utilizador-pagador, que quebra o mais básico princípio de solidariedade fiscal em nome da coesão social? Entrámos, de novo, nesta disputa vergonhosa do “eu pago mais do que tu” que acaba quase sempre com os ricos a pagar menos do que os remediados e ainda a dizerem que a malta aguenta, aguenta mais desemprego e mais austeridade?
Lamento, meus queridos amigos que tão bons e excelsos princípios defendem, em particular os que batem no peito e se dizem mulheres e homens de Fé, mas vocelências envergonham os ensinamentos do Cristo que dizem seguir. Aliás, é por estas alturas que me sinto mais cristão do que muito beato de hóstia ao domingo porque eu não lavo tão facilmente os meus pecados.
Ahhhh… e nem comecei com aquela do “sim, até concordo que fechem este e esse, mas aquele onde eu andei é que não, que é mesmo serviço público e a escola do Estado é feia e tem meninos que não se benzem de manhã”.
Reportagem!
Nos noticiários das 5 tivemos um pouco de tudo… o aparente líder político da manifestação dos colégios, o deputado João Almeida do CDS acompanhado de um interessante acompanhante, crianças em visita de estudo a Lisboa (se há 8 anos os professores tivessem feito isto, o que não teria sido dito por muita gente que agora já não se incomoda com a demagogia e a instrumentalização das criancinhas), alguns avôs dos alunos (a quem não deram as tshirts amarelas da praxe) e ainda apelos ao não despovoamento do interior… embora me pareça que não vi nenhuma destas caras nas manifestações contra o encerramento de muitas das últimas escolas em funcionamento em várias freguesias do interior-mesmo-interior do país.
Confusões Histórico-Liberais
Este texto de Helena Matos pode fazer sentido para quem considere que retirar o subsídio a algumas turmas equivale a fechar uma escola. E é isso que me espanta nos liberais… considerarem que escolas livres só existem se forem subsidiadas pelo Estado. E também me espanta em historiador@s com alguma qualidade tamanha confusão (embora a ache voluntária) entre período históricos muito diferentes e entre processos de luta pela laicização do Estado, como mais ou menos anti-clericalismo à mistura, e procedimentos de racionalização da despesa pública (que eram aceites quando eram apenas contra os maus-mau-maus-comunas-comunas-comunas professores do ensino público). Afinal, onde estava e o que escreveu Helena Matos quando encerraram – encerrando mesmo – milhares de escolas onde não existia mesmo mais nenhuma oferta pública e muito menos privada?
A História truncada vale o que vale (misturar o diabólico Pombal e o mata-frades Afonso Costa com o que se passa agora faz sempre efeito e provoca chiliques)… já a Memória… é chata como o caraças, porque nos faz recordar que houve quem estivesse contra Sócrates mas tão só isso. Quem sempre criticasse as escolas públicas e tomasse os professores por acéfalos seguidores do ME ou dos sindicatos vermelhos. Desde 2002 sempre a bombar. Os papás é que têm sempre razão porque, como é sabido, geneticamente os professores nunca são pais.
Premonições
E Quando Ele(s) Mandar(em) Em Tudo?
Agora imaginem que Rui Moreira passa a mandar em toda a escolaridade obrigatória na zona do porto. Imaginemos que, por tacticismos diversos, esta é uma opção partilhada do outro lado do Douro, onde temos Albino Almeida a comandar a Assembleia Municipal de Gaia com a não disfarçada satisfação de muita gente outrora lutadora contra a municipalização, mas agora reconvertida à situação.
O problema nem é Rui Moreira estar errado em algumas partes do que afirma (a sério, há coisas que são bem verdade), o problema é que a solução dessas situações não deve ser retirada às escolas e, muito em particular, a uma forma partilhada de as resolver, em vez de colocar tudo nas mãos dos piratas das pernas de pau. O problema é que a autonomia das escolas públicas nunca foi grande coisa e vai passar ainda a significar menos, com os directores (que já de si são polarizadores quase exclusivos do poder nas escolas) a terem de ir fazer vénia aos Paços do Concelho para terem os projectos aprovados e a dependerem imenso de poderes externos para dar alguma identidade às suas escolas. Porque apesar dos estudos dizerem que os nossos alunos até têm boas relações com os professores e serem dos que se sentem mais felizes nas escolas a nível europeu, há sempre os que buscam novos paradigmas, aqueles em que só as suas ideias têm direito a expressar-se. E quando as ideias a expressar tiverem de depender de uma cadeia hierárquica ainda mais limitada do que a actual, a liberdade que tantos afirmam defender estará definitivamente morta e o conceito de autonomia só poderá ser usado à laia de paródia.
A péssima imagem que os políticos se têm esforçado por passar das escolas públicas, procurando que ela se multiplique na opinião pública, é um atentado ao tal interesse público que alguns afirmam defender. A tenacidade, arrogância e sobranceria com que esta gente se tem dedicado a amesquinhar o trabalho alheio e todas as realizações das escolas públicas de acesso universal e não apenas para as “classes médias” que querem os filhos longe da ralé, a forma como – por exemplo – Maria de Lurdes Rodrigues tentou criar oásis de primeiro mundo com a Parque Escolar enquanto deixava o resto das escolas num limbo de abandono ou como Nuno Crato acabou o mandato a fazer fretes à santa aliança das PPP da Educação (dando a uma e outra obra contratos que alguns pretendem perpétuos), demonstram bem até que ponto a aproximação (eufemismo para municipalização) ou territorialização das políticas educativas vai por um caminho demasiado perigoso, por muito estimáveis que posam vir a ser as excepções. Porque, no fundo, o que estará sempre em causa será o carcanhol, o pilim, aquilo com que se compram as consciências.
A regra será a destes iluminados como Rui Moreira, que até fez 7 anos numa escola pública (com sorte até teve um pretinho barnabé numa turma, não foi, para se afirmar multicultural e tolerante?) e que por isso acha que sabe tudo sobre os males da Educação em Portugal. Vista-se de amarelo, apanhe a Ryanair e olhe que ainda chega a tempo à 24 de Julho.
1802
Aprecio com indesmentível desânimo a forma como alguns teóricos de tudo, mesmo académicos com notável e numerosa obra publicada, defendem o liberalismo e a liberdade (religiosa, de escolha, qualquer coisa) renegando os princípios de alguns dos seus pais fundadores.
Believing with you that religion is a matter which lies solely between man & his god, that he owes account to none other for his faith or his worship, that the legitimate powers of government reach actions only, and not opinions, I contemplate with sovereign reverence that act of the whole American people which declared that their legislature should make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof, thus building a wall of separation between church and state. (Thomas Jefferson, 1 de Janeiro de 1802)