Uma Questão de Eficácia

Ao chegar à altura das avaliações, a tenebrosa rede de professores espalhada pelo país contacta entre si para consultas mútuas e aferir das boas práticas de produção de sucesso e redução do abandono escolar.

As quatro principais conclusões foram as seguintes, em prol de uma maior eficácia de todo o sistema montado:

  • Aperfeiçoar a prática de avaliar os alunos que nunca puseram os pés nas aulas, mas dos quais só se regista o abandono no fim do ano ou nem isso, quando alguém acha que, pensando bem, já que não abandonou mesmo tendo abandonado, merece avaliação e que, atendendo à inexistência de problemas disciplinares, até não será descabido ser-lhe atribuído um nível 2, permitindo assim que todo o resto dos alunos que aparecem e não chateiam muito tenham 3 (ou 10 se for no Secundário). De uma penada, diminui-se o abandono e aumenta-se o sucesso.
  • Justificar todas as faltas que os alunos ou encarregados de educação considerem justificáveis em nome de uma relação amigável escola-família, não sendo de excluir a boa prática d@s DT justificarem por si mesmos todo o tipo de faltas que destoe na pauta final e implique a produção de relatórios e justificações diversas, mais avisos de recepção e comunicações às entidades competentes.
  • Manter a prática de debater até à exaustão se os alunos estão em condições de transitar, independentemente do número de classificações inferiores a 3, por forma a conseguir que algumas pessoas acabem por concordar com toda e qualquer transição de maneira a conseguirem ir a casa cear e passar a noite com a família.
  • Exigir grelhas em triplicado (papel, suporte digital na base de dados da escola e armazenamento em cloud para futura consulta) de todos os elementos de avaliação (diagnóstica, formativa, sumativa ou outras descobertas ou por descobrir) usados pelos professores que insistam em atribuir classificações aos alunos que comprometam o seu sucesso, diminuam a sua auto-estima ou revelem elementos de segregação étnica, religiosa, socio-económica de género ou clubística.

Embora com algumas reservas – sinceramente, achei que até se deveria banir da rotina a marcação de faltas aos alunos, pelo tempo que rouba a tarefas mais significativas para as aprendizagens e que as grelhas deveriam ter um mínimo de cinco cores para cada nível de desempenho em todos os parâmetros avaliados – subscrevo estas ideias que julgo meritórias e, pela poupança de milhões que poderão significar ao reduzir o insucesso, muito importantes para o desenvolvimento da nossa Educação e preservação das nossas Finanças Públicas.

profpardal

 

A Implosão

Um colega contava-me como recebeu o mês passado uma resposta favorável da DGAE em relação a um recurso hierárquico que ele fez em 2013.

Como se deve calcular, tendo a ver com colocações nos concursos manhosos da pseudo-autonomia de contratação, a mais de dois anos e meio de distância a eficácia da resposta é nula. E este caso é um entre muitos outros. Sendo que só recorrendo aos tribunais comuns será possível tentar obter alguma justiça na reparação dos erros administrativos (vamos chamar-lhes assim, para não chamar outra coisa), embora tendo de pagar (advogado, taxas judiciais) bastante para o efeito e não tendo quaisquer garantias da decisão não demorar mais uns anos.

A implosão do ME só serviu para agravar as suas ineficiências ao retirar recursos humanos aos serviços que deveriam regular os desmandos que ocorrem todos os anos a nível local e central. Há gente que se queixe da administração central e do seu funcionamento, não percebendo que isso também afecta muitos dos próprios funcionários do Estado. Sendo que a conflitualidade aumentou com a atomização e desregulação dos concursos de contratação.

O resultado é que a grande aposta do aparelho do ME é vencer pelo esgotamento dos reclamantes e recorrentes ou servindo-lhes soluções ineficazes, porque fora de prazo, quando não decidem dar razão, por comodidade, a quem tem os micro-poderes locais e deles abusa.

O lugar-comum aplica-se… o sistema reforçou a sua claustrofobia labiríntica kafkiana e a sensação mais comum em que se sente injustiçado é a da incapacidade de para inverter as situações em que se vê mergulhado. Mas como agora a despesa é mais importante do que qualquer princípio de justiça célere, nada parece ir mudar a curto prazo, nem sequer os procedimentos mais disparatados e abusivos em vigor.

Kafka2