Contra uma Escola Pública a Duas (ou Três) Velocidades

Porque isto é verdade:

Já sei que, neste momento, o leitor está a pensar que a escola dos meninos pobres é pública e a dos meninos ricos é privada. Estão duplamente enganados: as duas escolas são do Estado, completamente públicas.

As duas escolas são em Lisboa, a poucos minutos uma da outra. Ambas na freguesia do Areeiro. A escola pobre e sem meios é a EB 2+3 Luís de Camões. A escola rica remodelada pela Parque Escolar é a EB 2+3 Filipa de Lencastre.

O Estado fez aqui o que faz muitas vezes: planeou mal, geriu mal, executou pior. Gastou fortunas em mármores e Sizas Vieiras para uns, e condenou os outros a marchas forçadas ao sol e à chuva. Tratou de forma profundamente desigual os pais que pagam impostos. Tratou de forma desigual os alunos.

ultrapassagem-carro-guinchado

Por um Sindicalismo Corporativo

Sim, já sei que muita gente acha que só se podem criticar as organizações a que pertencem se também fizermos parte delas. Embora isso nunca tenha impedido a larguíssima maioria dessas mesmas pessoas de comentar e criticar intensamente outras organizações a que não pertencem. Portanto, a menos que se tornem militantes do CDS ou do PSD, espero que a malta adepta da geringonça sindical se mantenha na sua incoerência e não me chateie com tretas.

Portanto, essa questão fica arrumada e posso passar ao que me interessa.

Como em tempos achei que a acção sindical (falo da Fenprof, claro) era de oposição automática a todo e qualquer poder político, com ligeiras pinceladas de colaboração em alguns momentos de maior simpatia, agora tornou-se de colaboração praticamente incondicional na tentativa de nos convencer de que tudo está bem ou se não está bem é porque não pode mesmo ser, que nada se faz de um momento para o outro e que isso de revoluções já não existe em lado nenhum. Como a FNE com Crato, a Fenprof tornou-se agora uma espécie de apêndice do ministério da Educação para enquadrar e amortecer – numa postura de responsabilidade nacional – as justas reivindicações do professores, dando a entender que existem prioridades e que neste momento a prioridade é a estabilidade governamental e uma agenda política que está para além dos interesses corporativos (egoístas, alguns não hesitam em dizê-lo, como qualquer articulista observador) dos professores.

Entendamo-nos… claro que o interesse comum (por muito indefinível que isso seja na prática) não deve ser esquecido, mas os sindicatos foram criados e só fazem verdadeiramente sentido se defenderem os interesses particulares daqueles que afirmam representar. Não lhes deve ser estranha a conjuntura global, mas o seu papel é o da defesa de interesses específicos. Não o contrário. E por “específicos” não quero dizer “partidários”.

Por estes dias, a polémica em torno dos contratos de associação serviu para mobilizar e unir os adeptos da actual situação política, ao mesmo tempo que permitiu com o alarido existente esconder outras questões muito importantes para a Educação, em geral, e para os professores, em particular, sendo que deveriam ser estes a razão primeira de acção dos sindicatos de docentes e não a total rendição aos jogos político-partidários.

A verdade é que, como se escrevia numa peça do Público, o ME pode ter aparentado tomar imensas medidas, mas nas escolas o que se passa mudou muito pouco e não me refiro apenas aos efeitos secundários da eliminação das provas finais. O funcionamento interno mantém-se, a ameaça de perda de competências para as autarquias parece quase um facto consumado, a carreira docente continua na mesma, a BCE foi eliminada mas não se sabe pelo que será substituída, etc, etc. Sobre isso, temos ZERO, mas o nosso sindicalismo docente parece pouco preocupado. E mesmo na polémica sobre as PPP na Educação, temos sindicatos (com a FNE à cabeça) muito mais preocupados com os problemas do patronato do que com o dos assalariados. Porque se os alunos continuam a existir, o número de professores empregados nunca poderá mudar muito.

Resumindo, um sindicalismo que se deixa domesticar e parece quase envergonhar-se em defender os interesses daqueles que alega representar é um sindicalismo eunuco, tão distorcido quanto aquele tipo de sindicalismo que protesta por tudo e nada. Num caso grita-se “fogo, fogo” por tudo e nada e no outro sussurra-se que não há fogo nenhum, mesmo quando o lume não abranda há muito. E não dá sinais de ir abrandar. mesmo se a malta se satisfaz por ver arder esta ou aquela barraca alheia.

Se isto é um texto anti-sindicalista? Pelo contrário, é a defesa do valor do sindicalismo mais puro e radical, daquele que não se deixa converter em bengala de ninguém. Porque amarelos há muitos, mais pálidos ou mais corados.

andarilho

Será a Tecnologia a Solução?

Andamos sempre a correr atrás do que parece ser a última novidade que pode melhorar o desempenho dos alunos, diminuir as desigualdades e estimular maior interesse nos alunos. Os meios informáticos são a novidade da última década e as TIC parecem trazer em si um atractivo indesmentível junto dos alunos. Até já há quem apresente manuais com capacidades multimédia a partir da utilização de smartphones.

O problema, o bom e velho problema, é que as tais desigualdades raramente conseguem ultrapassar-se dessa forma. Na melhor da hipóteses, podemos impedir que aumentem mais. Ou podemos minorar situações ou sensações de exclusão.

No caso de escolas com populações heterogéneas do ponto de vista socio-económico é muito visível a diferença da relação com as novas tecnologias. Se levarmos uma turma, sem agenda definida (final de ano, matéria dada, tempo para ideal para fruir o que em outros momentos não é possível) para uma sala de aula com computadores é muito evidente a diferença na reacção entre aqueles que têm recursos disponíveis em casa e não só (que chegam a mostrar algum enfado, visto que nem tudo pode ser acedido na escola e acabama  pedir se não podem usar os seus próprios equipamentos e ligações à net) e os que pouco ou nada têm (que correm que nem uns doidos em busca de um lugar, já que a relação dos equipamentos é de 1 para 2 ou 3 alunos, conforme a dimensão das turmas e estado de conservação do material).

É nestes casos em que me estou mais nas tintas para aquela forma de pensar que considera que todas a actividades devem ser relevantes para as aprendizagens formais e me dá prazer ver como é possível permitir alguma felicidade com tão pouco, mesmo que por vezes seja apenas diversão.

Se isto é um vislumbre de um qualquer novo paradigma? Não acho, porque tem muitas semelhanças com o que se passava, há umas décadas, com o acesso aos livros ou à televisão. O que muda verdadeiramente é o meio, não tanto o factor humano.

Releitura do pensador de Rodin

O Velho (e Bom?) Paradigma…

… parece que é bem visto pelos alunos, pelo menos no que diz respeito à imagem que têm dos professores, algo que deveria ser esfregado diariamente na cara de criaturas como o Miguel Sousa Fel e Bílis Tavares, mas não só (claro que me lembro logo da insurgência e da blasfémia por encomenda), porque há por aí demasiada gente a bater nos ceguinhos, criticando o serviço prestado, quando os “clientes” parecem satisfeitos e muito acima da média europeia. Os dados são de um estudo razoavelmente insuspeito, pois resultam de uma parceria da FFMS com o CNE.

Afinal os alunos portugueses são dos mais felizes na escola – embora há quem os ache entediados e a precisar de muito gaming e paradigmas novos que quase sempre são explicados em, termos de há 100 ano e até acham que os professores os ajudam bastante – ao contrários dos especialistas que os consideram segregados e objecto de malfeitorias diversas.

Apresento apenas alguns dados, podendo o resto ser consultado aqui.

Q6_19Maio_16h45-06 Q6 Os professores interessam-se