Daquelas que há 20 anos pretendem impor um futuro à medida das convicções de um grupo específico de especialistas que, quando necessário, atropelam os factos, alho que já não me admira e, confesso, já desperta em mim uma indignação cada vez mais moderada.
Já não quero sequer saber se o 1º ciclo passa a ter seis, nove, doze ou quinze anos (incluindo o pré-escolar). É uma velha luta de um grupo de conselheiros inoxidáveis do CNE que há – no mínimo – duas décadas querem que o 2º ciclo desapareça, através da extensão do 1º ciclo. A última tentativa em força foi do período Sócrates com estudo de 2009. A argumentação da altura é a mesma de agora, mais ou menos detalhe. Pronto, está bem, levem a bicicleta. Só que, por favor, não retorçam as coisas.
O maior insucesso que temos no Ensino Básico ao longo dos últimos anos foi consistentemente no 7º ano (só foi superado pelo 9º ano em 2013), e resulta, em muito, daquilo a que vou chamar, para não ferir mais susceptibilidades, um desajustamento de perspectivas entre os vários ciclos de escolaridade, algo que será agravado com a medida agora proposta. Os dados são claros, estão no raio de um relatório do CNE do ano passado e acho um tristeza que isso seja tratado desta forma com – não estou para hesitações – desonestidade intelectual evidente.
Afirmar que, no actual momento, “a transição do 1.º ciclo para o 5.º ano de escolaridade, de um para onze professores, é um salto muito grande, com mudanças bruscas” é objectivamente falso, porque os alunos já têm mais de um professor no 1º ciclo, mesmo se só um é o “titular da turma” e no 2º ciclo a regra será de 7 professores, podendo ser apenas 6 (1 para Port/HGP, 1 para inglês ou Port/Ing, 1 para Mat/CN, 1 para EV/ET, 1 para EMusical e 1 para EFísica). Falar em 11 professores para o 2º ciclo é um disparate enorme. Assim como não parece bem que quem sabe disso assim como da ausência de “choque” dos alunos no 5º ano ao nível do insucesso (que é pouco superior ao do 2º ano), oculte que o “pico” de insucesso no 7º ano poderá vir a ser agravado, e não minimizado com a opção por seis anos de 1º ciclo, quase certamente a apostar nas transversalidades (porque esta corrente de pensamento critica muito, com ou sem razão não é o que interessa mais aqui, a “disciplinarização” do 1º ciclo.
Claro que se vierem a ser praticamente proibidas (e não meramente desaconselhadas) as retenções no 7º ano, como agora acontece no 1º ano, poderão sempre dizer que a diminuição do insucesso se ficou a dever à extensão do 1º ciclo para 6 anos.
Já estou por tudo, já espero tudo, não acredito em praticamente nada destas tretas que se acabam por ir impondo por moerem o juízo ao pessoal tempos infindos até conseguirem que o que acham ser “soluções de futuro” não passem de soluções que deveriam ter ficado perdidas no passado, por estarem ultrapassadas. Claro que me apresentarão exemplos brilhantes de outros países, que terão explicação para as suas evidências não serem as dos dados existentes e não faltarão outras considerações sobre a minha atitude e estreiteza de vistas, mas… wtf.