A Importância da Condição Docente

Li há pouco “numa rede social” (a expressão que agora se usa na comunicação social sempre que não se quer dizer facebook) o presidente do CNE a lamentar-se por não estar a ser dada a devida importância a esta recomendação do CNE sobre a condição docente.

Vou ser muito claro a este respeito, sendo que critico há muito o CNE por se preocupar com toda a gente menos com os professores e, portantossss, senti que um avo (também poderia dizer “alvo” mas é mesmo “avo”) da crítica-lamento me atingia.

  • Concordo com praticamente tudo o que vem nesta recomendação, desde o diagnóstico a boa parte das conclusões e sugestões. É das recomendações com que mais me identifico desde que o CNE é CNE e recomendo mesmo um voto de louvor à conselheira-relatora mesmo se foi a primeira presidente do CCAP, nascido na sequência da terraplanagem da condição docente formalizada pelo ECD aprovado no final de 2006 e que entrou em vigor no início de 2007 com novidades como o professor-titular e aquela deliciosa avaliação do desempenho docente que tão bons serviços prestou à causa da Educação Nacional, em geral, e da Condição Docente, em particular.
  • O que lá vem escrito repete o que muita gente escreve (pelo menos) há coisa de uma década sobre este mesmo assunto, em especial a partir do momento em que em torno da referida Maria de Lurdes Rodrigues se ergueu uma muralha para a defender nos seus ataques à condição docente, tendo servido para esse efeito a sua diabolização por associação a uma dada central sindical, cujo poder era necessário quebrar nem que para isso se fizessem milhares de vítimas colaterais.
  • Esta recomendação encaixa com muita dificuldade em alguma outra produção do CNE em matéria de relatórios e pareceres, desde logo aquele que considera que a dimensão das turmas é pouco relevante para o desempenho dos alunos, despercebendo que o aumento do número de alunos por professor é um dos factores de maior desgaste profissional quotidiano.

Aprecio em especial estas duas evidências que se podem ler na página 12:

A indispensabilidade de sair de uma lógica de tomada de decisão sustentada na crença de que as medidas a introduzir são a melhor solução, sem antes ter compreendido os problemas sistémicos que a sua aplicação acarreta;
 .
Que as reformas e ou os chamados reajustamentos nas políticas não são apenas veículos para a mudança técnica e estrutural das escolas, mas alteram também o que o docente faz, quem ele é, ou seja a sua identidade profissional e social;
Thumbs

9 opiniões sobre “A Importância da Condição Docente

  1. Estive a ler. Algumas recomendações interessantes mas tímidas. Valorizar a autonomia do docente, clarificar lectivo/não lectivo, rever os modelos de gestão, encontrar formas de passagem/transmissão da cultura docente… parecem-me importantes.

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  2. Comecei a ler o teu livro: escrita fluente e agradável. Fizeste bem em enquadrar teóricamente o texto, para que possa vir a ser entendido como documento histórico (a parte mais secante tb,,, mas necessária): há muita gente, critica, que deixou este período em branco, recusando-se a vê-lo; talvez peguem no teu livro agora.

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    1. O enquadramento teórico levou uma bela machadada na fase da “edição”, exactamente por ser considerada “secante” para os leitores comuns. Sendo que me parece que os “leitores comuns” se estarão nas tintas para o livro e muito mais se quase o esconderem em alguns lugares :-).

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    1. O não ser para fazer é adquirido, porque o CNE é meramente consultivo. De qualquer modo, há recomendações que ali estão que são incompatíveis com outras feitas recentemente, bem como com declarações de outros conselheiros, a propósito de assuntos conexos.

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  3. O que isso me parece é simples: com papas e bolos se enganam os tolos.
    A política não se desviou uma linha do que o centrão quer e sobretudo da linha Maria de Lurdes. Arranjaram um ministro com uma carinha laroca, deram-lhe o desporto para andar a dar taças e a ver jogos, e põem por trás dele dois secretários de estado perigosos a trabalhar a fundo. Ela transforma-se em heroína, levantando uma cortina de fumo com meia dúzia de tostões. Aprovo o que está a ser feito, mas é uma migalha. Sobre a condição dos docentes não lhe conhecemos uma linha de pensamento e enquanto vive momentos de glória mantém a norma travão e mantém-nos congelados. Ele vai fazendo política de fundo, desenterrando chavão atrás de chavão do PS mais profundo e que resultou sempre em tramar os professores. Sai à rua para o discurso ideológico, enquanto ela mantém a cortina de fumo levantada. Na minha opinião, estamos perante dois secretários com um peso político subestimado pela oposição e que merecem que estejamos de olho neles. A estratégia entre eles parece-me mais que concertada. Só não consigo perceber se o Ministro faz parte do plano, como cortina maior, ou se é carne para canhão enquanto eles se mexem.
    Entretanto, o CNE faz pareceres para nos pôr a falar bem deles, iludindo tudo o que foi feito. Vale a pena lembrar que Justino e secretário de estado são amigos.

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