É uma escola portuguesa, com certeza. O documento de orientação para as reuniões de final de ano tem 18 páginas e é um hino, uma sinfonia, ou melhor, um requiem pelas pobres almas assassinadas por tanta papelada. Não culpem (só) o ME, porque há mézinhos com alma revestida a alpaca e toda betumada nas comissuras, um pouco por todo o país. O excerto contempla parte das páginas 8-9.
Dia: 24 de Junho, 2016
Curiosidade
Há comentadores e politólogos (whatever that is…) muito europeístas que, ao mesmo tempo, são grandes admiradores de quase tudo o que é política britânica. Ainda não percebi bem de que lado ficarão com o Brexit.
Entretanto, num excelente serviço para acirrar entre nós o euro-cepticismo ou mesmo um forte anti-europeísmo a RTP meteu o Carlos Moedas a falar em prime-time sobre qualquer coisa que não percebi, mas me pareceu muita avançada por ouvi coisas como “plataformas” e “redes”.
O Brexit em Tabelas e Mapas
Material sacado ao The Telegraph; para perceber que há a Inglaterra e o resto e dentro da Inglaterra há Londres e o resto.
Aguardo as teorizações dos nossos analistas oxfordianos e cambridgianos de coração e adopção, aquelas pessoas muito mais inteligentes do que nós só porque respiraram o ar da relva das elites e que certamente por isso e muito mais nos irão explicar tudo como se fossemos patagónios.
Mais (Sucesso) com Menos (Meios) – De Novo
(…)Penso que já é do conhecimento de todos, mas gostava de relatar o que aconteceu hoje numa sessão, supostamente, de formação.Como sabe as escolas foram convidadas a elaborar o Plano de Ação Estratégica para os dois próximos anos letivos, mas de um convite, pareceu-me mais uma convocatória. Enquanto coordenadora de diretores de turma do 3.º ciclo fiz parte da equipa, mas sem grande vontade, porque já não acredito em nada, e porque o calendário não era o mais adequado: 6 sessões de 3 horas, entre os 5 de maio e 14 de junho..Logo no início, ao apresentar o plano, colocámos a questão de a escola poder ter mais recursos; a formadora foi categórica, afirmando claramente que sim..Tivemos uma sessão sobre o Projeto da TurmaMais, outra sobre o Projeto Fénix, outra, com um perito em matéria de estratégias, e depois trabalho de mais de 18 horas de TPC para @s “formand@s”..Entretanto, foi publicado o Edital sobre a medida de “Promoção do Sucesso…”, sob orientação do professor Verdasca (o coordenador da Estrutura de Missão). Para a nossa zona, para uma outra sessão, foi destacada uma das suas colaboradoras para apreciar os planos que foram sendo delineados e dar orientação sobre o preenchimento da plataforma online..Qual não foi a surpresa dos presentes quando a senhora referiu que as medidas apresentadas terão que utilizar apenas as horas de crédito da escola e mais nada. Confirmou que só agora se aperceberam que com a nova fórmula do crédito horário as escolas iriam perder horas do crédito horário. Todos ficámos zangadíssimos por termos tido o trabalho de fazer os planos com pressupostos errados e agora não termos direito a nada. A senhora tomou nota de todos os nossos comentários e disse que os iria transmitir ao professor Verdasca..Numa sessão, em outro local, o próprio coordenador afirmara que não nos preocupássemos com os recursos e que ousássemos sonhar….Perante esta situação, a escola à qual pertenço considerou que assim sendo, não fazia sentido apresentarmos o que quer que fosse e houve mesmo quem abandonasse a reunião. Gostava de saber se tem conhecimento do que está a acontecer noutros distritos/centros de formação...Acho que as escolas estão a chegar a essa mesma conclusão; na conversa que tivemos hoje, uma escola disse que começou a fazer a distribuição de serviço e que em relação ao ano anterior, perde mais de 100 horas. Até põe a hipótese de não oferecer a Oferta Complementar, que temos usado para Educação e Cidadania..A própria colaboradora do professor Verdasca disse e transcrevo “Só agora é que se aperceberam que com esta nova fórmula as escolas perdem horas”. Alguém questionou se ao submeter o plano na plataforma, a escola poderia recuperar o diferencial, mas a senhora não soube responder (em outro ponto do país colocou-se a possibilidade de existirem autorizações específicas para cada plano)..Gostaria de saber quanto se gastou nesta “formação” que mais uma vez não vai dar em nada. Quando comecei, fez lembrar a formação à pressão no tempo dos titulares e das aulas observadas. Cada ano que passa…
Democracia
Podemos não gostar dela e seguir caminhos que não achamos os mais razoáveis. Mas, quando um povo vota contra a indicação da maioria dos seus líderes partidários é porque existe um grande desajustamento entre elites e esse mesmo “povo” por quem tantos gostam de falar. E esse desajustamento dos poderes estabelecidos com os eleitores permite a afirmação de projectos problemáticos como o UKIP.
A Inglaterra (mais do que as restantes nações do Reino Unido) talvez nunca devesse ter sequer entrado na CEE e talvez tivesse sido mais prático terem saído do que andarem sempre a pedir excepções às regras e a ficar de fora de muita coisa. Assim, ficam de fora, de vez, podem gozar da sua excepcionalidade e afirmar a sua singularidade.
Foi uma decisão corajosa e, embora apenas por 51,9%, coerente com uma atitude de recusa daquilo que os seus líderes nem sempre foram capazes de assumir. A Inglaterra não quer ser como a Europa Continental e nunca o quis ser. Em boa verdade, nos últimos 200 anos, a Inglaterra viu-se mais vezes em trabalhos por se meter nos assuntos europeus do que provavelmente desejaria. A sua saída não é uma ameaça à paz, porque a guerra tem sido um hobby da Alemanha e da França.
A Europa fica incompleta, desta forma? Para mim é mais grave que tenha deixado de ser democrática, há muito, entregue a uma nomenklatura com tiques mais do que autoritários que não hesita em triturar as soberanias nacionais. A saída da Grécia seria uma catástrofe para a UE? E agora?
Uma última nota. O Cameron demitiu-se. Fez muito bem.