Ted Cruz é um radical convicto, com uma fortíssima componente religiosa, o representante à medida de muito do que foi o ímpeto inicial da facção Tea Party. Donald Trump é um oportunista convicto, radical apenas no sentido de um papel que ele representa por saber que agrada a um eleitorado americano cada vez mais anti-sistémico. Ted Cruz tem um trajecto político tradicional, um cursus honorum à americana, enquanto Trump é a sua antítese, um tipo que concorreu nas primárias republicanas como poderia ter concorrido nas do Partido Democrata. O discurso de Ted Cruz na convenção republicana é a reacção coerente de alguém que acha que Trump não passa de um oportunista pragmático que tomou o Partido Republicano de assalto para servir os seus interesses pessoais e que não tem convicções políticas firmes. Porque Ted Cruz é muito mais fundamentalista do que Trump e sempre se gabou de nunca ter entrado em compromissos com a administração Obama, enquanto Trump já chegou a ser contribuinte de campanhas dos Clintons. A entrada de Trump na sala da convenção para tentar acabar com o (muito bom, gostemos do personagem ou não) discurso de Ted Cruz foi apenas mais um episódio de um intenso conflito político-pessoal entre uma perigosa coerência política radical e um perigoso oportunismo populista.
Que a Clinton ganhe, para que tenhamos um mundo um pouco mais estável…
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