Saiu na Gradiva um livrinho de Harry Frankfurt (autor de um texto muito bom sobre a conversa de merda, a que chamamos treta quando não queremos ferir sensibilidades) acerca da desigualdade económica.
Para ele, mais do que nos preocuparmos em querer promover a igualdade ou em reduzir a desigualdade económica, deveríamos preocupar-nos essencialmente em reduzir a pobreza. O “conceito” é interessante, mas tem algumas limitações (são várias as críticas que lhe fizeram quanto à superficialidade da análise), visto que “pobreza” é um conceito relativo em muitos casos, quase tantos quanto aqueles em que é definida em termos de desigualdade em relação à riqueza e os mais pobres e os mais ricos são definidos, de algum modo, pela relação de grandeza estabelecida entre o topo e a base da hierarquia material.
Mas o que eu aqui queria destacar é que existe actualmente a tendência para importar “conceitos” e tendências da análise económica (mesmo que apenas filosófica) da Educação para a Economia e este é dos casos mais evidentes em que tal é desajustado. A tentação “liberal” para argumentar por analogia é que mais do que promover a igualdade ou diminuir a desigualdade, as políticas educativas devem diminuir a “pobreza educativa” leia-se “insucesso” ou “maus resultados” dos alunos).
O “problema – se é que o chega a ser – é que em Economia, a “riqueza” é algo sem um limite definido, pode ser sempre aumentada, pelo menos em tese, pelo que a eliminação da pobreza até pode acontecer – em tal perspectiva – ao mesmo tempo que aumentam as desigualdade socio-económicas (no fundo é a trse central associada à bondade dos efeitos da globalização).
Só que em Educação, a “riqueza” tem limites objectivos (100% de sucesso é algo dificilmente suplantável, assim como ter nível 5 ou nota 20 em todas as disciplina), pelo que a redução da “pobreza” implica mais tarde ou mais cedo a diminuição da desigualdade. Existindo um topo a cima do qual não é possível aceder, a subida da base leva a uma diminuição da desigualdade.
Parecendo que não, isto está relacionado de perto com as políticas de promoção agressiva do sucesso escolar e, como outra face dessa moeda, com a estratégia de alguma interesses privados no sector de reduzir o impacto dessas políticas ou de sublinhar as suas insuficiências. Ou seja: em primeiro lugar, se todas as escolas conseguirem atingir um sucesso pleno, ao desaparecer ou reduzir-se muito a desigualdade, desaparece ou reduz-se muito a capacidade de atracção das escolas que se consideram diferenciadas nesse parâmetro; em segundo, se esse acréscimo do “sucesso” for conseguido através de estratégias que levantem dúvidas, permanece o capital diferenciador de tais escolas.
Por isso é que eu acho que as tais políticas muito agressivas de imposição do sucesso escolar a todo o preço nas escolas públicas, se não forem baseadas em processos consistentes e focados na qualidade e transparência dos desempenhos e seus resultados, dificilmente conseguem prestar um bom serviço à Escola Pública e acaba por, mesmo que involuntariamente, manter (ou dar mesmo mais) créditos aos seus críticos e concorrentes.

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