Há uns anos, décadas mesmo, quando eu apresentava esta ou aquela ideia sobre a minha forma (tida como “radical”, menos “fofinha” ou “assertiva” como agora se diz) de encarar o papel dos alunos nas aulas e na escola, não era raro colegas mais sabedores dizerem-me “quando tiveres um@ filh@ verás como mudas de opinião”, como se a parentalidade fosse uma espécie de pós-graduação paralela à profissionalização para um tipo ter uma completa noção das dimensões da docência. Fui pai, por acaso não mudei de opinião no essencial, apenas tendo passado a ter confirmação adicional em relação a algumas das coisas que critico no quotidiano escolar. Há uns meses já largos – não interessa quando, não interessa quem – reparei como um dos nossos mais históricos (e até lúcidos na maioria dos momentos) especialistas em Educação não hesitava em deixar-se fotografar para uma peça de jornal com os netos em redor como se nos dissesse “quando tiverem netos, verão como mudarão de opinião e pensarão como eu que agora já vejo tudo de uma outra perspectiva”. E eu quase pensei… phosga-se… espero que ainda me falte um tempo para tamanha sabedoria.
Mas é que verdade que por momentos me ponho a pensar que… realmente… a quem anda pelas aulas sem se aperceber dos alunos ou a quem por lá não anda há muito, ou vai às escolas em regime de visita vip, ser pai/mães ou avó(ô) é indispensável para rasparem a superfície da compreensão do que são as crianças e jovens de hoje em dia. Mas para quem anda nas aulas, nos corredores, nos pátios e nas ruas de olhos abertos, não é preciso arranjar progenitura ou atingir a vetustez respeitável da avózice para compreender os aspectos essenciais das relações humanas e pedagógicas professor/alunos. Só que realmente há quem ande com os olhos fechados ou ande com eles tão revirados da realidade quotidiana que por vezes talvez sejam mesmo necessários acontecimentos de vida significativos para conseguirem abri-los para a vida como ela é.