Quando o Estado pretende regulamentar o vestuário dos cidadãos em espaços de lazer, públicos no sentido de pertencerem a todos, entramos numa deriva totalitária. Assim como acho que a proibição do nudismo nas praias é um disparate, o mesmo se passa com a tentação de alguns políticos franceses proibirem – ainda mais do que segregarem – formas de vestir que ainda há menos de um século seriam perfeitamente aceitáveis e mesmo dominantes nesses mesmos locais para os “ocidentais”. O tempo mudou e as nossas práticos e gostos também, mas quer-me parecer que ainda na minha infância havia grande incómodo em muita gente de “bons costumes” com o uso de bikinis. Gente que, porventura, agora está contra o burkini, achando que o melhor deve ser o meiokini. Mas tudo isso é pouco relevante quando o que está mesmo em causa é uma tentação totalitária de regular o gosto e as práticas individuais ao nível do vestuário. Isto nem é a apologia de um multiculturalismo relativista, é apenas a defesa dos direitos dos cidadãos perante o excesso de zelo do Estado e a sua intromissão em esferas que não devem nem podem ser as suas.