Há os que têm adquiridos, com direito a retroactivos, e há os outros. Nós.
Dia: 27 de Agosto, 2016
Privados
Quando ouço ou leio críticas à qualidade dos serviços públicos dá-me uma certa vontade de enfiar um balde malcheiroso pela cabeça abaixo de certas pessoas. Ainda não percebi se as pessoas gostam de ser exploradas ou maltratadas por muitas empresas e serviços privados ou se apenas falam para não estar caladas ou por reflexo papagueante. Nos últimos dias choquei frontalmente com a muralha de desprezo de algumas grandes empresas privadas, nacionais e não só, para com os seus utilizadores. Uma rede nacional de venda de livros online há mais de um mês que me envia mensagens a pedir desculpa por não me conseguir arranjar uma obra que dizia disponível em 48 horas; aconselham-me a ir à minha área de cliente se quiser reformular a encomenda, mas… desde a última remodelação, não é visível o acesso a qualquer área de cliente no seu site. Outra empresa, de telecomunicações, a quem comprei um passe para aceder à net durante 24 horas, cobrou a quantia, enviando-me um link para o mail para eu completar o tal acesso, só que… se eu precisava do acesso para aceder à net, só consegui ler o mail quando já não precisava da ligação. Ao menos, nesse caso, pude responder a um inquérito sobre a qualidade do serviço. Para ficar só por três exemplos, a empresa de aviação a que recorri teve o natural atraso que faz parte do protocolo destas alturas, chegando ao destino já depois da meia-noite, de forma que me cobraram uma taxa na empresa de aluguer de automóveis (à qual recorri através da própria companhia de aviação) por levantamento do carro em horário extraordinário. Na altura, passaram-me a factura e aconselharam-me a pedir o reembolso à companhia de aviação. O interessante é que a dita companhia, que não tem escritórios entre nós, só aceita reclamações online e o leque de possibilidades aceites não contempla a situação em causa. Pelo que, a menos que faça exposição por escrito sem qualquer garantia de resposta, é pagar e calar. E nem é bom falar de mais um par de casos que têm feito os possíveis por me chatear os miolos na última semana de férias, tudo à conta da excelência de empresas privadas a operar no mercado com fama de qualidade se formos a acreditar em imprensas especializadas.
Se isto fosse em serviços públicos com certa gentinha arrogante, já tinham voado livros de reclamações e imprecações diversas contra a chulice do Estado e dos seus funcionários e tal. Sendo no sector privado, ainda temos direito a entrevistas dos seus administradores a ensinar-nos o que é o empreendedorismo de sucesso e a aconselhar-nos sobre eficácia e tal.