Só Lá Fora?

Por cá é mais preparar o futuro quando se passa pelo poder político, criando “áreas de oportunidade” a ser preenchidas pelos criadores.

Sealed Wisconsin court documents from Scott Walker investigation expose extent of corporate influence on democratic process rarely seen by the public.

Por cá também se nota muita “ética jornalística” nestas investigações, comprando-se o direito exclusivo a poder mandar para a gaveta o que não interessa divulgar (wikileaks) ou limpando-se as bases de dados de nomes incómodos antes de as abrir ao público (panamás).

Demagogia

O Queirozeze

Pela manhã, na RTP3, o Rodrigo Queirós e Melo teve direito ao seu tempo de antena em defesa da bondade dos contratos de associação, terminando a dizer que eles são a forma de pobres e ricos terem direito à mesma educação de qualidade.

Isto é de uma demagogia e um despudor imenso que ainda se agrava mais quando me lembro que ele foi chefe do gabinete no ME antes de..

Vamos lá por partes curtas:

Os ricos, mesmo ricos, não precisam de contratos de associação para irem para os colégios de sua estimação, confissão ou condição.

Os pobres, mesmo pobres, só com muita água benta (em determinados colégios) e como excepção (em outros, mais laicos) para confirmar a regra é que têm possibilidade de aceder a muitos desses colégios com contratos.

O que significa que os contratos de associação servem para aliviar a contabilidade de alguma classe média em bicos de pés e pretensões a algo, quantas vezes com dinheiro novo, que não se querem misturar com a gentalha que anda no ensino público. Portanto, não entremos pela demagogia de afirmar que se andam a defender os pobrezinhos. Se quiserem desconfirmar-me este preconceito, façam lá o favor de divulgar nos rankings os dados todos que são exigidos às escolas públicas.

Quanto à “cólidade”, muito haveria a debater, desde logo a presunção e de novo água benta das afirmações queirozizianas que, na essência, têm a legitimidade de qualquer profissão de fé interessada de um qualquer lobby do mercado da Educação que lhe sente fugir as conexões certas na circunstância presente.

RQM

Mobilidade por Doença

Leio gente a queixar-se da morosidade burocrática do processo e leio gente a queixar-se de eventuais fraudes neste “mecanismo” do concurso dos professores. Quem há falcatruas? Sim, há, por muito do que se vai ouvindo, mas não sei qual a sua dimensão. Nunca recorri a este tipo de destacamento, nem ninguém cá por casa, pelo que desconheço alguns dos detalhes. Que pode levar a injustiças? Acredito, mas isso não é razão para acabar com esta possibilidade. Porque há quem precise mesmo dela. O que me irrita em algumas queixas? O facto de raramente irem além do “perdi o lugar que queria” ou “ultrapassaram-me” e apresentarem dados concretos sobre as eventuais fraudes. É mais do que óbvio que condeno quem usa deste subterfúgio para ganhar vantagem indevida, mas também acho que é para isso que há inspectores por aí que, em vez de andarem em busca do tempo mal colocado num horário poderiam analisar estas situações. E de forma célere, porque a justiça precisa de ser rápida para ser eficaz.

Madeira

Uma Escola para as Elites

É quase uma regra que quando se fala em escolas inovadoras, para o futuro, etc e tal, se pensa em modelos de escola feitos para uma sociedade ideal, em que as famílias têm tempo e disponibilidade para acompanhar os alunos em casa, os quais têm nela todos os meios necessários para aproveitar as inovações.

Não me venham com a conversa dos telemóveis e que eles quando assim o entendem fazem e encontram o que querem. Não é isso que está em causa. Ultrapassemos a utilização dos comuns lugares argumentativos.

O que está em causa é que muitos conceitos de escolas inovadoras pela via tecnológica parecem estar pensadas apenas para nichos privilegiados do ponto de vista social, económico e cultural. O conceito de sala às avessas (flipped classroom que o Observador traduziu de forma algo criativa por salas a dar cambalhotas) baseia-se num modelo (ler um resumo aqui , vários materiais aqui e os 4 pilares do FLIP – flipped learningaqui) que recorre bastante a conteúdos online para que os alunos prepararem previamente as aulas que depois se tornam mais espaços de debate e questionamento do que de exposição teórica pelo professor. É um modelo que assume que a aprendizagem por via da exposição teórica se faz por meios não presenciais, ficando as aulas para a “construção do conhecimento”.

Eu adoraria que este modelo pudesse ser colocado em prática e até ignoraria os clamores de um qualquer eduardosá contra o que isto significaria de trabalhos adicionais para casa, caso os meus alunos, a larga maioria deles, tivesse as condições para o desenvolver em casa, com apoio familiar e outros meios indispensáveis para que a coisa não passasse por “ver uns vídeos com o stor” ou algo equivalente. Mas não me parece que isto consiga ter uma aplicabilidade generalizável a mais do que umas quantas escolas em ambientes seleccionados. Tipo escolas da Parque Escolar das grandes cidades com learning streets e lares devidamente apetrechados.

Será que estou demasiado descrente e pareço não aderir a nenhuma modernidade pedagógica com  forte componente tecnológica? Pode parecer que sim, visto de fora, mas garanto-vos que, cá por dentro, nada me agradaria mais do que tornar isto possível, mas falo pouco finlandês, o meu alemão é escasso e apesar de alguma fluência no inglês, quer-me parecer que na maior parte desses sítios já terão indígenas habilitados para tal missão.

Por cá, acredito que como experiência-piloto, a aplicar numas dezenas de turmas (nem falo em escolas) com especialistas da DGE a arranjar um acrónimo inglesado para a iniciativa e a monitorizarem a experiência, será certamente um sucesso na auto-avaliação.

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