… daquela noite de enchente e péssima acústica no Dramático de Cascais. E apesar das frequentes vindas do rapaz às nossas terras, desta vez é mesmo só para revisitar os clássicos.
Dia: 15 de Setembro, 2016
É só Fumaça
Que me perdoem muitos colegas, mas… até entendo.
Preocupações
Daquelas mesmo a sério, para além da pequenez dos dias que passam, das repetições que repetidamente repetimos.
A hiper-burocracia que nos submerge sem qualquer freio, aumentando a cada vez que dizem ir-nos simplificar a vida, com procedimentos mais céleres ou o recurso à tecnologia. Ilusão… cada vez há mais papelada, física e virtual, a preencher, a dar conhecimento, a arquivar por enquanto, a arquivar de vez, a acumular ano após ano, até que o processo do aluno se torna uma massa informe de papel com duplicados digitais.
A lógica low cost para a Educação (há leituras da OCDE que só nos podem provocar esgares), que se mantém sem reversão, alegadamente em defesa da eficácia financeira e da boa alocação dos recursos públicos, que há quem diga do Estado e quem diga que são de todos nós, finitos, devendo a sua aplicação ser feita de forma responsável a menos que seja para cobrir os buracos dos mestres do aconselhamento financeiro. A rede escolar ultra-concentrada, a carreira docente congelada, as gratuitidades à condição, o sucesso estatístico a construir-se sobre estacas de barro porque sai caro ser de outra forma.
Mas há quem continue a olhar apenas para a tal asa da mosca que vareja.
Dados retirados dos orçamentos do ME(C)
Concursos
O tema dos concursos para professores já motivou demasiados debates e tinta escorrida. A minha posição é a mesma de quase sempre… sou defensor de um concurso o mais unificado possível – à soviética para os seus detractores – por considerar que é o menos permeável a distorções e manigâncias como as que foram introduzidas ao longo dos últimos anos em todo este processo, em nome de uma pretensa autonomia das escolas e de uma ainda mais pretensa correcção de injustiças resultantes da simples consideração das médias de curso como base da ordenação dos candidatos.
Em relação a estes aspectos vou alinhar alguns pontos muito breves:
Antes de mais, as lideranças também se definem pela forma como conseguem mobilizar os recursos (humanos, neste caso) ao seu dispor para a concretização dos objectivos pretendidos. Se, enquanto professor, eu aceito as turmas e alunos que me são distribuídos e entram pela porta, devendo encontrar as melhores estratégias para alcançar o sucesso, não percebo por @s director@s consideram necessário ter uma margem de escolha alargada do corpo docente das suas escolas e agrupamentos com base em critérios que dependem em muito da subjectividade e dos seus humores e afectos.
Em segundo lugar, se existem distorções nas classificações académicas dos candidatos devido a más práticas (de inflacionamento) das instituições de ensino superior nas classificações dos seus alunos, há a boa hipótese de fiscalizar esses comportamentos e não pretender que vários anos de frequência de um curso podem ser “corrigidos” pela opinião de uma única pessoa que, para isso, tenha o poder de fazer alguém ultrapassar dezenas ou centenas de candidatos a um lugar numa escola.
Apesar de parecer monolítico, o concurso único com lista ordenada (sendo que “único” não é bem verdade, pois existe o concurso interno e o externo, assim como o das mobilidades) com base na classificação académica e tempo de serviço é o que gera menos polémica, menos distorções e menos possibilidades de fenómenos de clientelismo e nepotismo local. Pode parecer um sistema pouco sofisticado, mas a minha maior preocupação não é com as aparências.
Infelizmente, o que há 10 anos parecia claro e transparente já se encontra actualmente contaminado, em especial no concurso para contratação de escola, por uma meia dúzia de anos de experiências algo manhosas que favoreceram candidatos em detrimento de outros, voltando-se a esquemas que fazem lembrar aqueles que antes se denunciavam de “guardar horários” para os candidatos “certos”. É curioso ouvir e ler quem antes criticava isso, defender agora procedimentos que mais não passam do que da legalização da arbitrariedade.
Por fim, mesmo ao nível dos quadros, por falta de coragem política em respeitar a lei da entrada nos quadros de todos aqueles que preenchem os requisitos para o efeito, tivemos a desastrada (será?) “vinculação extraordinária” que fez uma selecção de 603 lugares a abrir que também vieram introduzir alguns atropelos e ultrapassagens pela direita baixa em alguns grupos disciplinares, levando à “efectivação” de alguns (contratados) em detrimento de outros (qzp) que antes estavam em posição menos favorável em virtude do seu tipo de habilitação inicial. Eu sei que o critério foi o tempo de serviço, mas… nesse caso aplicava-se a lei sem travões artificiais porque o princípio da igualdade de direitos foi desrespeitado de forma clara. Poderia gerar despesa adicional, mas nada ao nível de 1% dos desmandos de um salgado.