Por acaso, gostaria de…
Dia: 23 de Setembro, 2016
1986
Era ano de presidenciais. Freitas do Amaral congregava a Direita e assustava toda a Esquerda, dividida entre Soares, Zenha e Pintasilgo. Eu era aluno do 3º ano de História na Nova e tinha como professora de História Económica e Social, Maria de Fátima Bonifácio de crachá ZAP ao peito, verbo tão feroz quanto ortodoxo. Soares era o alvo principal dos apoiantes de Zenha e na segunda volta dos de Freitas do Amaral. Quando agora vejo este último praticamente encostado ao PS nas suas posições e MFBonifácio a escrever textos para lá de liberais a ser partilhados de forma entusiasmada pelos que outrora votaram Freitas, sinto como que uma imensa vertigem, como se o mundo tivesse mudado muito. E mudou, mas não tanto. E interrogo-me sobre até que idade as pessoas são adolescentes no seu pensamento a ponto de assim se justificarem quando dão as piruetas que dão. Todos temos direito a mudar de crenças e fés, mas deveria existir um nível mínimo de… sei lá… consistência?
Nunca Usei
Embora há uns 15 anos, numa escola onde alguém (então conhecido guru regional da Ed. Especial) estava a fazer uma tese, tenhamos passado pela praga de fazer umas folhas com bolinhas coloridas no final do primeiro período para caracterizar todos os alunos de um par de turmas (até se perceber que a partir do 5º ou 6º ia tudo em piloto automático).
É interessante como quem diz não gostar de rotulagens ou categorizações dos alunos e ser contra a padronização dos comportamentos recorre tantas vezes a estas coisas. Havendo lápis de cor, cartolinas, coisas assim, podemos usá-los de forma bem mais útil. Também não pratico os contratos escritos após negociação para que os alunos se portem bem. Há as regras em vigor a nível nacional e o regulamento interno. É tudo olho no olho e na base da relação pessoal. Também não lhes dou torrões de açúcar. Quanto muito um livro.
90 Minutos
Se há algo pacífico e consensual entre a generalidade de alunos e professores do 2º ciclo (e também do 3º) é que as aulas de 90 minutos são, na maior parte das disciplinas, demasiado longas e com muito menos produtividade do que duas de 45 ou 50 minutos. No entanto, como a profissão docente é contada ao minuto, se as escolas exercerem a “autonomia” e regressarem às “velhas” aulas de 50 minutos, há depois minutos que não chegam e horários que desaparecem e a regra é deixar tudo na mesma porque, se umas têm 90 e outras 50 (ou mesmo 45) é uma confusão de entradas e saídas e não sei o que mais. O que significa que os critérios burocráticos se sobrepõem aos pedagógicos porque alguém teve a brilhante ideia – em nome da famigerada eficácia financeira tão cara a quase todos os titulares da pasta que não querem ser acusados de rendidos aos sindicatos e interesses corporativos dos professores – de determinar que o horário do trabalho dos docentes deve ser espremido até ao tutano e já nem falo das concepções criativas do que é trabalho lectivo e não lectivo. O que é pena é que esta curteza de vistas, misturada com revanchismo político e algum espírito micro-corporativo vingativo, se mantém já há uma década, sem que sequer os apologistas da escola do século XXI tenham a coragem e o seu quê de decência de afirmar o disparate desta situação de forma que agora se diz “assertiva”. Querem aulas criativas, abertas, transbordantes, mas sempre com o cronómetro ligado.