Valham-nos os Alunos

Porque será que aqueles que mais tempo passam perante os professores são os que deles têm melhor opinião, apesar de tudo o que se diz. Os alunos portugueses são dos mais felizes nas suas escolas (apesar de existir toda uma clique opinativa a dizer que vivemos em escolas do século XVIII e insensíveis em relação aos interesses dos alunos) e os que têm um melhor relacionamento com os seus professores, os tais que estão velhos, desactualizados, a precisar de ser verdascados para lhes garantirem o sucesso, que entraram na carreira sem uma selecção meritocrática e sem concursos flexíveis ao gosto das lideranças locais.

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Às vezes – quase sempre – penso que não há alcatrão e penas suficientes para… porque no que à vergonha respeita há muito que sei que é bem escasso. E nem me refiro apenas aos que têm a Finlândia ou as liberdades de escolha à holandesa  como faróis divergentes.

Alcatrao

 

Barranco de Surdos?

Parece que há preocupação com o facto de um elevado número de alunos dos cursos profissionais do Ensino Secundário desistirem sem os completar. Fala-se mesmo em “antecâmara” do abandono escolar. E um tipo não sabe se deve rir-se ou chorar. Rir-se do ridículo que é o aparente desconhecimento que esta malta tem do funcionamento dos cursos profissionais e do perfil dos alunos que lá vão metendo, mais ou menos à força dos 12 anos de escolaridade? Ou chorar perante a permanência de tamanha ignorância, apesar de repetidamente se tentar explicar a muita pessoas que a maior parte dos “cursos profissionais” são apenas uma forma de mascarar o abandono escolar e, mesmo quando isso se consegue, de fingir um sucesso completamente fabricado? A meta de aumentar até aos 50% o número de alunos nestes cursos, partilhada pelos últimos governos TODOS, é daqueles disparates que só fazem sentido nas cabecinhas pensadoras que sabem muito mais do que todos aqueles que só conseguem ver o seu quintal e os quintais ao redor. Pior… no Ensino Básico, os cursos pseudo-“vocacionais” foram uma total mistificação e só não foram uma “antecâmara” para o abandono porque todos os envolvidos nas escolas, das direcções aos professores e formadores, passando pelos DT, se viram condicionados para fingir que as faltas não eram bem faltas ou que eram justificáveis e que tudo poderia parecer o que não foi. O mesmo com o aproveitamento, em particular quando se percebeu que os vocacionais se iam finar e só os alunos com 100% dos módulos poderiam transitar para os “profissionais”. E foi um fartote de recuperações de módulos em atraso, quantas vezes com muitos meses ou anos de prazo. Pactuámos quase todos com este enorme fingimento que é a pretensão de ser possível termos um ensino vagamente pré-profissional no Ensino Básico e ele estender-se a 50% dos alunos no Secundário? Sim, porque estes eram alunos que se limpavam das pautas das provas finais e exames e isso favorecia a avaliação das escolas. E internamente produzia-se sucesso e maquilhava-se o insucesso e mesmo formas mais constantes intermitentes de insucesso para evitar inspecções muito rigorosas com a preservação do artifício. Sim, temos sido quase todos cúmplices, mas ainda há quem tenha dito desde o início que o modelo era errado e só funcionaria na base da ficção.

Antecâmara? A sério? Descobriram isso agora porque um terço dos alunos não completou os cursos? Se fossem ver com mais atenção descobririam que completá-los mesmo a sério nem um terço. Mas há uma autêntica câmara escura onde escondem os retratos incómodos, a menos que seja depois da asneira feita e para apontar o dedo a outrém.

Mas, provavelmente, sou eu que sou demasiado crítico e só vejo o copo meio vazio quando ele está quase todo vazio, em vez de dizer que há muito potencial para o seu preenchimento. Os nossos decisores políticos e muitos especialistas em Educação são excelentes no estudo da evidência e na conclusão do óbvio quando não é possível demonstrar que a água é vinho e que o coelho que nem a luz do dia viu em vida é lebre selvagem e fugidia.

Mas podemos continuar todos a fingir, agora com um colaboracionismo mais alargado do alargado arco da governação e a acusar quem vê e fiz o que vê de não conseguir ver o grande cenário da macro-coisa e da eficácia financeira do sistema que pode produzir estatísticas a baixo preço.

Porque o insucesso é caro e verdascam-nos às esquerda com os milhões por ano ajustados à direita, dizem que 600 ou ainda mais, bastando para isso adulterar uns factores da multiplicação dos 150.000 por 4.000.

PG Verde

Momento de Poesia

I saw a newspaper picture from the political campaign
A woman was kissing a child, who was obviously in pain
She spills with compassion, as that young child’s
face in her hands she grips
Can you imagine all that greed and avarice
coming down on that child’s lips
Well I hope I don’t die too soon
I pray the Lord my soul to save
Oh I’ll be a good boy, I’m trying so hard to behave
Because there’s one thing I know, I’d like to live
long enough to savour
That’s when they finally put you in the ground
I’ll stand on your grave and tramp the dirt down

Conversa da Treta

Em tempos, o ex-ministro David Justino considerava que a sua posição junto do PR Cavaco Silva o impedia de tomar posições claras em matérias como a Educação. Embora isso não o tenha impedido de ir mostrar a sua solidariedade a Maria de Lurdes Rodrigues quando do lançamento do seu livro de auto-glorificação sem contraditório. Agora, enquanto presidente do CNE, acho que deveria manter pelo menos uma parte dessa atitude de algum decoro institucional. Percebo que lhe apeteça disparar contra as “ineficiências” e os “radicais despesistas”, mas seria interessante avaliarmos até que ponto a “treta” não se poderá também aplicar a outros parâmetros da despesa, como sejam alguns (sublinho alguns) “estudos” (com chancela exclusiva do CNE ou em parceria público-privada) feitos à medida e com as conclusões inscritas, mesmo que de modo implícito, na encomenda. Concordo que não é gastando mais que se tem automaticamente melhores resultados, mas a inversa também é válida, ou seja, não é por se reduzir a ineficiência financeira que o sistema fica “melhor”, a menos que estejamos na lógica do merceeiro, de contabilidade (que alguns até poderiam chamar salazarista) simples do deve/haver detalhada em folhas de papel almaço quadriculado. Já quanto a “alocar” melhor as verbas, precisaríamos de muitos milhares de horas de forma “em exercício” para fazer perceber aos decisores – presentes, pretéritos e futuros – que nem tudo o que eles pensam são pérolas e nem tudo o que os outros acham são tretas. Às vezes, porventura, quiçá, será ao contrário, embora eu saiba que parece mal e não me faz ganhar créditos escrevê-lo assim.

Conseguem-se melhores resultados com políticas claras, não preconceituosas, atentas à realidade. E por atenção à realidade eu escolheria, dentro da lógica discursiva de David Justino nos últimos anos, a da “qualidade” dos professores que ele insistentemente consegue quantificar com um intervalo bastante curto. Coisa que um professorzeco raso como eu, doutorado mas pouco em História da Educação, poderia dizer sem consequências, mas que um presidente do CNE deveria ter mais cuidado em afirmar, mesmo que em ambiente de plateia de convertidos à lógica da governança educativa por excel. Claro que ninguém lhe terá chamado a atenção para o facto desses 10-15% de professores ao que parece mentecaptos não terem sido ainda detectados e objecto de purga com base no brilhante modelo de avaliação do desempenho legislado pela sua amiga Maria de Lurdes Rodrigues e continuado por Nuno Crato. E não me venham sempre dizer que isso não aconteceu por causa dos sindicatos e das manifestações de professores. Ou que é possível fazer uma selecção dos melhores a partir dos humores de um modelo de contratação centrado nos directores, porque a autonomia não deve ser isso.

Treta a mim parecem-me, como já acima disse, estudos e relatórios “técnicos” e “científicos” que – com uma sofisticação metodológica que não está ao alcance de qualquer um, muito menos ao meu – se baseiam em valores completamente ficcionados, como aquilo de um contratado custar ao Estado um valor 30% ou mais acima do que é o seu salário bruto em 14 meses. E depois exportarem esses dados para a OCDE ainda com maiores distorções. Ou sublinharem a desigualdade de remunerações entre a base da carreira e um topo em cujo escalão não está nenhum professor. Ou contarem, para efeitos de total de docentes em exercício, várias vezes o mesmo professor contratado que esteja em 2 ou 3 escolas diferentes para ter horário completo e remuneração líquida de 15.000 euros anuais se tiver subsídios.

E nem é bom falar das bruxas que de repente assombram certos textos que, pelo menos, assumem com clareza ao que andam, ao contrário de quem quer ser vizir em vez do vizir, embora diga que não, que apenas se satisfaz em ser eminência. Laranja.

E como é que, afinal, este post até tem a ver com o tema dos anteriores…

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Por Falar em Hipocrisia

O José Barroso anda a dizer que está a ser discriminado por ser português. Phosga-se… qualquer português minimamente decente é que se sente discriminado por ele ainda não ter mudado de nacionalidade e envergonhar o país, assim em linha recta, há coisa de uns 15 anos, para não incluir coisas angolanas e emeérrepepianas mais antigas, que essas lhe desculpam muitos, porque foram demasiados a fazer o mesmo.

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Direito à Hipocrisia

As vestes andam a ser rasgadas à esquerda e à direita por causa do livro do arquitecto Saraiva, ex-director do Expresso e actual director do Sol. É interessante como, de súbito, todos partilham dos mesmos princípios éticos e deontológicos. O semprético Daniel Oliveira, no programa Sem Moderação, levou a teoria da separação entre a vida pública e privada ao seu extremo defendendo o direito à hipocrisia de quem pode defender para a sociedade soluções que não pratica na sua vida privada. E os colegas de programa presentes, João Galamba e Francisco Mendes da Silva, abanaram as cabecitas em anuência e concordaram que se pode ser homossexual e homofóbico, por exemplo, mas que uma coisa é o que é em privado e outra o que se assume em público. É pá… esqueçamos o arquitecto Saraiva e que fique bem claro que discordo desta forma sonsa de colocar as coisas. Para mim, há todo o direito a essa hipocrisia, mas há também o nosso direito a conhecermos os hipócritas. Porque o exacto exemplo que deram é um dos mais presentes na nossa sociedade (conservadores homossexuais que em público são contra os direitos dos homossexuais e liberais – em termos de costumes – que defendem esses direitos enquanto em privado os cobrem de vernáculo degradante*. E eu reconheço que existe esse direito à hipocrisia. O que também defendo é o direito a sabermos que certas figurinhas que por aí andam não passam de uns hipócritas de primeiro escalão, sendo isso relevante para a nossa avaliação do seu carácter e coerência. Porque não se trata apenas de assuntos de cama, que são aqueles que parecem fazer cócegas a mais gente, porque quando se trata de outros temas menos carnais embora bem materiais, já nem se preocupam. Resumindo: sejam hipócritas à vontade, mas não acumulem com a cobardia. E muito menos se encubram com a ética, coitada, que não precisa de por vós ser enlameada.

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* – Conheço nomes, mas não sou arquitecto jornalista como o Saraiva. Outros espécimes são os defensores dos direitos dos professores quando dá jeito e tal, mas que, podendo fazê-lo sem alarido, os amesquinhariam para se vingarem de eventuais recordações de um qualquer episódio menor do seu pobre passado. Também conheço nomes e não poucos, um deles mesmo ali.