Infantilização Parental

Assisto a ela com alguma frequência, quando os pais acham que o seu papel é quase exclusivamente o de serem muitos amigos e compinchas da sua descendência, não entendendo que os miúdos precisam mesmo de alguém que assuma o papel de adulto na sua vida. Convivo actualmente, com alguma proximidade, com um duo parental que parece incapaz de entender que as crianças pequenas precisam de liberdade mas também de uma estrutura – ao nível dos tempos para brincadeira, dormir, etc – para que se consigam definir e sentir segurança a médio prazo. É terrível ver, passados alguns anos, os efeitos desta atitude e desta demissão – incapacidade? – dos adultos se assumirem enquanto tal, como se isso fosse um acto horrível de autoridade, confundida  com autoritarismo.

adulto

Lógica de Professorzeco de Quintal

O que em seguida se apresenta não é o resultado de um estudo científico-técnico ou técnico-científico pois eu tenho apenas uma ou duas publicações com peer review e nunca fui fellow ou visiting qualquer coisa algures e muito menos as faculdades por onde passei tinham nomes em estrangeiro, pelo que, sem sarcasmo e com objectividade factual, não me posso considerar investigador e os meus escritos não passam de empirismos de gajo míope e letrado apenas em livros e não em tertúlias.

Apesar disso, ouso escrever o seguinte:

Um aluno fica retido – e vou restringir-me ao 2º e 3º ciclo – quando um conselho de turma de 7 a 12 pessoas (mais ou menos cabeça) decide que ele não cumpriu as aprendizagens razoavelmente expectáveis de acordo com a parafernália de metas definidas para as disciplinas curriculares. O que, nos tempos que correm, significa que o aluno se ficou pelos 30-35-40% do desempenho desejável em quase metade das disciplinas (sim, os alunos só chumbam, depois de muita conversa e negociação, em grande parte das nossas escolas, quando têm para aí umas 5 “negativas” e agora nem assim será). E, sublinhe-se, tal não transição/retenção, por ser tida como lesiva dos interesses do Estado na sua vertente financeira, terá de ser justificada pelo Conselho de Turma como uma anormalidade de papelada, de diagnósticos a propostas de planos, mais os relatórios da praxe burrocrática.

No ano seguinte, esse aluno frequenta novamente o mesmo ano de escolaridade e espera-se que – excluindo daqui os que praticam o abandono escolar convicto e subregistado ou o total desinteresse por qualquer modelo de escola, do século XII ao XXII – possa vir a melhorar o seu desempenho numa proporção que, para sermos ambiciosos, poderá chegar aos 50%. O que significará que irá conseguir atingir um desempenho entre os 45 e os 60% no ano seguinte, podendo vir a transitar, caso o consiga em mais de uma ou duas das disciplinas em que tivera nível 2 no ano anterior. Claro que é chato ter de fazer de novo as disciplinas em que teve 3 ou mais, mas é o sistema que temos. Mas… voltando ao que escrevia, só por toques de magia sublime, este aluno será melhor do que outro que apresente, de forma regular, um desempenho de 70-80-90% ao longo dos anos, com aprendizagens consolidadas de forma regular.

Ou seja, a retenção de um aluno pode torná-lo melhor, desde que devidamente aproveitada por todos (incluindo-@ a ele ou ela), do que era, mas não necessariamente melhor do que a generalidade dos seus novos (ou antigos)  colegas. Constatar isto é algo que faz parte do conhecimento construído ao longo de alguns anos de prática docente, como regra com naturais excepções. Apresentar tal como um comprovativo indesmentível da desnecessidade da retenção e da sua inutilidade pedagógica é um quantum leap lógico-dedutivo que só está ao alcance dos especialistas e investigadores com uma dose de pensamento mágico-político-demagógico-académico que excede largamente a minha quota disponível.

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