O que em seguida se apresenta não é o resultado de um estudo científico-técnico ou técnico-científico pois eu tenho apenas uma ou duas publicações com peer review e nunca fui fellow ou visiting qualquer coisa algures e muito menos as faculdades por onde passei tinham nomes em estrangeiro, pelo que, sem sarcasmo e com objectividade factual, não me posso considerar investigador e os meus escritos não passam de empirismos de gajo míope e letrado apenas em livros e não em tertúlias.
Apesar disso, ouso escrever o seguinte:
Um aluno fica retido – e vou restringir-me ao 2º e 3º ciclo – quando um conselho de turma de 7 a 12 pessoas (mais ou menos cabeça) decide que ele não cumpriu as aprendizagens razoavelmente expectáveis de acordo com a parafernália de metas definidas para as disciplinas curriculares. O que, nos tempos que correm, significa que o aluno se ficou pelos 30-35-40% do desempenho desejável em quase metade das disciplinas (sim, os alunos só chumbam, depois de muita conversa e negociação, em grande parte das nossas escolas, quando têm para aí umas 5 “negativas” e agora nem assim será). E, sublinhe-se, tal não transição/retenção, por ser tida como lesiva dos interesses do Estado na sua vertente financeira, terá de ser justificada pelo Conselho de Turma como uma anormalidade de papelada, de diagnósticos a propostas de planos, mais os relatórios da praxe burrocrática.
No ano seguinte, esse aluno frequenta novamente o mesmo ano de escolaridade e espera-se que – excluindo daqui os que praticam o abandono escolar convicto e subregistado ou o total desinteresse por qualquer modelo de escola, do século XII ao XXII – possa vir a melhorar o seu desempenho numa proporção que, para sermos ambiciosos, poderá chegar aos 50%. O que significará que irá conseguir atingir um desempenho entre os 45 e os 60% no ano seguinte, podendo vir a transitar, caso o consiga em mais de uma ou duas das disciplinas em que tivera nível 2 no ano anterior. Claro que é chato ter de fazer de novo as disciplinas em que teve 3 ou mais, mas é o sistema que temos. Mas… voltando ao que escrevia, só por toques de magia sublime, este aluno será melhor do que outro que apresente, de forma regular, um desempenho de 70-80-90% ao longo dos anos, com aprendizagens consolidadas de forma regular.
Ou seja, a retenção de um aluno pode torná-lo melhor, desde que devidamente aproveitada por todos (incluindo-@ a ele ou ela), do que era, mas não necessariamente melhor do que a generalidade dos seus novos (ou antigos) colegas. Constatar isto é algo que faz parte do conhecimento construído ao longo de alguns anos de prática docente, como regra com naturais excepções. Apresentar tal como um comprovativo indesmentível da desnecessidade da retenção e da sua inutilidade pedagógica é um quantum leap lógico-dedutivo que só está ao alcance dos especialistas e investigadores com uma dose de pensamento mágico-político-demagógico-académico que excede largamente a minha quota disponível.
Como professor@ podes invocar os teus conhecimentos de psicologia educacional.
No desenvolvimento dos alunos e pessoas em geral podemos considerar o desenvolvimento intelectual e o emocional. Nada de estranho.
Acontece que a compreensão de certas matérias e ideias só são possíveis em determinadas condições: quando há pré-requisitos, preconceções, conhecimentos anteriores que deem sentido a um determinado conhecimento especifico ou quando há um correto desenvolvimento da capacidade de abstração ou raciocínio. – o que há de estranho nisto? Acontece que há alunos em determinados anos que não tem capacidade intelectual para adquirir determinados conhecimentos por razões intrínsecas ou mesmo extrínsecas e o apoio do professor pode não ser suficiente para suprir lacunas demasiado pronunciadas.
Por outro lado, por vezes há razões emocionais, desde traumas a situações problemáticas familiares ou pessoais ( desde um simples divorcio, á morte de uma avó até situações de buliyng…) que em determinado ano podem impedir que o aluno se concentre nos estudos.
Penso que o desenvolvimento intelectual e emocional, se compreendidos e estudados pelos Especialistas, são os responsáveis mais lógicos dos chumbos. Estes alunos precisam de mais tempo para chegar ao mesmo ponto de desenvolvimento dos colegas se persistirem e se empenharem. Dificilmente ficam em vantagem, obviamente.
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https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/4758/1/5%20-%20Efeitos%20da%20retencao%20escolar,%20segundo%20os%20estudos%20cientificos,%20e%20orientacoes%20para%20uma%20intervencao%20eficaz-%20Uma%20revisao.pdf?ln=pt-pt
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Estes estudos todos aqui contradizem o empirismo, em parte. Penso que o problema está na metodologia. Se quiserem explorar podem perceber o que digo.
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Queria acrescentar que conheço outros modelos de organização de turmas e transição de ano, como a que se baseia em idades e já era usada há maias de 100 anos. Tem prós e contras, sendo o principal defeito assumir que os alunos têm todos o mesmo nível de desenvolvimento com a mesma idade.
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É na verdade um problema complexo. Por um lado os estudos não me parecem seguir uma metrologia adequada : eu apostaria num estudo a longo prazo, a x alunos durante todo o básico, que tivesse em conta a sensibilidade empírica e a validasse ou rejeitasse.
A resposta que dei acima parece-me uma boa hipótese de trabalho. gostaria de a ver testada num estudo verdadeiramente Cientifico.
assim ficaria a saber se a minha hipótese é válida.
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Boa malha.
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É também o que penso: https://escolapt.wordpress.com/2016/09/26/novamente-os-chumbos/
Há alunos, eventualmente a maioria, que pouco ou nada ganham com uma retenção.
Mas há outros a quem uma retenção pode torná-los melhores alunos do que eram até aí. Já tive, como professor no terreno, casos desses, e sei portanto do que estou a falar. Coisa de que os especialistas de gabinete e de estatísticas requentadas made in OCDE não se podem gabar…
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