Uma das tendências recentes mais interessantes foi o regresso do interesse por cultivar pequenas hortas, em espaços urbanos ou mesmo em zonas semi-rurais, entregues ao mato e agora recuperadas. Conheço alguns desses espaços, com acesso através de carreiros simples, com vedações simples de canas ou pequenas ripas, onde as pessoas vão fazer um pouco de relaxamento da velocidade quotidiana ao fim do dia, num espírito de regresso possível a alguma natureza.
Há uns meses soube que iam criar uma zona desse tipo, numa zona verde junto à urbanização onde vivo. Porreiro, pá! Não preciso, mas acho bem. Em vez de andarem a empaturrar as estradas a conversar sobre rodas, sempre podem gastar um pouco de tempo a cultivar umas couves e uns nabos aparentados.
Só que… qual não é o meu espanto quando percebo que estas hortas são de estirpe beta, do género ai, amigos, precisamos de um carreiro bem largo para não sujar os pés, por isso arranquemos lá aquela oliveira que fica a atrapalhar o caminho para meter uns bloquinhos de cimento. Ou, ricos, queridos, precisamos de um estacionamento pós jipes e pós carros de roda alta mesmo ali de frente pó carreiro que é para não nos cansarmos, cruzzzzzzes, não podem fazer isso ali em cima daquele bocado de terra e erva inútil?
Confesso que aguardo pelas escavações para meter postes de luz de alta potência e canalização pó gás para as cozinhas rurais vintage e lanches gourmet.
Não me gozem, isto não sou eu a ter mau feitio, é mesmo haver gente que de hortas só tem o espírito de selfie liofilizada mas tem a sorte de ter um belo contacto junto dos poderes locais, porque ali há malta a trabalhar há dias naquilo, mas em contrapartida há passeios com pedras soltas e buracos a poucas centenas de metros (e que dizer dos candeeiros com lâmpadas fundids?) que ninguém se preocupa em tapar porque, provavelmente, não será diante da horta da madame pitucha da quitucha e do seu amado shôdôtôr depilado de vasconcelos e lycróléu. Com jeitinho teremos os afonsinhos e as mariazinhas com os seus canitos a estrumar o terreno em volta (porque nas hortas será tudo compostagem perfumada) com os caganitos, o que será sempre uma vantagem em relação a fazerem frente as casas alheias, ali bem à vista no empedrado, enquanto displicentemente instagramam o pôr do sol sobre o horizonte. Ou sob, ainda não se decidiram como fica melhor a semântica figurativa da coisa.
ópá! não me gozes que as minhas alunas são mesmo assim: tenho horta biológica e tal…na escola. Mas deu-me um grande gozo ver a minha melhor aluna (esta vai a Medicina…) a cavar que nem gente grande. Com tanta garra como se estivesse a estudar para o teste de Biologia!
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Mas também têm medo de sujar as solas dos sapatos?
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pois…:P depois levam um berro e vão lá! 😀 mas aprenderam…agora já estão no secundário…
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