Chacina

As palavras perderam qualquer relação com o que já significaram. Apesar de todo o dramatismo do que se passou em Arouca, a forma como algumas televisões andam a tratar o episódio é completamente delirante. “Banho de Sangue” é logo o que a CMTV anuncia e, para não perderem as audiências sequiosas de horas com malta da GNR de costas para a câmara e de frente para uns silvados e matagais onde a maior criatura é capaz de ser um ratito perdido, as restantes vão atrás. E “chacina” é a hipérbole que se segue.

Pela manhã, na TSF, gostei do representante das forças policiais destacar de forma repetida que existia um “forte dispositivo na área”, fazendo-me pensar numa qualquer modalidade de suspensórios ou de coquilha.

blood

Relatividade É…

… anunciar-se a contratação (em que termos, a 2,91€ a hora, 4 horas por dia?) de 300 auxiliares de acção educativa para mais de 800 agrupamentos e escolas não agrupadas e isso ser encarado como uma medida que resolva o défice das escolas públicas em termos de pessoal não docente.

… apresentar-se uma proposta de emagrecimento curricular sob o lema do centramento do currículo e dos programas em aprendizagens “essenciais” e isso ser visto como natural por quem gritaria aos sete ventos e oito mares se tal medida tivesse sido anunciada há 2 ou 3 anos.

Anda por aí muito einstein. E nem falo dos schrödingers para quem o gato está sempre fora e dentro da caixa, no melhor dos dois mundos.

É o bem maior que está em causa.

Têm-nos presos e bem presos pelos spirous é o que é e só podem piar fininho.

relatividade

Mais uma Voltinha no Carrossel

E lá vamos nós em modo “suave” ver os programas mudar mais uma vez, mas agora como se não mudassem e apenas se restringissem ao essencial. É uma espécie de regresso ao conceito de “programa mínimo” como o conheci, enquanto aluno, no início dos anos 80. Podem consensualizar o que bem entenderem, mas a verdade é que uma coisa é corrigir erros do programa de Matemática ou implodir certas metas do Português (como aquela da leitura o minuto, verdadeiro atentado à inteligência), outra coisa falar em “currículos essenciais”.

Até porque é um contra senso que se queiram  «promover “competências de nível mais elevado” entre os estudantes, como o “pensamento crítico”» com base em aprendizagens mínimas. Como se fosse possível chegar ao Nobel da Física sabendo apenas a estrutura do átomo e pouco mais, já que tudo isto parece uma caricatura de raciocínio.

Competências de nível mais elevado implicam aprendizagens mais exigentes, mais completas e não encurtadas, caso contrário é um “pensamento crítico” à medida de quem define o que é essencial, amputado. Então em História, o que se elimine dos conteúdos é todo um programa sobre o pensamento que se pretende truncar, eliminando conhecimentos que possam atrapalhar as lógicas de sentido único. O pensamento crítico só se constrói sobre informação ampla e devidamente tratada, não com o que seria considerado um “back to the basics” se fossem outros a defender esta formulação de “currículos essenciais”.

Eu até entendo o que possa estar a passar pelas cabeças muito bem intencionadas de algumas pessoas, mas a verdade é que, no terreno, toda esta conversa sobre “pedagogia diferenciada” se tem traduzido em estimular a existência de turmas e grupos de nível, ou seja, fenómenos de micro-segregação escolar completamente contrários ao que é verdadeiramente uma diferenciação pedagógica em sala de aula, assente num trabalho cooperativo (agora diz-se colaborativo) entre os alunos com diferentes ritmos e estilos de aprendizagem, não os separando à boa e velha moda antiga.

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